Amor pago é mais barato.
Araçuaí
Lá onde os rios Jequitinhonha e Calhau se encontram os canoeiros acharam o lugar ideal para trocarem suas mercadorias. Cacau, farinha e coco vinham de Canavieiras e eram trocados por rapadura, couro e pedras semipreciosas. A cada semana surgia uma nova embarcação e outros homens curtidos pelo sol, pelas noites mal dormidas e pelo trabalho incessante.
Alguns, cansados da lida sem fim e com uma visão melhor de comércio foram ficando no arraial, batizado de Aldeia do Pontal e se tornaram os organizadores, homens da lei, intermediários nas negociações, banqueiros, arregimentadores de mão de obra, eram as autoridades do médio Jequitinhonha e ditavam as regras. Uma sociedade se formava sob seu tacão.
Casas eram edificadas com suas paredes de sapé e telhados baixos e, lógico, uma igreja. O padre Carlos Moura foi enviado pelo bispo para aquele fim de mundo, o catequista moderno que daria alento às almas e uma visão espiritualista onde só haviam a da peixeira e a do conto de réis.
Viu, do alto da serra, aquele amontoado de telhados vermelhos no vale entre tantas montanhas, lugar que se revelaria o mais calorento entre todos os que ja encontrara. Como era comum, foi recebido com pompa e respeito, logo tornou-se amigo e conselheiro e, com a severidade que levava no semblante, temido pelos que tentavam passar a perna na compra, na venda ou no escambo.
Como era de se esperar, no arraial não haviam mulheres e crianças, era terra de trabalho másculo e bruto. Mas, com a decisão de mais e mais homens que se esqueciam da esposa e filhos, dos que tentavam um sustento para aqueles e de rapazes que saíam da casa dos pais em busca de sua própria vida em ficar no lugar, a ausência feminina começou a se fazer sentir.
Zenistreu, banido dos negócios por sempre roubar aqueles com quem negociava, enganar, mentir, tomar os clientes dos concorrentes com golpes baixos, viu ali a oportunidade de ganhar muito dinheiro, voltar a ser amado e paparicado por aqueles que agora o apedrejavam.
Juntou as últimas moedas e partiu para Montes Claros. Um mês depois, no barco de Nhô Caruto, voltou à Aldeia do Pombal com dez mulheres, seus vestidos coloridos, suas gargalhadas, seus pós-compactos, seus carmins e água de cheiro. Na bagagem os baús de roupas e quinze caixas de cachaça e rum que comprara fiado e jamais pagaria.
Instalou o festivo batalhão feminino em sua casa e, por cinco dias, sob os olhares curiosos da vizinhança, pintou portas, janelas e paredes, plantou flores no pequeno jardim, colocou cortinas nas portas que separavam os dois quartos do pequeno corredor que levava à sala e à cozinha, arrumou uma tina grande que serviria de banheira e a instalou na casinha do quintal. Estava montado o banheiro para banho e um buraco no chão para as demais necessidades do organismo. Tudo com a ajuda do mulherio que mexia com a libido da homenzarada com olhares pintados e sorrisos amarelos de tabaco e falta de higiene.
Sábado à noitinha, dividiram-se as raparigas em grupos e saíram pelas vielas convidando cada um e todos para a festa de inauguração da casa da alegria.
Às dez da noite via-se uma fila imensa na frente da casa de Zenistreu. Arcibalda e Jofrélia esmeravam-se em servir, em troca de algumas moedas, álcool para aqueles homens suados, ávidos e mal cheirosos que esperavam sua vez de descarregar sua masculinidade em algo mais agradável e perfumado que as burrinhas, cabras e vacas.
Em cada quarto, dois a dois os casais se formavam e defaziam. Na tina as mulheres faziam uma meia higiene que deixou a água opaca em pouco tempo.
Ao meio dia do domingo, Zenistreu fechava a contabilidade da primeira noite. Havia arrecadado mais do que em um mês arrecadaria no trabalho pesado de antes. Estava se formando a primeira fortuna de Aldeia do Pombal.
A alegria, porém, durou pouco. Padre Carlos ameaçou de excomunhão aquele exército de pecadores, os novos sodomitas, fez toda a população ver o fogo do inferno, sentir o cheiro do enxofre impregnado em suas carnes, mostrou a alma de cada um em eterna perdição, expulsou Zenistreu e as mulheres da Aldeia.
Burras cheias e querendo viver bem essa vida para preocupar-se com a eterna mais tarde, Zenistreu não se deu por vencido. A poucos quilômetros dali comprou as terras da viúva Lucianeide, remontou seu cabaré, agora com muito mais espaço e luxo, na casa grande da fazenda. Muito mais quartos, o que significava mais mulheres, dois salões, quatro banheiros, galpão para bebidas, tabaco e mesas de pano verde, escondidinhas do governo e dos padres.
Bastou pagar alguns merréis para um garoto espalhar a notícia na Aldeia para que as noites de cada dia da semana ficassem iguais às de sábado. O movimento não parava. Casinhas foram construidas ao redor do casarão, pensões, hotéis, bodegas, até o armazém de Castroaldo se mudara da Aldeia para ali.
