Quando um pai diz ao filho “você faz tudo errado! Por que não faz como o seu irmão?”, ou quando o professor repreende um aluno que não respondeu corretamente uma questão, sugerindo que ele faça como um dos colegas que têm notas melhores, sua intenção pode até ser boa, mas o método, definitivamente, não o é.
O simplismo nos leva a fazermos comparações absurdas, daquelas que não fazem qualquer sentido. Os amantes do futebol, por exemplo, costumam comparar Pelé e Garrincha. Existe um “futebolômetro” para medir qual dos dois foi o melhor? É como comparar Ayrton Senna e Piquet. Baseado em quê se faz esse tipo de comparação? Elas são feitas, na maioria das vezes, baseadas em gostos pessoais e não numa avaliação técnica, algo que poucos de nós são capazes de fazer, embora todos achemos que sabemos tudo de futebol ou de Fórmula-1.
Quando a coisa fica apenas no campo dos gostos e das paixões pessoais, menos mal, mas quando entra pelos campos mais sérios do convívio social ou quando os debatedores não têm bom senso ou civilidade suficientes para aceitar o ponto de vista alheio, aí a coisa pode descambar para a agressão, duelos físicos longe da boa convivência social.
Quando os jornais noticiaram que um apresentador de televisão havia perdido seu relógio Rolex, de milhares de reais, num assalto e que colocara nos jornais uma carta aberta protestando contra a violência urbana, muita gente se manifestou com desdém, do tipo “mas ninguém fala nada dos trabalhadores que perdem a carteira num assalto de ônibus”. Não é bem assim. Os jornais estão muito mais recheados de violências contra os cidadãos comuns do que contra celebridades. Além do mais, não é porque um pai de família pobre foi assaltado que o assalto ao apresentador é menos grave. Ambos são cidadãos e devem ter sua segurança garantida pelo Estado.
Há dias o assunto mais comentado em quase todos os meios de comunicação do país é a morte da garotinha que foi atirada do sexto andar do prédio onde morava seu pai. O caso é sério? Claro que sim. E deve ser investigado a fundo e seus algozes devem ser presos e pagar pela monstruosidade cometida. Dois dias depois do assassinato dessa criança, em Vila Velha, Espírito Santo, uma outra garotinha foi atirada do quarto andar pelo pai bêbado e desequilibrado. Numa discussão entre adolescentes, um deles disse que o primeiro caso só teve repercussão porque a menina era rica. Opa! Devagar com o andor. Primeiro, a garotinha morta não era rica, seu pai é um incompetente profissional que vive às custas do pai. No primeiro caso, o assassino é um desconhecido, há um mistério novelesco e uma grande exploração da desgraça alheia por parte da mídia que quer vender jornais e revistas, além de audiência nas tevês, enquanto que no caso da menininha de Vila Velha, o pai criminoso foi preso imediatamente, fazendo com que o mistério desaparecesse e o interesse por tragédias que o público nutre fosse junto. Não cabe comparação. Cada caso é um caso e deve ter tratamento diferenciado por parte da imprensa, da polícia e da compreensão do público.
Nos casos do apresentador e no das meninas, o que se ouve são comentários com um fundo preocupante de discriminação social, não por só parte da mídia, mas também do próprio público.
Diferenças sociais sempre existiram e sempre geraram conflitos. Muito se discute em diminuí-las e pouco é feito de efetivo nesse sentido. Sem querer entrar no mérito da questão, o que levaria a uma discussão sem fim e, inevitavelmente, alguns debatedores partiriam para a emotividade e a torcida intempestiva, o atual governo federal tem alimentado essas discriminações, só que no sentido inverso do que era feito antes.
Ricos discriminarem pobres virou uma imoralidade, enquanto pobres discriminarem ricos, há quem afirme que é justiça histórica. Não se corrige um erro com outro e nem se justifica uma agressão com outra.
A ministra das igualdades sociais, aquela que perdeu o cargo por mau uso de seu cartão corporativo, cometeu o absurdo de falar que um negro discriminar um branco não é racismo, apenas um direito histórico conquistado. A pobre mulher estava na pasta errada, sua afirmação não pregava a igualdade racial, mas o contrário. Incitava a um levante de negros contra brancos. Aliás, comparar brancos e negros é outra burrice sem tamanho, ainda mais quando se faz usando a falácia de raças: não existem raças branca, preta, vermelha ou amarela, apenas a raça humana. Essa é uma das mais absurdas comparações que os humanos podem fazer.
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