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quinta-feira, setembro 22, 2005

Os quatro grandes profetas são três: Jacó e Jeremias.



Será que me enganei?


Sempre achei que gostava de política, desde minha primeira adolescência - a segunda ainda não sei quando termina. Meu pai era militar nada simpatizante da "Redentora" de 64, mas era militar e lia a revista Visão, de cunho mais governista que o próprio governo. Lia também os jornais que as dificuldades financeiras permitiam comprar. A imprensa sofria censura prévia, portanto só noticiavam o que interessava aos generais.

Ainda guri, sob a influência não sei de quem, aprendi a "filtrar" as notícias, tentava ler o subtexto. Até aprendi que texto, pretexto, contexto e subtexto juntos é que davam a informação mais verossímil.

Fã que era (e sou) do velho Chico, meu pai, fazia questão de ler o que ele lia, ouvir os noticiários do rádio que ele ouvia - assim conheci O Guarani, na abertura da Voz do Brasil - e passei a me interessar por política.

Durante todos esses anos era convicto de que gostava de política, nem que fosse pra criticar seus agentes ativos.

Agora, anos de noticiários depois e constantes, me bateu uma dúvida tremenda, quase uma crise existencial: gosto mesmo de política ou gosto mesmo é da informação?

Meu primeiro livro foi, aos sete anos, de histórias infantis, numa edição em espanhol, La Ratita Hermosa. Várias vezes o relia até que as palavras estrangeiras fizessem sentido e eu pudesse compreender cada historinha. Talvez daí venha meus gosto por línguas, embora mal, mal fale, leia e escreva uma. Ô, seus pervertidos! Línguas no sentido de idiomas! Pensando bem, nada contra as línguas que vocês pensaram. Pensaram, sim. Não me enganam...

Voltando à leitura.

Seu Chico lia bolsilivros. Vários por dia em seus dias de folga e me mandava trocá-los com os amigos. "Vai lá no Luizão e entrega esses livros pra ele e me traz os que ele te der", dizia o velho. Ao ver o prazer com que ele devorava aquelas novelinhas de faroeste, espionagem, ficção científica... logo, logo eu o estava imitando, o que me rendeu uma reprimenda de dona Luci: "Isso não é leitura pra criança!". Não adiantou. Continuei lendo os livrinhos do Chico e, de quebra, os da dona Luci.

Lia todos os livros escolares, não só os meus como os dos manos.

Mais tarde vieram as revistas semanais e a suprema descoberta, os jornais.

A política estava em todos os cantos, assim como nos dias atuais. Do gari ao médico, da manicure à freira todo mundo entrende de política quase tanto quanto de futebol e de novelas, ou seja, nada. Mas gosta e discute ou gosta de discutir.

No desencanto geral por que passa o país, estou começando a achar que gosto mais é de manter-me informado e não da politicanalice.

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