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quarta-feira, setembro 28, 2005

Tudo é uma questão de hermenêutica um tanto quanto circucinfláutica.



Quer maniçoba?


Maniçoba - S. f. Bras. 2. Alimento feito de grelos de mandioca misturados com carne ou peixe, e só temperado com sal e pimenta.
(Dicionário Aurélio Escolar da Língua Portuguesa)

A maniçoba é um dos pratos de aparência mais repugnante que conheço, parece bosta de vaca, mas é, de longe, o meu predileto. Imagino que os leitores do sudeste e do sul nunca sequer tenham ouvido falar de tal acepipe e quem viu, se for renitente, não teve coragem de provar. Por outro lado, quem gosta de feijoada deveria experimentar.

Tem duas maneiras de se fazer para comer maniçoba. Vamos à primeira e mais difícil, fazendo.

Pega-se bastante folha de mandioca e passa no liquidificador, sem os talos, apenas as folhas, até ficarem bem quebradinhas. Aos mais ligados à cozinha de raiz recomendo quebrá-las no pilão. Feito isso cozinha-se a maçaroca em água por sete dias em fogo de carvão, dioturnamente.

Essa é a maneira amazônica e explica-se porquê. A folha de mandioca é altamente tóxica. A fervura prolongada inocula a ação de suas toxinas. No nordeste, mormente no sertão da Bahia, essa ação é feita pela lavagem sucessiva e criteriosa das folhas já moídas. São cinco lavagens muito bem feitas. A toxicidade da maniva, a folha de mandioca, é tão grande que pode matar até grandes bovinos.

Assustou? Não precisa. Feito esse processo de depuração o risco some.

Continuando. No sexto dia de fervura as folhas estarão num verde muito escuro, daí o aspecto de bosta de gado. Acrescentam-se, então, todas as carnes utilizadas na feijoada. Carne de sol, orelha, rabo, joelho de porco, toucinho, paio, bacon, enfim, tudo o que se acostuma colocar na feijoada. Isso foi acrescentado com o tempo. A maniçoba tem origem indígena por isso era feita com peixe. Nas misturas que só no Brasil ocorrem, algum esperto substituiu o peixe pelas carnes embotadas e salgadas.

Acrescentadas as carnes devidamente dessalgadas, cozinha-se por mais uma noite.

No dia seguinte pode ser servida acompanhada apenas de farinha ou com farinha e arroz branco e, pra quem gosta, uma pimentinha. Bom demais!

A segunda maneira, bem mais fácil, porém mais cara, muito mais cara, é viajar a Belém no segundo domingo de outubro. Em todas as casas da cidade vai ter uma maniçoba ou um pato no tucupi, ou ambos.

Nesse dia é comemorado o Círio de Nazaré, padroeira da cidade. Uma romaria que leva mais de um milhão de pessoas às ruas e que, na verdade, começou uma semana antes.

Nada religioso como sou adorava o Círio, não pela manifestação religiosa, mas para poder ser convidado pelos amigos para comer a maniçoba da Virgem.





O Poetrando ainda está atualizado. Se demorarem ele deixa de estar.

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