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quinta-feira, julho 19, 2007

Muitas culpas



Antes de viajar de férias em dezembro passado, comentei aqui meu receio de voar pela primeira vez na vida, justo eu que adoro aviões. Na época o maior problema eram os protestos tácitos dos controladores de vôo que causavam filas enormes nos aeroportos de todo o país. De fato, encarei uma espera de três horas em uma conexão. Mas meu medo vinha do descontentamento explícito dos operadores com salários baixos, carga de trabalho desumano, estresse acumulado... Quando sua vida depende da atividade de profissionais nessas condições, não tem como evitar o medo.

Uma outra coisa que eu comentava, e que até hoje não entendo, é a distribuição das rotas. Certa vez eu voava de Belém para Salvador e tive que fazer conexão em Brasília; outra vez viajei de Porto Seguro para Porto Velho e tive que encarar uma espera de 9 horas em Cumbica; Uma terceira vez, voei de Porto Seguro para Fortaleza e, mais uma vez tive que encarar uma escala em São Paulo, o mesmo acontecendo na volta. Não consigo entender isso. Em dezembro, quando viajei de Porto Seguro para Natal, tive que ir a São Paulo e Rio. Por que cargas d'água, para se voar para qualquer canto tem-se que fazer uma escala em São Paulo? Para um pobre ignorante como eu, essas escalas forçadas, são um dos principais fatores do estrangulamento dos aeroportos de Cumbica e Vira-Copos.

Não vou cair na armadilha fácil de lançar a culpa no governo federal, ou na Tam, ou na Anac, ou no DAC ou na Infraero. Todos eles têm uma boa parcela de culpa no caos que impera em nosso espaço aéreo. E não esqueçamos a Justiça.

Há seis meses o governo federal baxou uma medida proibindo a aterrissagem de seis tipos de aeronaves em Cumbica. Segundo pareceres técnicos, aquelas aeronaves ofereciam perigo, a pista não era ideal para o tráfego de aviões que necessitavam de pistas maiores para suas manobras. A Anac recorreu e a Justiça derubou a medida governamental. Advogados derrubaram as certezas de engenheiros. Não ouvi nenhum jornal comentar isso. Ou seja, a Justiça, uma das culpadas, está isenta de acusações e intocável como sempre.

As agências controladoas criadas no governo de FHC, que deveriam prezar pelos interesses do consumidor, tornaram-se apêndices de apoio aos fornecedores. Observe-se o caso da Anatel. Todos os anos as telefônicas são os campeões de reclamações nos Procon de todo o país; a tal assinatura do telefone fixo, taxa já considerada lesiva ao consumidor, é mantida por medidas judiciais e com o apoio da Anatel; os reajustes são sempre maiores que os reajustes de salários. Ou seja, a Anatel tem trabalhado para as telefônicas, e não para os consumidores.

A Anac tem trilhado o mesmo caminho. O governo manda, a Anac recorre à Justiça e desmanda; o consumidor reclama, a Anac faz um discursozinho diante das câmeras e microfones e empurra o problema para a Infraero, que tira o corpo fora e empurra para o Dac que se desvia e manda o problema para o Ministério da defesa que se escusa e joga o pepino no colo das companhias... Depois de tantas manobras, quem termina bancando tudo e sem ter a quem recorrer, é o pobre consumidor.

E ainda aparecem uns imbecis dizendo que esse é um problema da elite que tem grana e voa, não é coisa para cidadãos comuns se preocuparem. Por um acaso as crianças mortas tem que responder por isso? Os trabalhadores assassinados em terra estão isentos do problema? Os demais trabalhadores que agora estão sem saber onde, como e quando voltarão a seus empregos porque o prédio onde trabalhavam foi destruído tem que se conformar? Os moradores que tiveram suas casas interditadas são culpados de alguma coisa? Os pais, mães, filhos, amigos de todos aqueles atingidos diretamente por uma tragédia devem ser crucificados porque têm um poder aquisitivo maior com a média porque estudaram e trabalham para isso, não são cidadãos comuns e que geram riqueza para o país, mas que, por isso mesmo, devem ser excluídos?

Morreu um parlamentar nessa última tragédia. Espero que por solidariedade ou por medo de serem os próximos, os donos do poder resolvam tomar atitudes mais positivas, corajosas e definitivas para sanar os problemas que assolam nosso espaço aéreo.

De todos os culpados, a Tam, que está tendo uma propaganda negativíssima na mídia e até dos chargistas, cegos pela emoção, aparentemente dessa vez é mais vítima que algoz.

Que não haja pizza e nem apadrinhamentos nas investigações dessa tragédia e nem Justiça omissa e incompetente, vendida a "argumentos" de bons advogados.

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