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sexta-feira, setembro 01, 2006


Waka Tokori, José Luis Handal

Novo Nome

Adai não gostava do seu nome e jamais perdoaria seu pai pelo batismo. Já não bastasse um nome que gerava dúvidas sobre o gênero a que pertence quem o ostenta, ainda era acrescentado de um Júnior. Seu pai, não satisfeito de ter um nome tão feio, ainda o repetira no filho mais velho.

Quando garoto achava que fora fruto de uma gravidez indesejada e o nome era uma vingança. Mais tarde concluíra que não, não seria uma vingança, mas a satisfação do ego do pai. Filho sempre é satisfação de ego dos pais. Essa conversa de que a função do filho é perpetuar a espécie é coisa de biólogos e antropólogos. Tirando a Ásia e o Oriente Médio, onde há geurra todo dia e qualquer quedinha de bicicleta mata vinte de vez, em qualquer outro lugar do planeta a espécie já tinha exemplares garantidos por muitos séculos.

Homens e mulheres gostam de ter filhos apenas para poderem se gabar para os amigos, parentes e vizinhos de que fizeram u bolinho de carne lindo e inteligente, como eles dizem, perfeito, mesmo quando a criança é mais feia que bater em velho e mais burra que uma burra. Como se algum humano pudesse ser perfeito.

Pedia, implorava, chorava, esperneava, chantava seu Adair para que ele mudasse seu nome no cartório, mas o pai se negava. Dizia-se ofendido, como poderia o próprio filho renegar o nome do pai que o amava, alimentava, educava...? Rebuliços no ego ofendido.

Ao fazer dezoito anos arrumou um emprego. Saiu de casa, emancipou-se e entrou na justiça solicitando a mudança de nome. Passaram-se intermináveis cinco anos de entre argumentações, audiências, recursos, gavetas e prateleiras, até que o juiz o autorizasse a adotar uma nova identidade.

Hoje anda faceiro e orgulhoso, queixo erguido e satisfeito com o novo nome: Adenair Neto.

  • Para meu amigo que, enjoado do nome de batismo, João Bosco, conseguiu mudar para João Batista.

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