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domingo, fevereiro 05, 2006

"- Ai meu Deus; ele está morto! E agora, o que a gente faz?!
- A carteira, relógio e o boné são meus".



Cruel, muito cruel


Amor Platônico Também Termina


Teobaldo nutria por Ziluê um amor inesplicável. Nunca haviam conversado, não sabiam o telefone um do outro ou sequer sabiam seus gostos, mas o frio na coluna e o embrulho na boca do estômago eram constantes è simples lembrança dela.

Tinham um casal, amigo comum, que casaria em fevereiro, na véspera do carnaval. Adevando, o noivo, prático e farrista, idealizaria a festa de recepção aos convidados como um baile de carnaval. Decoração havaiana com cenário de papelão e plástico, vodca a rodo, bebidas tropicais a base de frutas e petiscos. Ambiente propício para oembebedamento geral.

Durante toda a festa Teobaldo vigiava Ziluê à distância. Via o alvo dos seus suspiros emborcar as taças na boca e saracotear pelo salão. A moça não percebia um assédio ou outro de algum solitário, sua festa resumia-se às bebidas e à dança. Depois de poucas horas e muitas doses, suas passadas já não conseguiam ser retas o que fez o zeloso Teobaldo aproximar-se para um socorro que se fizesse necessário. E não demorou.

Ziluê entonteceu, ficou pálida, ensaiou um desmaio no meio do passe de uma dança de axé. Antes que fosse ao chão teve o amparo dos braços do admirador que a levou para um banco do jardim, abanou-a com uma folha de bananeira retirada da decoração, assistiu ao seu vômito sem cara de nojo, trouxe uma garrafa de água mineral para que tirasse o gosto ruim da boca e ouviu suas lamúrias de b~ebada.

A moça falava o quão era infeliz; que se apixonara pelo professor de química da faculdade, mas não era correspondida; que para fazer ciúme ao mestre, tomara Caléfolas como namorado, justamente o mais feio, burro e sem graça colega de turma; que Caléfolas era feio e burro, mas tinha uma cantada infalível; que perdera sua pureza para Caléfolas; que depois de empanturrar-se, lamber os dedos e passar as línguas nos lábios, Caléfolas a abandonara; que engravidara; que fora expulsa de casa pelo pai, velho conservador bedel da prefeitura; que, desempregada e sem poupança, fizera um aborto para não colocar no mundo uma criança sem pai e sem futuro; que morava num quartinho de pensão e vendia pules do jogo do bicho para poder manter-se; que gastava tudo em roupas para causar uma boa impressão e talvez ser beliscada pela sorte de um bom marido oude um bom emprego.

Teobaldo a levou para casa e prometeu-se nunca mais beber.

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