"Sexo também é um bom negócio. O melhor da vida é isso e ócio"
(Zeca Beleiro)
(Zeca Beleiro)
Fábrica de Sorrisos
Dos seus doze anos, os últimos seis se passaram naquele quarto. Da janela via as crianças da rua brincando de pega-esconde, fazendo estrepolias em suas bicicletas, jogando as peladas gritadas e corridas. Acostumara-se também a vê-las comparando suas miniaturas feitas com palitos de picolés ou de fósforos, carrinhos de metal que ninguém diria que um dia foram latas de óleo ou de leite. Quando via a garotada da vizinhança com seus brinquedos coloridos o coração se alegrava, era orgulho ver os brinquedos que sua mãe vendia trazerem tanta alegria.
Graças à talidomida que sua mãe usara para curar-se da hanseníase, Jerônimo, caçula de três irmãos, nascera com sérias deformidades físicas. Seu sistema cognitivo, porém, não sofrera qualquer dano. Aos seis anos, quando saia de casa com a mãe, abandonada e desassistida pelo marido advogado após seu nascimento, para ir ao médico viu-se apontado pelos vizinhos, caçoado por aqueles meninos que bem poderiam ser seus colegas de escola e de brincadeiras. Desde então resolveu jamais sair de casa outra vez e resumiu sua casa àquele quarto.
Seus dois irmãos, bem mais velhos, estavam às portas da faculdade, trabalhavam de dia, estudavam à noite e arrumavam tempo para dar aulas a Jerônimo. A mãe, economista que abandonara a profissão, vira-se na necessidade de pôr em prática seus conhecimentos acadêmicos e passara a negociar os brinquedos de material reciclado com lojas do comércio local, nas feiras de artesanato e começava a exportá-los para a Europa e Japão, onde eram muito bem recebidos e prometiam render uma grande melhora para a família.
Miniaturas de monumentos como a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo ou o Cristo Redentor, de automóveis em escala perfeita como Ferraris, Fusquinhas, ônibus, de pontes, edifícios, bonecas de pano, iô-iôs de tampas de vidros de azeitonas, buquês de margaridas de papel e plástico, serpentes de rodelas de cabos de vassoura, tantas eram as criações, tão originais e tão bonitas em suas muitas cores que o sucesso era inevitável, mesmo em tempos de vídeo-games e internetes.
Na casa de dois pavimentos, o único bem material que sobrara do malogrado casamento, dois quartos superiores foram fundidos em um, o quarto de Jerônimo. Nas paredes dezenas de fotografias de lugares magníficos, construções fantásticas, máquinas das mais diversas utilidades. Encostada em toda a extensão de uma das paredes, uma enorme bancada sustentava dezenas de ferramentas, metais, plásticos, madeiras das mais variadas formas e tamanhos, sementes coloridas, panos, agulhas, linhas, arames... Naquele pequeno universo o pequeno Jerônimo fabricava a alegria de centenas de pequenos como ele. Muitos deles os mesmos que lhe trataram como uma aberração.
Graças à talidomida que sua mãe usara para curar-se da hanseníase, Jerônimo, caçula de três irmãos, nascera com sérias deformidades físicas. Seu sistema cognitivo, porém, não sofrera qualquer dano. Aos seis anos, quando saia de casa com a mãe, abandonada e desassistida pelo marido advogado após seu nascimento, para ir ao médico viu-se apontado pelos vizinhos, caçoado por aqueles meninos que bem poderiam ser seus colegas de escola e de brincadeiras. Desde então resolveu jamais sair de casa outra vez e resumiu sua casa àquele quarto.
Seus dois irmãos, bem mais velhos, estavam às portas da faculdade, trabalhavam de dia, estudavam à noite e arrumavam tempo para dar aulas a Jerônimo. A mãe, economista que abandonara a profissão, vira-se na necessidade de pôr em prática seus conhecimentos acadêmicos e passara a negociar os brinquedos de material reciclado com lojas do comércio local, nas feiras de artesanato e começava a exportá-los para a Europa e Japão, onde eram muito bem recebidos e prometiam render uma grande melhora para a família.
Miniaturas de monumentos como a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo ou o Cristo Redentor, de automóveis em escala perfeita como Ferraris, Fusquinhas, ônibus, de pontes, edifícios, bonecas de pano, iô-iôs de tampas de vidros de azeitonas, buquês de margaridas de papel e plástico, serpentes de rodelas de cabos de vassoura, tantas eram as criações, tão originais e tão bonitas em suas muitas cores que o sucesso era inevitável, mesmo em tempos de vídeo-games e internetes.
Na casa de dois pavimentos, o único bem material que sobrara do malogrado casamento, dois quartos superiores foram fundidos em um, o quarto de Jerônimo. Nas paredes dezenas de fotografias de lugares magníficos, construções fantásticas, máquinas das mais diversas utilidades. Encostada em toda a extensão de uma das paredes, uma enorme bancada sustentava dezenas de ferramentas, metais, plásticos, madeiras das mais variadas formas e tamanhos, sementes coloridas, panos, agulhas, linhas, arames... Naquele pequeno universo o pequeno Jerônimo fabricava a alegria de centenas de pequenos como ele. Muitos deles os mesmos que lhe trataram como uma aberração.
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