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segunda-feira, outubro 09, 2006

Benett, Diário de Campos, PR

  • Alckimin chegou agressivo, como qualquer eleitor minimamente atento sabia que viria. A primeira pergunta dele para Lula, foi exatamentye a última pergunta dele para Lula: "De onde vieram os 1,7 milhão para a compra do dossiê?". Da primeira vez, Lula foi inteligente na resposta: "Eu também quero saber de onde veio o dinheiro, mas, mais que isso, quero saber quem pagou, quem foram os mandantes e quem preparou essa armadilha. O maior prejudicado nesse episódio fui eu. Sua candidatura cresceu com ele". Não deixa de ter razão nessa conclusão.

    Lula, com essa resposta, deixou no ar uma desconfiança de que o tal dossiê, que ninguém viu, mas que todos dizer ser vazio, idiota, que não tem nada de mais, poderia ter sido uma armadilha de seus opositores. Isso é plausível, ou alguém esqueceu dos milhares de dólares encontrados no cofre do marido de Roseana Sarney, quatro anos atrás, justamente quando ela ensaiava sair como candidata do PFL à presidência da República. Quem lembra desse episódio, deve lembrar-se também que naquela ocasião ela estava disparando ladeira acima, ameaçando a posição de Serra, que se encontrava em segundo lugar nas pesquisas. Se já fizeram uma vez, quem duvida que seriam capazes de fazer de novo?

    Voltando ao debate. Lula entrou tenso, sabendo que viriam bordoadas e acusações. O tom agressivo de Alckimin tentava inibir Lula e conseguia, porém não muito. Enferrujado em debates, uma vez que sequer tem dado entrevistas. Nos últimos quatro anos deu apenas uma coletiva e algumas exclusivas esporádicas, Lula se esforçava para manter a linha. À vontade, Alckimin atacava. Ambos desvirtuavam as perguntas mais capiciosas, esquivavam-se, não respondiam e mudavam de assunto, muitas vezes sem nenhuma sutileza.

    Nos terceiro e quarto blocos do debate, acabou o gás de Alckimin, demonstrando que ele havia chegado com meia dúzia de denúncias, suposições e ataques ensaiados. Havia batido, mas não conseguira encurralar Lula no corner, longe de conseguir um knock-out. Aí foi a vez de Lula se reerguer e partir para o ataque. Sagaz, depois de ter sido chamado de mentiroso, pedir direito de resposta e não ser atendido, Lula sentiu-se à vontade para também xingar o adversário, sabendo que não seria admoestado pela produção do programa. Eu esperava que Lula, a qualquer momento, pedisse explicações de Alckimin sobre as denúncias contra a esposa e a filha do tucano. Uma envolvida no caso dos 400 vestidos e em má aplicação de verbas de programas sociais, a outra envolvida no escândalo da Daslu. Mas Lula, fazendo jus ao que ele próprio afirma de que não faz acusações levianas, não envolve as famílias dos adversários, suas vidas privadas em campanha, deixou esses episódios de fora. Não vi qualquer jornalista comentar sobre isso até o momento, assim como Alckimin não fez referências aos negócios suspeitos do filho do presidente ou dos gastos pessoais excessivos da primeira dama. Talvez um não quisesse que o outro apelasse como resposta. Melhor deixar as famílias de fora.

    No quarto bloco, quando quatro jornalistas tiveram direito a perguntas, Lula se saiu melhor. Alckimin persistiu na estratégia de ser vago nas respostas, não ser direto, como, por exemplo, Joelmir Betting perguntou sobre os cortes de gastos que Alckimin disse que faria. Apenas se referiu aos altos impostos, mas não se comprometeu em baixá-los, e sobre o corte de cargos comissionados, coisa que Aldo Rebelo já fez no Congresso. São medidas necessárias e louváveis, mas são cortes pífios em se tratando do total de gastos do governo federal.

    No quinto bloco, quando das considerações finais dos candidatos, Lula foi sóbrio, quase lacônico, enquanto Alckimin foi mais incisivo, mas cometeu um erro que os eleitores já se cansaram de ouvir, pediu "seu voto de confiança". Todos os candidatos pedem isso, de senador de São Paulo ao prefeito de Quixeramobim. No subconsciente do eleitor isso martela como um apelo desesperado, ele faz paralelos com os parlamentares e governantes em quem já votou e não corresponderam às suas expectativas.

    Minha conclusão é que ninguém mudou seu voto, apenas conheceu melhor as características dos candidatos, mais de Alckimin, desconhecido da maioria dos brasileiros, do que de Lula, conhecido por todos desde 1980. Minhas impressões se solidificaram hoje, conversando com os colegas de trabalho. Suas impressões dos candidatos não mudaram. O que apóiam tinham sua simpatia e haviam ganhado o debate, o adversário foi fraco, não disse coisa com coisa. Esperemos as próximas pesquisas e vejamos se mudou alguma coisa.

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