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sexta-feira, setembro 30, 2005

Os navios estão a salvo nos portos, mas não foi para ficar ancorados
que eles foram criados.



Invenções


Quando guri eu não sonhava em ser bombeiro, policial, jogador de futebol ou astronauta, queria mesmo ser inventor. Ficava horas admirando o funcionamento dos mais simples mecanismos e encantado com a idéia de que muitos deles haviam nascido do acaso ou da persistência de alguma mente brilhante e que tornaram-se imprescindíveis para nosso conforto, segurança, lazer...

Lembro bem da fascinação que uma fechadura me causou aos seis anos de idade. Alberto, um dos meus irmãos mais invetivos, discutiu comigo durante horas sobre o funcionamento dessa maquinazinha tão simples, mas sem a qual ninguém mais consegue viver tranqüilo, a não saer que seja um eremita no interior de sua caverna, mas como não conheço nenhum eremita...

Tem gente que sabe ganhar dinheiro com seus inventos simples, mas muito práticos. É o caso daquela dona de casa que, cansada de desperdiçar arroz durante a lavagem dos grãos, inventou o lavador de arroz que todos nós temos em casa. A tal senhora patenteou o invento e ganhou rios de dinheiro com ele. Merecidamente enriquecida, diga-se de passagem.

Premiar o mérito é essencial para o progresso de uma civilização. Mas no Brasil, infelizmente, tornou-se política de governo premiar a cor da pele, a pobreza, inclusive de espírito, e o analfabetismo com essa política de cotas para as universidades, por exemplo. Mas esse é outro papo.

Isso pode ter alguma utilidade
Há quem crie coisas a partir de suas necessidades diárias, como a senhora do lavador de arroz ou o inventor desse esfregão...

Como funciona isso?
ou quem criou um negócio desses.

Imaginem o desperdício de água
Já outros inventos podem até resolver seus problemas imediatos, mas imaginem quanta água não pode ser desperdiçada com o uso de uma vassoura dessas na lavagem de sua calçada...

Essas coisinhas e outras você pode encontrar nesse site.

aqui você pode ver as coisas mais esdrúxulas que uma mente doente pode inventar como esse chapéu para fumantes:Só o dono pra usar um bagulho desses...

Nem todo mundo é louco que se acha gênio, como esses do último site aí de cima. No Brasil existe a Associação Nacional dos Inventores. Foram patenteados por meio da Associação diversos produtos nacionais que estão em uso no nosso dia a dia, assim como algumas loucuras que dificilmente chegarão às nossas mãos por meio de indústrias sérias.

Uma dessas eu comprariaEssa tábua de passar roupas, por exemplo, poderia muito bem se adaptar ao meu apertamento. Quem a inventou provavelmente mora numa quitinete.

Pode ser útil, mas pode ser um perigoE isso aqui, você saberia dizer o que é? Um berço com colchonete-balancinho. Sei, não. Pelo comodismo dos pais o bebê poderia ganhar um balancinho, mas fico imaginando o risco de um bebê meter a mão entreo o colchão e a parede do berço. Isso poderia causar um machucado sério na criança. sem falar que o Dráuzio Varela poderia aparecer no fantástico mostrando que o balanço do bebê pode causar labirintite, irritabilidade ou até mongolismo. A idéia pode até ser boa, mas é prática?

Nessa minha busca por sites de invenções, o que mais me agradou mesmo foi a Galeria de Invenções Brasileiras. Tão bom ver o quanto o brasileiro é criativo, inventivo e sortudo por ter tanta matéria prima. Num mapa você vê grandes invenções brasileiras pelo estado de seus inventores.

Fiquei surpreso, por exemplo, em saber que o identificador de chamadas telefõnicas - o BINA - é brasileiro, assim como é brasileiro o cartão telefônico.

Salva-vidasEsse é um ventilador pulmonar que pode ser usado em qualquer tipo de resgate e é uma invenção capixaba. Como esse, vários outros inventos brasileiros da mais alta qualidade podem ser vistos por lá. Vale a visita para quem se interessa pelo assunto.

A propósito, eu também tenho meu invento e não é nada inútil, muito pelo contrário. Inventei uma janela para ser usada em edifícios.

Volta e meia a gente lê em jornais das grandes cidades a morte de uma empregada doméstica que caiu de um andar alto quando limpava as janelas do apartamento. Minha janela foi criada justamente para evitar esse tipo de acidente. Não vou entrar em detalhes porque ainda não consegui patenteá-la, mas quem sabe um dia...?

quarta-feira, setembro 28, 2005

Tudo é uma questão de hermenêutica um tanto quanto circucinfláutica.



Quer maniçoba?


