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segunda-feira, junho 13, 2005

Artes de moleque

Comentando num blog de um amigo (de quem foi mesmo?) relembrei de algumas artes de criança cometidas por esse que vos fala. Algumas não são nada originais como colocar bombinhas no rabo do gato ou derrubar um coleguinha que tentava equilibar-se sobre o muro. Outras eram bastante divertidas. De qualquer maneira, fugindo da temática de sempre, achei que poderia dar um bom post. Não sei se a qualidade do narrador fará jus à graça dessas artes.

Como morador de cidade do interior de Rondônia, que ainda hoje tem várias cidades iluminadas por grupos-geradores, mesmo tendo mais rios do que terra, era comum a falta de energia. Quando isso ocorria era a hora desse fantasma sorrateiro se esconder e dar sustos em quem desse a má sorte de passar perto do meu esconderijo. Confesso que levei muitos cascudos, mas persistia na brincadeira. Era muito engraçado ver as caras dos assustados como se perguntando-se "o que foi isso?", "acabou-se o mundo?", "é o cramunhão?".

As principais vítimas eram meus irmãos. O problema é que quando recuperavam-se do susto sempre vingavam-se com cocorotes com os nós dos dedos. E aí eu me vingava pregando outros sustos. Que falta de criatividade e de senso de humor dos meus manos...

Aprontei várias. E, devo confessar, ainda hoje apronto de vez em quando. Uma das mais novas (além dos trotes ao avesso que alguns devem lembrar-se do velho Esculacho) e mais engraçadas, pelo menos pra mim, deu-se há poucos meses com minha vizinha de porta.

A porta do meu apartamento fica de frente para a dela, muito perto, portanto, um do outro.

Minha amiguinha um dia resolveu adotar um poodle. A maioria de vocês já deve ter dado de cara com um desses saquinhos de pulga latedores. E como são latedores. Os caras abrem a gritaria, sim porque aquilo não é um simples latido, é gritaria mesmo, por qualquer coisinha. E isso me irritava às duas da manhã mais do que choro de bebê.

Numa noite descobri que cada vez que eu me aproximava da porta o pequeno animal, menor mil vezes que o barulho que produz, abria o latedor. Fiz um teste me aproximando bem devagar e o resultado foi o mesmo. Não sei se pelo faro, embora o faro dos poodles não seja lá grande coisa e nem meu mau cheiro seja tão acentuado, ou pela audição aguçadíssima, o cachorro percebia minha presença onde nem detectores de presença de bancos perceberia.

A vingança estava armada!

Numa sexta-feira fui à locadora e peguei vários filmes. O suficiente para manter-me ocupado por muitas e muitas horas. Na passagem pela padaria comprei dez garrafinhas long-neck de Skol e vim já com o plano arquitetado.

Assistindo ao filme apertava a tecla pause e vinha pé-ante-pé até a porta e apenas tocava nas chaves. Era a senha para começarem os latidos. Junto com eles vinham os gritos da dona mandando o bicho calar-se.

Saia do quarto para o banheiro e tocava nas chaves. De volta do banheiro tocava nas chaves. Ia a geladeira pegar uma cerveja e tocava nas chaves. Voltava da cozinha e fazia a mesma operação. Levantava sem motivo nenhum apenas para tocar naquele penduricalho. Nem eu mesmo escutava meus passos, muito menos a vizinha, mas o cachorrinho estava ligadíssimo. Nunca ri tanto por tantas horas seguidas.

Esses vãos e vens duraram até quase o amanhecer.

O chato é que esse brinquedinho só durou uma noite. Desde o dia seguinte nunca mais vi o pobre e vigilante poodle.

P.S.: O Poetrando está atualizado.

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