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quarta-feira, abril 09, 2008

Política não é futebol

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Os defensores do governo Lula costumam argumentar, quando ouvem acusações de corrupção e desmandos na administração atual, que nunca houve tanta prisão de políticos como atualmente. Eles têm completa razão nessa argumentação. Há séculos se sabe dos desmandos e falcatruas de políticos e há séculos eles ficam impunes, mas nesses últimos seis anos, graças a mecanismos de fiscalização, melhor treinamento da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, administradores públicos têm perdido seus mandatos e sido levados às barras das cadeias e dos tribunais com uma freqüência assustadora.

Durante o governo FHC, a Anistia Internacional divulgou um relatório que dizia que a corrupção no Brasil é endêmica. Presidente, ministros e autoridades apareceram nos jornais dizendo que aquilo era uma afronta, uma mentira deslavada, tentando desacreditar o dito relatório e se dizendo ofendidos. Mas se estavam tão ofendidos, por que não procuraram os tribunais internacionais para pedirem reparação por danos morais? Porque, no íntimo, sabiam que o relatório era verdadeiro.

O primeiro presidente da Província de Porto Seguro mandou uma carta ao rei de Portugal pedindo verbas para a construção de um quebra-mar para que as caravelas portuguesas, que vinham aqui traficar madeira, pedras preciosas e gente, pudessem atracar em nossas costas sem riscos por conta das ondas bravias. O rei concedeu o dinheiro. Mal sabia sua majestade que havia um quebra-mar natural se estendendo de Ilhéus ao extremo sul de nosso litoral. Um dos casos mais antigos de corrupção em terras pindoramas.

Pero Vaz de Caminha, o escriba, na mesma carta que comunicava a descoberta das novas terras, pedia ao rei um cargo para seu genro que se encontrava desempregado em Lisboa. Era o primeiro caso de nepotismo de nossa história.

Nesses quinhentos e oito anos seguintes, a corrupção e o nepotismo fizeram-se acompanhar por muitos outros crimes por aqueles que dizem representar o povo e deveriam dar o exemplo.

Nos países orientais, quando um político é pego fazendo alguma falcatrua, lhe restam duas alternativas: ou pratica o suicídio, o que tem acontecido com alguma freqüência, mas pouco divulgado pela imprensa ocidental, ou vem a público pedir desculpas aos seus concidadãos por sua falha de caráter. Na China as punições são severíssimas, podendo levar o corrupto à prisão perpétua, à pena de trabalhos forçados ou à pena de morte.

Por aqui o que vemos, quando um cacique, seja lá de que porte for, flagrado com a mão na botija, seu primeiro passo é acusar os opositores de perseguição política. Culpam a imprensa, culpam o governador, o presidente ou o bispo, mas jamais pedem perdão. Flagrados pelas câmeras, dão sorrisos mais cínicos que marido traidor, numa expressa demonstração de galhofa com os imbecis que os elegeram. Se condenados, somente anos depois de processados, pegam penas leves e, na maioria das vezes, não devolvem aos cofres públicos aquilo que roubaram. Talvez seja esse o motivo de seus sorrisos. A certeza da impunidade e que não precisarão ressarcir ao povo aquilo que dele tiraram.

Pior, quando são condenados, têm sempre direito a dezenas de recursos que levam anos e anos para serem julgados e, nesse período, podem candidatar-se quantas vezes forem possíveis, cumprirem seus novos mandatos sem incômodo e poderem desviar mais e mais dinheiro, como se nada existisse para impedi-los.

Enquanto isso, seus correligionários, uns beneficiados com parte dos recursos desviados, outros apenas por imbecilidade, fazem claque cegos pelo sectarismo político ou por interesses escusos, não percebendo ou pouco ligando que esse apoio aos ladrões é um aval para que continuem roubando.

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