Não vou entrar no imbróglio histórico do grito do Ipiranga, da independência política de Portugale tais e coisas, que todos estão fartos de saber, mas a própria visão que cada um de nós tem da tal independência.
Palavrinha fácil, batida, quase tão ordinária quanto amor, que ninguém define, mas todo mundo sabe o que é, ou acha que sabe.
Independência, simplesmente, não existe! Em quê você é independente? Você se diz independente porque paga as próprias contas, tem seu próprio carro, não paga aluguel, banca sua cervejinha e sua feira. Você só faz isso, meu caro, ou minha cara, porque tem um emprego remunerado ou o próprio negócio, mas seu emprego ou seu próprio negócio só se sustenta porque existe uma clientela. Se não vender, não entra grana, se não entra grana você não pode se bancar. Você não é independente, depende da clientela, do mercado, do poder de compra da sociedade. O que há é uma interdependência.
Isso também ocorre com o país. Comemoramos a independência política nas decisões internas do Brasil. Passamos a não depender mais das ordens do reino português, então decadente. Nos tornamos um país autônomo em suas decisões internas.
Autônomo? Nem tanto, nem tanto. Com a saída de Portugal da linha de decisões, a Inglaterra, outro império da época, viu um tremendo mercado aberto. Bancou financeiramente a independência brasileira em troca de nossas matérias primas e nosso endividamento. Até a moeda brasileira passou a ser cunhada e impressa pelos ingleses. Começava aí nosso histórico de uma dívida externa impagável. Aliás, quem hoje poderia mensurar o tamanho dessa dívida?
As reservas internacionais brasileiras são hoje a maior de toda a história, o que faz de nós um país respeitado, até então imune à crise deflagrada pelo crash imobiliário estadunidense, mas com um olho no peixe, outro no gato. Com essa tal globalização o dinheiro entra e sai numa facilidade incrível. Se o primeiro-ministro japonês der um espirro, a bolsa de valores oscila. E essa enorme reserva de dólares que temos não vem por conta de nossa riqueza, mas do suor da classe média que banca o tal superávit primário. É um monte de dinheiro enorme que poderia estar socorrendo o caos da saúde pública ou gerando empregos, mas que é usado para acalmar o tal mercado, um bicho de quinhentos tentáculos, onipotente, e b muitas bocas vorazes, a maior dela, a boca da especulação.
Dependemos da poupança estadunidense, da aftosa inglesa, do petróleo venezuelano, do café colombiano, da borracha africana, dos automóveis japoneses, dos telefones finlandeses, da corrupção brasiliense, da dengue nacional e da sobriedade de um presidente e seus parceiros despreparados.
No fundo, a única dependência que temos é se vamos tomar banho agora ou depois do almoço. Se bem que dependemos de ter água na torneira e almoço na mesa.
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