Madame Maria Slodowska
Guri, uns oito, nove anos, folheava o Almanaque da Juventude. Entre a história do dirigível Zepelin, de curiosidades sobre os golfinhos e a construção de um avião pelos sobreviventes de um acidente aéreo no deserto do Saara, deparei-me com uma mini-biografia de Madame Curie, Marie Curie, nome que a polonesa radicada na França adotara depois de casada.
Àquela pequena altura da vida, ainda não havia ouvido se falar em química e física, para mim, era uma referência à Educação Física, uma das minhas aulas preferidas. Me lembro bem da imagem de Madame Curie que estampava a matéria. Um vestido cinza, cabelos grisalhos presos em coque, olhar sereno, séria sem ser sisuda.
Pela primeira vez lia sobre radioatividade, Prêmio Nobel, além das duas ciências de que falei no parágrafo anterior e, devo confessar, levei anos até entender o que eram aquelas coisas. Aquela mulher me causou uma sensação maravilhosa do que é o conhecimento, de onde a disciplina e a curiosidade, juntamente com a inventividade, podem mudar o mundo. Marie, na minha inocente visão infantil, não era uma mulher, era uma cientista, uma mente brilhante que ajudara a mudar o mundo. O que seria da medicina, por exemplo, sem suas descobertas?
Foram dois Prêmios Nobel. DOIS! Não um, o que já seria um feito extraordinário para qualquer cientista, mas dois. Em 1903 o de Química, em 1911 o de Física. A vi como mulher apenas alguns anos depois, depois de contaminado pelas porcarias com que a vida e os adultos nos entopem.
Por outro lado, comecei a ter conhecimento do quanto as mulheres eram discriminadas (as mulheres de hoje podem até reclamar, mas se se colocarem no lugar daquelas que viviam há um século, como Madame Curie, perceberão quanto avançaram). Passei a perceber que o gênero pode determinar o sucesso ou o segundo plano, coisas de machos idiotas no comando.
Graças a ela passei a olhar outras mulheres com olhos de maior admiração. Independentemente das causas que defendiam ou da profissão que exerciam Indira Gandhi, Golda Meir, Pagu, Ana Néri, Maria Quitéria, Nélida Piñon, Agatha Christie, Chiquinha Gonzaga e tantas e tantas outras me causaram e causam impressões de admiração e respeito.
Graças a elas passei a dar muito mais importância às que têm conteúdo, cérebro, conhecimento, talento, coragem, do que às que têm apenas cara alisada, bunda e silicone. As primeiras me inspiram, as outras podem até atrair meu olhar, mas jamais minha atenção.
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A Lunna convidou e eu não quis ficar de fora.
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