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quinta-feira, abril 17, 2008

O Analfabetismo Gera Pobreza

lousa

 

Mais do que eternizar a pobreza, o analfabetismo gera a dita cuja. Ela impede a promoção social de famílias inteiras e, dependendo da região, de toda uma comunidade.

O Nordeste tem o dobro de analfabetismo por grupo de mil cidadãos do que a média nacional. Isso explica, em parte, porque é uma região tão pobre.

No governo de FHC fez-se uma campanha monstruosa para se colocar 90% das crianças nas escolas, mas se isso fosse conquistado, seria em boa parte por conta de fatores outros que não a qualidade do ensino. Alimentação escolar, bolsa-escola e uma campanha maciça na mídia seriam alguns desses fatores.

A qualificação dos profissionais de educação é secundário, ou terciário. Fica atrás, inclusive, das campanhas políticas em que a educação é sempre um carro-chefe.

Brasil a dentro é comum vermos professores com quarta, quinta série, ensinando em salas multisseriadas, escolas caindo aos pedaços, salários aviltantes, condições sanitárias e de iluminação criminosas, transporte escolar sofrível e algumas localidades sequer com ele.

A Lei Darcy Ribeiro tinha a boa intenção de fazer uma reforma profunda nesse quadro com a criação de fundos para a educação básica, exigência de graduação dos professores, o estabelecimento de um piso salarial e mais um monte de coisas novas, infelizmente muitos prefeitos maquiam as estatísticas e não adaptam seus municípios à nova realidade. Fora aqueles que maquiam a contabilidade, pouco se importando se isso dá cadeia ou não. A impunidade ainda impera e as leis punitivas não avançaram junto com as leis educacionais. Alguém aí conhece algum gestor que continue preso por ter roubado dinheiro da alimentação escolar, do transporte ou da construção e reforma de escolas? Ou algum que tenha devolvido o dinheiro desviado? Se sim, por favor, me diga quem e onde.

Essa quantificação que serve para fazer bonito nas estatísticas internacionais gerou e gera a ampliação do analfabetismo funcional, tão nocivo quanto o analfabetismo elementar. O sujeito mal, mal, aprende a escrever o próprio nome e a ler uma placa de trânsito e é dado como alfabetizado pelos órgãos oficiais, mas não consegue redigir um texto com o mínimo de complexidade ou entender uma notícia lida em um jornal. Lendo, ele apenas deduz o que o texto quer dizer, dentro de seu universo pequeno de conhecimentos.

As escolas formais não ajudam a superar essa deficiência. Nelas as disciplinas são tratadas como estanques, uma nada tem a ver com a outra. Assim, uma criança não consegue traduzir o enunciado de uma questão de ciências ou um problema simples de aritmética. Os professores dessas disciplinas, assim como das demais, não conseguem perceber que a dificuldade do aluno não está exatamente na matemática ou na geografia, mas na leitura, interpretação e elaboração de textos.

Já recebi alunos na oitava série ou mesmo no ensino médio que não conseguem traduzir um texto de duas linhas. Aí fica a pergunta, como é que chegaram a essas séries? Também por conta dos programas de aceleração de aprendizagem ou das cobranças de diretorias de escolas que não querem ficar mal diante de suas secretarias de educação ou atendem à pressão para que as estatísticas estaduais. E isso acontece em todas as unidades da federação. Fatos assim já me ocorreram com estudantes de vários estados que se mudam para cá. Até para preservá-los, não cabe aqui dar maiores detalhes.

Aí o jovem sai da escola com seu canudinho, mas não consegue um bom emprego, sente-se enganado já que ouviu, desde criança, que a educação é imprescindível para uma boa colocação no mercado. Muitas vezes ele não tem noção de que o engano que sofreu foi na escola.

As estatísticas já mostram que empregos sobram no Brasil, nas mais diversas áreas, falta gente capacitada para a admissão. E os governos fazem de conta que não é deles o problema, viram as costas e esperam que os empregadores sanem a questão. Ou talvez, mais que bem intencionados, sejam incompetentes para resolvê-lo com o dinheiro de impostos que recebem justamente para fazerem cumprir a Constituição que prega o direito à educação de qualidade para todos os cidadãos.

Gosto de contar para meus alunos o caso de um garoto, filho de analfabetos roceiros, que apareceu na minha escola pedindo uma bolsa, queria porque queria ser piloto da FAB. A muito custo o convencemos a retroagir uma série, sua base de conhecimentos era arenosa, não conseguiria sustentar o castelo que ele queria erguer. Aos poucos esse garoto foi ficando uma “fera”. No primeiro ano do Ensino Médio, começou a defender uns trocados dando aulas particulares para colegas do terceiro ano. Mas ainda não estava preparado para a FAB. Foi uma outra trabalheira dissuadi-lo da idéia. Nos acusava de não confiarmos em seu potencial.

Concluído o ensino médio, teimou e fez o concurso para a Força Aérea. Não conseguiu a aprovação, em compensação passou no vestibular em engenharia em três universidades federais. Em dezembro último, depois de ter feito um curso, a convite, numa universidade em Paris, devido ao seu desempenho na UFES, graduou-se em engenharia mecânica.

Esse é um exemplo que pode ser seguido. O mérito maior, lógico, é dele que se esforçou, comeu livros, passou perrengue, sacrificou as noites enquanto os colegas estavam em festas, mas uma escola que sabe acompanhar as deficiências individuais, que tem um compromisso com o futuro dos seus jovens e preocupação com o aprimoramento da sociedade como um todo, ajuda bastante. E isso está em falta. Mais fácil estabelecer cotas para aqueles que vêm de escolas menos preparadas do que prepará-las.

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A Meire convidou e eu não pude dizer não, ainda mais sendo professor. Fica aqui minha humilde contribuição nessa blogagem coletiva. Adiantei o post porque vou viajar hoje à noite. Quem quiser participar, escreva seu texto, post amanhã e avise a Meire.

O tempo anda apertado, por isso não tenho visitado muitos blogs, mas fica aqui o agradecimento aos que se manisfestaram ontem pelo milésimo dia do E&S.

Até terça-feira.

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