Pesquisar neste blog e nos da lista

sábado, setembro 17, 2005

Se a partir de hoje não mais nascessem ladrões, em trinta anos não haveriam mais políticos.



Aris-man e Margarida


Dia desses falei aqui do Mozart e do Paciência. Hoje me vieram à cabeça o Aris-man e a Margarida, outros dois seres da fauna eunapolitana que vivem quase completamente alheios ao mundo dos ditos normais. Vivem é modo de dizer uma vez que a pobre Margarida morreu atropelada há alguns meses.

O Aris-man tem por volta de quarenta e cinco anos, um metro e oitenta, aproximadamente, magro e falastrão. Filho de uma família classe média remediada, na juventude se jogou de cabeça nas drogas. Se dava barato, ele estava dentro. Maconha, barbitúricos, álcool, cocaina, LSD, haxixe... Só não deve ter provado do extasyporque não é de sua época.

Despirocou, parou com as drogas, voltou para Eunápolis depois de uma temporada viajando em São Paulo.

O que o diferencia dos demais "loucos" é o palavreado e a memória. Difícil dar um exemplo de uma frase dele, mas mistura gírias dos anos setenta com coisas totalmente desconexas que para ele formam uma frase com todos os sentidos.

O Aurora, empresário do ramo de movelaria e campeão de algumas etapas do Campeonato Brasileiro de Moto Cross, gostava de correr de manhã cedinho, juntava atrás de si todos os loucos da cidade: Aris-man, Cabecinha, Zé, Cosminho... Se bem que o Aurora também não é lá muito certo. Hoje o Aris-man é office-boy da movelaria de Aurora. Dá pra acreditar? Pois é, o cara faz depósitos, recolhe cheques devolvidos dos clientes, faz compras... Louco, mas responsável.

Quanto à memória, eu sou testemunha e prova. Há dez anos o Piçoca, um dos sujeitos mais errados que já conheci e que hoje representa o Cristo na Semana Santa em Santa Cruz Cabrália e único ser capaz de levar horas de conversação com o Aris-man, me apresentou o rapaz e me fez pagar um lanche para ambos. Desde então nunca mais trocamos palavras. Semana passada estava eu comendo uma coxinha numa lanchonete quando o Aris-man me abordou: "Marquinhos, paga uma coxinha pra mim?". Dez anos depois o cara lembrou meu nome. Só por isso ganhou o lanche.

Já a Margarida apareceu não se sabe de onde. Há quem diga que de Itabuna. Velhota, muito mal cuidada, faltando quase todos os dentes, vestia-se espalhafatosamente, cheia de cores nas roupas, sempre de vestido, e um monte de panos multicoloridos jogados por cima. Em alguma butique de sua cidade vocês já devem ter visto um exemplar desses fantasiado de madame. Pra cima e pra baixo lá ia a Margarida - nome dado por algum botequeiro, ninguém sabe o verdadeiro - com sua indefectível mochila marrom cheia de trapos.

Ela tinha o deplorável hábito de levantar a saia e mijar na calçada em frente ao bar mais cheio. Gritava e mostrava "aquilo" para os outros. Só em pensar dá ânsia de vômito. Um ginecologista poderia fazer-lhe um exame completo a dez metros de distância.

Volta e meia encontrávamos a Margarida numa cidade vizinha, Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália, Itabela, Itagimirim... E ela ia a pé. Essas caminhadas a levaram à morte.

Aris-man e Margarida se encontraram, se apaixonaram e passaram a namorar. De dia e de noite os encontrávamos passeando de mãos dadas ou trocando carinhos pelos bancos da praça.

Numa certa sexta-feira, por volta das oito da noite, Aris-man e Margarida faziam sexo, completamente nus, na fonte da praça, sua piscina particular, bem no centro do comércio. Logo juntou multidão. Aplausos, assovios, chiliques dos mais puritanos, fotos, muitas fotos, repórter de rádio... E os dois lá, nem aí pra platéia.

No dia seguinte o prefeito tomou uma atitude. Reformou a praça e acabou com a fonte.

Nenhum comentário: