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sábado, setembro 15, 2007

O texto abaixo foi-me enviado pela minha amiga Luz Stolze, coincidentemente (e nesse caso é coincidência mesmo) a revisora do meu livro que será lançado no próximo mês. Mas isso é outra história que contarei daqui a uns dias.


DOUTORADO NA PUC - TEMA: "PREGUIÇA BAIANA"" é faceta do racismo.
Date: Mon, 3 Sep 2007 10:01:23 -0300 (ART)


DOUTORADO NA PUC - TEMA: "PREGUIÇA BAIANA"

"Preguiça baiana" é faceta do racismo. A famosa "malemolência" ou preguiça baiana, na verdade, não passa de racismo, segundo concluiu uma tese de doutorado defendida na USP. A pesquisa que resultou nessa tese durou quatro anos. A tese, defendida no início de setembro pela professora de antropologia Elisete Zanlorenzi, da PUC-Campinas, sustenta que o baiano é muitas vezes mais eficiente que o trabalhador das outras regiões do Brasil e contesta a visão de que o morador da Bahia vive em clima de "festa eterna".

Pelo contrário, é justamente no período de festas que o baiano mais trabalha. Como 51% da mão-de-obra da população atua no mercado informal, as festas são uma oportunidade de trabalho. "Quem se diverte é o turista", diz a antropóloga.

O objetivo da tese foi descobrir como a imagem da preguiça baiana surgiu e se consolidou. Elisete concluiu, após quatro anos de pesquisas históricas, que a imagem da preguiça derivou do discurso discriminatórios contra os negros e mestiços, que são cerca de 79% da população da Bahia.


O estudo mostra que a elevada porcentagem de negros e mestiços não é uma coincidência. A atribuição da preguiça aos baianos tem um teor racista.

A imagem de povo preguiçoso se enraizou no próprio Estado, por meio da elite portuguesa, que considerava os escravos indolentes e preguiçosos, devido às suas expressões faciais de desgosto e a lentidão na execução do serviço (como trabalhar bem-humorado em regime de escravidão?).

Depois, se espalhou de forma acentuada no Sul e Sudeste a partir das migrações da década de 40. Todos os que chegavam do Nordeste viraram baianos. Chamá-los de preguiçosos foi a forma de defesa encontrada para denegrir a imagem dos trabalhadores nordestinos (muito mais paraibanos do que propriamente baianos), taxando-os como desqualificados, estabelecendo fronteiras simbólicas entre dois mundos como forma de "proteção" dos seus
empregos.

Elisete afirma que os próprios artistas da Bahia, como Dorival Caymmi, Caetano Veloso e Gilberto Gil, têm responsabilidade na popularização da imagem. "Eles desenvolveram esse discurso para marcar um diferencial nas cidades industrializadas e urbanas. A preguiça, aí, aparece como uma especiaria que a Bahia oferece para o Brasil", diz Elisete. Até Caetano se
contradiz quando vende uma imagem e diz: "A fama não corresponde à realidade. Eu trabalho muito e vejo pessoas trabalhando na Bahia como em qualquer lugar do mundo".

Segundo a tese, a preguiça foi apropriada por outro segmento: a indústria do turismo, que incorporou a imagem para vender uma idéia de lazer permanente "Só que Salvador é uma das principais capitais industriais do país, com um ritmo tão urbano quanto o das demais cidades."

O maior pólo petroquímico do país está na Bahia, assim como o maior pólo industrial do norte e nordeste, crescendo de forma tão acelerada que, em cerca de 10 anos será o maior pólo industrial na América Latina.

Para tirar as conclusões acerca da origem do termo "preguiça baiana", a antropóloga pesquisou em jornais de 1949 até 1985 e estudou o comportamento dos trabalhadores em empresas. O estudo comprovou que o calendário das festas não interfere no comparecimento ao trabalho. O feriado de carnaval na Bahia coincide com o do resto do país. Os recessos de final de ano também. A única diferença é no São João (dia 24 /06), que é feriado em todo
o norte e nordeste (e não só na Bahia). Em fevereiro (Carnaval) uma empresa, cuja sede encontra-se no Pólo Petroquímico da Bahia, teve mais faltas na filial de São Paulo que na matriz baiana (sendo que o n° de funcionários na matriz é 50% maior do que na filial citada). Outro exemplo: a Xerox do Nordeste, que fica na Bahia, ganhou os dois prêmios de qualidade
no trabalho dados pela Câmara Americana de Comércio (e foi a única do Brasil).

Pesquisas demonstram que é no Rio de Janeiro que existem mais dos chamados "desocupados" (pessoas em faixa etária superior a 21 anos que transitam por shoppings, praias, ambientes de lazer e principalmente bares de bairros durante os dias da semana entre 9 e 18h), considerando levantamento feito em todos os estados brasileiros. A Bahia aparece em 13°lugar.

Acredita-se hoje (e ainda por mais uns 5 a 7 anos) que a Bahia é o melhor lugar para investimento industrial e turístico da América Latina, devido a fatores como incentivos fiscais, recursos naturais e campo para o mercado ainda não saturado. O investimento industrial e turístico tem atraído muitos recursos para o estado e inflando a economia, sobretudo de Salvador, o que tem feito inflar também o mercado financeiro (bancos,financeiras e empresas prestadoras de serviços como escritórios de advocacia, empresas de auditoria, administradoras e lojas do terceiro setor).


