Há exatos dois anos, de madrugada, enquanto eu dormia, um bandido escalou a fachada do meu présdio, entrou no meu apartamento e "fez a limpa". Na ocasião eu estava dormindo, o que deve ter espantado o crápula que saiu sem levar muita coisa. Pela primeira vez eu havia sido roubado na vida. Coloquei grades nas janelas, embora more no primeiro andar, e fiquei um pouco paranóico, redobrando os cuidados com a segurança. Havia chegado à conclusão que também sou vulnerável.
Nesta segunda-feira, no intervalo do almoço, a vizinha do apartamento térreo foi assaltada, revólver nacara e tudo o mais, invadiram seu apartamento, levaram sua bolsa com documentos e o carro. Olhando a foto, meu prédio é justamente o rosa, no meio da quadra, como diz a reportagem. No momento do assalto eu estava em casa, assistindo ao jornal e nada ouvi. O marido dela também estava em casa, dormindo no quarto, por sorte continuou dormindo ou algo pior poderia ter acontecido.
Ontem, por volta das 20 horas, a dona daquela casa que se vê lá ao fundo, em frente ao prédio verde, teve sua casa invadida por dois bandidos que a colocaram em seu próprio carro, junto com o marido e os dois filhos, crianças ainda. Fizeram-na ir ao banco e retirar toda a grana possível. Moramos bem no centro de uma cidade que eu me orgulhava de ser tranqüila, pacífica e segura, e agora ando amedrontado.
A crise de segurança está em todo canto, não tem mais volta. Enquanto as leis forem frouxas, as polícias mal remuneradas, mal treinadas, mal aparelhadas e em número insuficiente de pessoal, e não apenas aqui, mas em cada cidade do país, não nos resta outra alternativa do que vivermos trancados em casa, paranóicos, morrendo de medo não só dos assaltos, mas de bandidos mais violentos que possam nos causar danos físicos ou coisa pior.
Fora a histórica ineficiência do Estado em tratar com as questões de segurança, há ainda uma mais nefasta contribuição do atual governo federal em favor da marginalidade. A partir do momento que o idiota-mor discursa culpando quem trabalha, quem estuda e quem produz pelas desigualdades sociais, incentivando os mais pobres e miseráveis a se rebelarem não contra essas desigualdades, mas contra quem tem um pouco ou muito mais que eles, a quem poderemos reclamar?
Há dois meses recebi um telefonema da Legião da Boa Vontade, me pedindo para autorizar um débito em minha conta de energia para beneficiar a LBV na compra de fardamento e material escolar para estudantes jovens. Sensibilizado, autorizei. Na semana passada um sujeito, com aquela conversinha mole de aproveitador, me telefonou agradecendo pela contribuição. Ok, não tem de quê, crente que era apenas um agradecimento. Tolinho, eu. O cara queria e insistiu para que eu fizesse nova contribuição, até que perdi a paciência: "amigo, eu ajudo e continuarei ajudando quando puder e a quem quiser. Já lhe disse que no momento não estou podendo. Por favor, não insista". Mas o cara insistiu. Me encheu o saco. Pô! Não sou rico, não tenho grana sobrando, trabalho feito um mouro pra poder ter um padrão aceitável de vida e o cara acha que tenho a obrigação de dar o que ele quer e não o que posso. Não me xingou, mas passou perto. E é assim que o país caminha.
Saiu uma informação ontem na imrensa: 1 em cada 4 brasileiros são beneficiados pelas bolsas sociais. Que porra é essa? Quer dizer que 25% da população está vivendo de esmolas? E, se não bastasse a grana de nossos impostos ir para as mãos de quem não trabalha, ainda somos obrigados de desembolsar mais, do nosso próprio bolso? No que estão transformando esse país? Numa favela institucionalizada? Numa sociedade em que as desigualdades são camufladas pela esmola obrigatória do contribuinte dando ao governo o título de Robin Hood, o paladino da justiça e da cidadania?
Com educação de qualidade, saúde, segurança, emprego, transporte, moradia que são obrigações constitucionais do governo, o pobre não pode contar, mas com o meu e o seu dinheiro, ele pode ter como certo e,se não tiver, pode se rebelar contra. É muita filadaputice pro meu gosto.
A escola particular onde trabalho fica a 500 metros da minha casa. Em sua frente fica uma praça. Nessa praça os alunos de uma escola estadual se reúnem para pegar o ônibus escolar. de uns tempos pra cá vimos nos preocupando com as animosidades criadas pelos pobres garotos do estadual, mas agora a coisa está ficando séria e pressinto que não vai acabar bem. Ontem, quando inha para casa, vi um garoto, treze anos, aluno meu, cercado por quatro garotos do estadual. Vi que algo errado estava acontecendo. Me aproximei e os garotos correram. Estavam assaltando meu aluno. Crianças! Uniformizadas! Saindo da escola! Porra! Não são marginais de nascença, são estudantes! estão se tornando bandidos pelas facilidades que o poder público está lhes dando de ficarem inimputáveis e com o direito de tirarem de outras crianças aquilo que as bolsas-esmolas não podem dar e que não é dever do estado dar.
Estou com medo, muito medo do caminho que estamos trilhando e não vejo sequer a bundinha de um vaga-lume no fim do túnel.
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