Guardanapos de Papel
Na minha cidade tem poetas que chegam sem tambores nem trombetas e sempre aparecem quando menos aguardados, guardados entre livros e sapatos em baús empoeirados. Saem de recônditos lugares, nos ares, onde vivem com seus pares e convivem com fantasmas multicores de cores que te pintam as olheiras e te pedem que não chores.
Suas ilusões são repartidas, partidas entre mortos e feridas, mas existem com palavras confundidadas, fundidas ao seu triste passo lento pelas ruas e avenidas. Não desejam glórias nem medalhas, se contentam com migalhas de canções e brincadeiras, com seus versos dispersos, obcecados pela busca de tesouros submersos. Fazem quatrocentos mil projetos que jamais são alcançados, cansados.
Nada disso importa enquanto eles escrevem o que sabem que não sabem e o que dizem que não devem.
Andam pelas ruas os poetas como se fossem cometas, num estranho céu de estrelas idiotas e outras cujo o brilho sem barulho veste suas caudas tortas.
Na minha cidade tem canetas esvaindo-se em milhares de palavras retorcidas e confusas em delgados guardanapos, feito moscas inconclusas. Andam pelas ruas escrevendo e vendo que eles mesmos vão dizendo, e sendo eles poetas de verdade enquanto espiam e piram, não se cansam de falar o que eles juram que não viram.
Olham para o céu esses poetas como se fossem lunetas lunáticas, lançadas ao espaço e o mundo inteiro fossem vendo pra depois voltarem ao Rio de Janeiro.
Como eu gostaria de ter criado isso... Mas Leo Masliah escreveu primeiro, Milton Nascimento traduziu e gravou no álbum Tambores de Minas. Quem não conhece, não sabe o que perde.
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