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quarta-feira, dezembro 21, 2005

Aí a zebra disse para a mosca: "você não vai ganhar presente de Natal. Está na minha lista negra".



Tem texto meu sobre a banalização do "eu te amo", no blog da Gueixa.



Custa dinheiro, mas faz tão bem...

Sensibilidade

De posse do décimo terceiro salário, ele foi ao supermercado onde comprou uma cesta de Natal que havia se prometido dar de presente para a fiel empregada que cuidava da sua casa, da sua comida, de suas roupas como só sua mãe tivera a dedicação de cuidar.

Escolheu um bom vinho, o melhor panetone, as caras castanhas, a mais linda cesta... e enquanto a atendente montava o pacote, imaginava a satisfação da amiga ao receber o presente. Isso o fazia sentir-se bem.

Ao pisar na calçada com seu pacote vistoso foi abordado por um típico garoto brasileiro, dez anos, moreninho quase negro, cabelinhos cortados à máquina dois. O garoto vestia uma puída camisa de algodão, uma bermuda que aparentava ser o aproveitamento de uma velha calça jeans e gastos chinelos de plástico de tiras amarelas. Levava na mão uma caixinha cúbica caprichosamente encapada com papel vermelho com uma pequena fenda no alto.

- Moço, me dá uma moeda para eu comprar roupa pro Natal.

Passou-lhe pela mente, à velocidade de um raio, as lembranças da infância miserável, pé no chão, vermes no casebre de retalhos de madeira, das roupas velhas passadas de irmão para irmão conforme cresciam, até que não se tivesse mais o que usar.

Lembrou-se dos choros surdos dos seus pais às vésperas do aniversário de algum dos filhos, do dia das crianças, do Natal. Foi uma lembrança tão forte, tão dolorida e tão viva que não se permitiu pensar.

Com a cesta de presente em uma das mãos e a mão da criança em sua outra mão, dirigiu-se à loja de roupas infantis mais próxima e fez mais um coração feliz.

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