Em um ano estava formada a cidade de Araçuaí e na Aldeia do Pombal só funcionavam a igreja de um padre desolado e o atracadouro onde eram carregadas e descarregadas as canoas.
Alguns, cansados da lida sem fim e com uma visão melhor de comércio foram ficando no arraial, batizado de Aldeia do Pontal e se tornaram os organizadores, homens da lei, intermediários nas negociações, banqueiros, arregimentadores de mão de obra, eram as autoridades do médio Jequitinhonha e ditavam as regras. Uma sociedade se formava sob seu tacão.
Casas eram edificadas com suas paredes de sapé e telhados baixos e, lógico, uma igreja. O padre Carlos Moura foi enviado pelo bispo para aquele fim de mundo, o catequista moderno que daria alento às almas e uma visão espiritualista onde só haviam a da peixeira e a do conto de réis.
Viu, do alto da serra, aquele amontoado de telhados vermelhos no vale entre tantas montanhas, lugar que se revelaria o mais calorento entre todos os que ja encontrara. Como era comum, foi recebido com pompa e respeito, logo tornou-se amigo e conselheiro e, com a severidade que levava no semblante, temido pelos que tentavam passar a perna na compra, na venda ou no escambo.
Como era de se esperar, no arraial não haviam mulheres e crianças, era terra de trabalho másculo e bruto. Mas, com a decisão de mais e mais homens que se esqueciam da esposa e filhos, dos que tentavam um sustento para aqueles e de rapazes que saíam da casa dos pais em busca de sua própria vida em ficar no lugar, a ausência feminina começou a se fazer sentir.
Zenistreu, banido dos negócios por sempre roubar aqueles com quem negociava, enganar, mentir, tomar os clientes dos concorrentes com golpes baixos, viu ali a oportunidade de ganhar muito dinheiro, voltar a ser amado e paparicado por aqueles que agora o apedrejavam.
Juntou as últimas moedas e partiu para Montes Claros. Um mês depois, no barco de Nhô Caruto, voltou à Aldeia do Pombal com dez mulheres, seus vestidos coloridos, suas gargalhadas, seus pós-compactos, seus carmins e água de cheiro. Na bagagem os baús de roupas e quinze caixas de cachaça e rum que comprara fiado e jamais pagaria.
Instalou o festivo batalhão feminino em sua casa e, por cinco dias, sob os olhares curiosos da vizinhança, pintou portas, janelas e paredes, plantou flores no pequeno jardim, colocou cortinas nas portas que separavam os dois quartos do pequeno corredor que levava à sala e à cozinha, arrumou uma tina grande que serviria de banheira e a instalou na casinha do quintal. Estava montado o banheiro para banho e um buraco no chão para as demais necessidades do organismo. Tudo com a ajuda do mulherio que mexia com a libido da homenzarada com olhares pintados e sorrisos amarelos de tabaco e falta de higiene.
Sábado à noitinha, dividiram-se as raparigas em grupos e saíram pelas vielas convidando cada um e todos para a festa de inauguração da casa da alegria.
Às dez da noite via-se uma fila imensa na frente da casa de Zenistreu. Arcibalda e Jofrélia esmeravam-se em servir, em troca de algumas moedas, álcool para aqueles homens suados, ávidos e mal cheirosos que esperavam sua vez de descarregar sua masculinidade em algo mais agradável e perfumado que as burrinhas, cabras e vacas.
Em cada quarto, dois a dois os casais se formavam e defaziam. Na tina as mulheres faziam uma meia higiene que deixou a água opaca em pouco tempo.
Ao meio dia do domingo, Zenistreu fechava a contabilidade da primeira noite. Havia arrecadado mais do que em um mês arrecadaria no trabalho pesado de antes. Estava se formando a primeira fortuna de Aldeia do Pombal.
A alegria, porém, durou pouco. Padre Carlos ameaçou de excomunhão aquele exército de pecadores, os novos sodomitas, fez toda a população ver o fogo do inferno, sentir o cheiro do enxofre impregnado em suas carnes, mostrou a alma de cada um em eterna perdição, expulsou Zenistreu e as mulheres da Aldeia.
Burras cheias e querendo viver bem essa vida para preocupar-se com a eterna mais tarde, Zenistreu não se deu por vencido. A poucos quilômetros dali comprou as terras da viúva Lucianeide, remontou seu cabaré, agora com muito mais espaço e luxo, na casa grande da fazenda. Muito mais quartos, o que significava mais mulheres, dois salões, quatro banheiros, galpão para bebidas, tabaco e mesas de pano verde, escondidinhas do governo e dos padres.
Bastou pagar alguns merréis para um garoto espalhar a notícia na Aldeia para que as noites de cada dia da semana ficassem iguais às de sábado. O movimento não parava. Casinhas foram construidas ao redor do casarão, pensões, hotéis, bodegas, até o armazém de Castroaldo se mudara da Aldeia para ali.
Em um ano estava formada a cidade de Araçuaí e na Aldeia do Pombal só funcionavam a igreja de um padre desolado e o atracadouro onde eram carregadas e descarregadas as canoas.
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