Faça-me o favor de encaminhar este e-mail ao maior número possível de pessoas. Para que, desta forma, possamos acabar com este estereótipo de que o baiano é preguiçoso. Muito pelo contrário, somos dinâmicos e criativos. A diferença consiste na alegria de viver, e por isso, sempre encontramos animação para sair, depois do expediente ou da aula, para nos divertir com os amigos.


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Há uns dias o Ricardo Rayol postou um comentário aqui que dizia que o país vê os políticos do Nordeste como mais corruptos que o resto de país. Depois ele fez um post em seu blog comparando o prefeito de não lembro que cidade do Rio grande do Sul que desviava dinheiro da alimentação escolar com os políticos nordestinos como se houvesse um rancking de corrupção no país.

Desde esse dia venho me remoendo, ofendido, com essa comparação. Pensei em dez maneiras diferentes de responder às alfinetadas do Rayol, mas não consegui achar a forma ideal. Pensei, por exemplo, em listar todos os políticos não nordestinos envolvidos em falcatruas nos últimos anos, mas seria mais separatista do que meus intentos.

Pensei em fazer um discurso anti-discriminação contra os nordestinos, mas o resultado não seria bom, sairia agressivo.

E a coisa continuava me incomodando.

Como não sou de falar com ninguém sobre o que me aflige, provavelmente reflexo de alguém que, desde os 13 anos de idade, resolve seus problemas sozinho, contando somente com sua própria competência, com a sorte e com a ajuda ocasional dos amigos, fiquei me remoendo: Como dar uma resposta ao comentário do Ricardo sem parecer agressivo, ofendido ou, pior, um bebê chorão?

Como por telepatia, Luz me socorreu enviando o texto acima cuja autoria ela não me disse e eu, confesso, não pesquisei. Ainda não é exatamente o que eu gostaria de dizer, mas já é uma grande ajuda.

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Atualização:

Acho que atirei no próprio pé ao escrever o post acima. Tentando responder aos que discriminam os nordestinos, acabei machucando o Rayol que não tem nenhuma culpa, apenas foi o catalizador da minha insatisfação com aqueles que discriminam os nordestinos. O Rayol sentiu-se ofendido, o que não foi meu propósito e terminei ficando altamente desconcertado por ter provocado essa ofensa quando o que eu gostaria de dizer era outra coisa.

Vocês já devem ter percebido que estou altamente desconfortável com a reação que acabei provocando. Bom, vou mostrar a correspondência que acabamos trocando, talvez assim a coisa fique mais clara:

ahahahaha

Caraca Marcos, deixa de sacanagem. Não fiz um ranking de corrupção. O que quis dizer é que, aqui no sul maravilha, todos acham que as mazelas são provocadas pelo nordeste quando a verdade é bem outra. A roubalheira é generalizada. Essa percepção é tão arraigada que o movimento "O Sul é meu país" prega exatamente essa idéia de que o povo nordestino é indolente. Mas vamos aos fatos:

a) Não sou racista.

b) Sou nascido em Brasilia. Minha mãe é maranhense e meu pai, apesar de nascido em São Paulo por acaso, é de família cearense.

c) Os casos de corrupção em Florianópolis são tão ou mais sérios que os que ocorrem no nordeste. O sistema de saude está um caos. E outros quemais.

d) A unica diferença é que houve uma super exposição de esquemas, montados por politicos do Nordeste, por ocasião da formação da SUDAM e SUDENE. Aqui no sul se forem cavar deve sair algo parecido.

Não sei de onde tirou essa idéia e espero que minha explicação seja o suficiente. Peço a gentileza de corrigir o texto ou incluir meu comentário.

O e-mail que ele me enviou:
marcos
não se de onde tirou a idéia que sou racista ou discrimino nordestino. respondi ao teu post no comentário mesmo.
Como o que escreveu dá a impressão que realmente sou racista peço a gentileza de corrigir essa impressão ou publicar meu comentário, ia ser muito chato eu ter que escrever um post sobre isso.
grande abraço

Minha resposta:

Ih! Caramba, então não soube me explicar direito. Desculpe por isso, Rayol.

Deixa eu tentar explicar. Você postou o comentário "mas enquanto a maioria acreditar que as mairoes falcatruas são cometidas por politicos do nordeste isso tende a ser mais desejável. aqui no sul é fato." E foi isso que me incomodou, o fato de a maioria achar que as maiores falcatruas são praticadas pelos nordestinos. Acho que não deixei isso claro.

Não achei que você discrimina, sacou?, não disse isso. Por outro lado, sei que há uma grande discriminação contra o povo nordestino e nortista. O fato de chamarem todo nordestino de "baiano", em São Paulo, ou de "paraíba", no Rio, são formas de discriminar. O que me incomodou não foi você ter feito a comparação, mas ser esse o pensamento dessa maioria citada.

Não nego o grande número de corruptos existentes do Maranhão ao sul da Bahia, aliás, vivo batendo nesses caras, nos oligarcas, nos coronéis políticos e seus asseclas, nos politiquinhos que tentam e,às vezes, conseguem roubar até merenda escolar. O que me deixa possesso é o fato de tanta gente achar que esse tipo de coisa só acontece por aqui.

Seu comentário apenas provocou minha vontade de escrever a respeito, de externar minha insatisfação com os que nos discriminam, como se fôssemos os bobos, os coniventes, os comprados.

Peço desculpas de novo se o ofendi, não houve o propósito. Postarei essa nossa correspondência para que isso fique claro. Ok?

Abraço.



Me desculpo publicamente e espero ter encerrado o assunto entre nós dois, mas não com aqueles que realmente nos ofendem com essa comparação absurda que continuam fazendo.





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