Administrar dinheiro é fácil. Difícil é administrar a falta dele.
Culpa por outros
Ele me contou que em 1982 trabalhava numa empresa de telefonia em Belém. Vale lembrar que era plena ditadura militar e que todas as "teles" eram estatais.
As centrais telefônicas digitais eram novidade, pouquíssimas estavam funcionando no país. Nas analógicas então em operação era necessária uma manutenção diretamente nos juntores, as peças eletro-eletrônicas-mecânicas cheias de relés e fios, pelas quais passavam as ligações. Para cada conversa em curso um cursor era ocupado. Era comum um relé "colar" e a ligação cair. Quando isso ocorria uma luzinha ficava acesa, acusando um possível problema naquele juntor.
Um funcionário com um fone introduzia um plug no juntore ouvia parte da conversar para verificar se havia ou não alguma falha ocorrendo.
Vamos à segunda parte da história. Depois a gente junta as duas.
Naquele ano o presidente da república era o general João Batista Figueiredo. Apoiando os candidatos do PDS, partido dos ditadores e seus asseclas, ele iria a Belém no dia 14 de novembro, véspera das eleições. Na antevéspera de sua chegada o país vira pelo Jornal Nacional que um deputado estadual, de quem não consegui descobrir o nome nos arquivos d'O Liberal e que ele também não lembra, do MDB, único partido de oposição, morrera afogado em Santarém quando a lancha em que viajava naufragou em um igarapé.
No dia da chegada do general-presidente a Belém, encontraram o corpo do deputado.
Juntando as duas histórias e formando uma.
Imagine, caro leitor, o inferno que era a telefonia há 23 anos. Imagine agora o panavueiro que era quando um presidente, ainda por cima general e, ainda pior, no meio de uma ditadura, chegava a uma cidade com apenas o mínimo de estrutura no setor. Os técnicos ficavam com o fiofó na mão e passavam o dia inteiro dentro da central, prontos para resolver qulauqer anormalidade antes mesmo dela acontecer.
Lá pras tantas acendeu uma luzinha em um dos juntores. Ele correu pra lá e enfiou o plug na tomada. O que ouviu o tirou do chão.
Era uma conversa de alguém de Santarém com alguém de dentro do Palácio do governo. O homem da capital estava preocupado com as marcas no crânio do cadáver do deputado ao que o se Santarém o tranqüilizava, as marcas seriam tidas como machucados nas pedras do fundo do igarapé. O governador podia ficar seguro?, perguntava o do Palácio. Sem qualquer problema, o legista é nosso. E os caras que estavam com o governador na lancha? Já estão longe de Santarém.
Assustado ele chamou um colega para ouvir a conversa ao que o outro deu de ombros, como que dzendo esquece isso, não te mete. Mas há 23 anos ele não consegue esquecer.
Ao chegar em casa ele ligou para a Polícia Federal para comunicar um assassinato. O agente que o atendera disse que não recebiam denúncias anônimas, que ele deveria ir lá pessoalmente para formalizar a sua. Tá louco?
Escreveu uma carta anônima para o então ministro da justiça, hoje deputado federal por Minas Gerais, Ibrhim Abi Ackel. Nessa carta ele detalhava oteor da conversa que ouvira, sem dar maiores detalhes que pudessem levar a polícia até ele. Ao que tudo indica, nada adiantou.
Há 23 anos ele se tortura por saber que um homem fora morto e que seus algozes jamais foram punidos.
As centrais telefônicas digitais eram novidade, pouquíssimas estavam funcionando no país. Nas analógicas então em operação era necessária uma manutenção diretamente nos juntores, as peças eletro-eletrônicas-mecânicas cheias de relés e fios, pelas quais passavam as ligações. Para cada conversa em curso um cursor era ocupado. Era comum um relé "colar" e a ligação cair. Quando isso ocorria uma luzinha ficava acesa, acusando um possível problema naquele juntor.
Um funcionário com um fone introduzia um plug no juntore ouvia parte da conversar para verificar se havia ou não alguma falha ocorrendo.
Vamos à segunda parte da história. Depois a gente junta as duas.
Naquele ano o presidente da república era o general João Batista Figueiredo. Apoiando os candidatos do PDS, partido dos ditadores e seus asseclas, ele iria a Belém no dia 14 de novembro, véspera das eleições. Na antevéspera de sua chegada o país vira pelo Jornal Nacional que um deputado estadual, de quem não consegui descobrir o nome nos arquivos d'O Liberal e que ele também não lembra, do MDB, único partido de oposição, morrera afogado em Santarém quando a lancha em que viajava naufragou em um igarapé.
No dia da chegada do general-presidente a Belém, encontraram o corpo do deputado.
Juntando as duas histórias e formando uma.
Imagine, caro leitor, o inferno que era a telefonia há 23 anos. Imagine agora o panavueiro que era quando um presidente, ainda por cima general e, ainda pior, no meio de uma ditadura, chegava a uma cidade com apenas o mínimo de estrutura no setor. Os técnicos ficavam com o fiofó na mão e passavam o dia inteiro dentro da central, prontos para resolver qulauqer anormalidade antes mesmo dela acontecer.
Lá pras tantas acendeu uma luzinha em um dos juntores. Ele correu pra lá e enfiou o plug na tomada. O que ouviu o tirou do chão.
Era uma conversa de alguém de Santarém com alguém de dentro do Palácio do governo. O homem da capital estava preocupado com as marcas no crânio do cadáver do deputado ao que o se Santarém o tranqüilizava, as marcas seriam tidas como machucados nas pedras do fundo do igarapé. O governador podia ficar seguro?, perguntava o do Palácio. Sem qualquer problema, o legista é nosso. E os caras que estavam com o governador na lancha? Já estão longe de Santarém.
Assustado ele chamou um colega para ouvir a conversa ao que o outro deu de ombros, como que dzendo esquece isso, não te mete. Mas há 23 anos ele não consegue esquecer.
Ao chegar em casa ele ligou para a Polícia Federal para comunicar um assassinato. O agente que o atendera disse que não recebiam denúncias anônimas, que ele deveria ir lá pessoalmente para formalizar a sua. Tá louco?
Escreveu uma carta anônima para o então ministro da justiça, hoje deputado federal por Minas Gerais, Ibrhim Abi Ackel. Nessa carta ele detalhava oteor da conversa que ouvira, sem dar maiores detalhes que pudessem levar a polícia até ele. Ao que tudo indica, nada adiantou.
Há 23 anos ele se tortura por saber que um homem fora morto e que seus algozes jamais foram punidos.
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