Maniçoba - S. f. Bras. 2. Alimento feito de grelos de mandioca misturados com carne ou peixe, e só temperado com sal e pimenta.
(Dicionário Aurélio Escolar da Língua Portuguesa)

A maniçoba é um dos pratos de aparência mais repugnante que conheço, parece bosta de vaca, mas é, de longe, o meu predileto. Imagino que os leitores do sudeste e do sul nunca sequer tenham ouvido falar de tal acepipe e quem viu, se for renitente, não teve coragem de provar. Por outro lado, quem gosta de feijoada deveria experimentar.

Tem duas maneiras de se fazer para comer maniçoba. Vamos à primeira e mais difícil, fazendo.

Pega-se bastante folha de mandioca e passa no liquidificador, sem os talos, apenas as folhas, até ficarem bem quebradinhas. Aos mais ligados à cozinha de raiz recomendo quebrá-las no pilão. Feito isso cozinha-se a maçaroca em água por sete dias em fogo de carvão, dioturnamente.

Essa é a maneira amazônica e explica-se porquê. A folha de mandioca é altamente tóxica. A fervura prolongada inocula a ação de suas toxinas. No nordeste, mormente no sertão da Bahia, essa ação é feita pela lavagem sucessiva e criteriosa das folhas já moídas. São cinco lavagens muito bem feitas. A toxicidade da maniva, a folha de mandioca, é tão grande que pode matar até grandes bovinos.

Assustou? Não precisa. Feito esse processo de depuração o risco some.

Continuando. No sexto dia de fervura as folhas estarão num verde muito escuro, daí o aspecto de bosta de gado. Acrescentam-se, então, todas as carnes utilizadas na feijoada. Carne de sol, orelha, rabo, joelho de porco, toucinho, paio, bacon, enfim, tudo o que se acostuma colocar na feijoada. Isso foi acrescentado com o tempo. A maniçoba tem origem indígena por isso era feita com peixe. Nas misturas que só no Brasil ocorrem, algum esperto substituiu o peixe pelas carnes embotadas e salgadas.

Acrescentadas as carnes devidamente dessalgadas, cozinha-se por mais uma noite.

No dia seguinte pode ser servida acompanhada apenas de farinha ou com farinha e arroz branco e, pra quem gosta, uma pimentinha. Bom demais!

A segunda maneira, bem mais fácil, porém mais cara, muito mais cara, é viajar a Belém no segundo domingo de outubro. Em todas as casas da cidade vai ter uma maniçoba ou um pato no tucupi, ou ambos.

Nesse dia é comemorado o Círio de Nazaré, padroeira da cidade. Uma romaria que leva mais de um milhão de pessoas às ruas e que, na verdade, começou uma semana antes.

Nada religioso como sou adorava o Círio, não pela manifestação religiosa, mas para poder ser convidado pelos amigos para comer a maniçoba da Virgem.





O Poetrando ainda está atualizado. Se demorarem ele deixa de estar.

terça-feira, setembro 27, 2005

"Quem dá sardinha em lata em plena beira de mar é coqueiro"
- Aldir Blanc-



Ouviram do Ipiranga


Foi ouvido, desde as margens tranqüilas do Riacho do Ipiranga, o grito barulhento de um povo bravo e lutador. A partir daí os rais brilhantes da Liberdade iluminaram o céu do país como um sol.

Se a garantia da igualdade prometida pelos ideais da Revolução Francesa nosso povo conseguiu conquistar com decisão, no colo da Liberdade desafiamos a nóssia própria morte com o peito aberto para defendê-la.

Salve! Salve! Nossa Pátria amada, adorada.

Desce à terra brasileira um raio brilhante de amor e de esperança, basta o Cruzeiro do Sul aparecer com sua grandeza no céu do Brasil.

Um país que já nasce grande, lindo, forte, gigante que nada teme e que já mostra os reflexos dessa grandeza no próprio futuro.

Entre todas as pátrias, amada é o Brasil, nossa Pátria adorada.

Essa Pátria é a mãe atenciosa e carinhosa de todos que nela nascem.


No novo continente, a América, o Brasil encontra-se em posição privilegiada pela beleza magnífica, um mar e um céu sem fim. O país brilha como o ornato de pedras preciosas da coroa do continente, que por si só já mostra a majestade.

Nossa natureza é rica, única, sendo essa a terra mais alegre, mais brilhante. A fauna e a flora são as mais ricas do planeta. Com tudo isso nesta terra nossas vidas são as mais românticas, mais cheias de amor.

Salve! Salve! Nossa Pátria amada, adorada.

A bandeira estrelada que o Brasil mostra erguida que seja o símbolo eterno do amore que o verde dessa bandeira exprima as glórias que tivemos em nossa história e a paz que teremos no futuro.

Se o brasil precisar pegar em armas para defender a Justiça, não verá nenhum brasileiro fugir da luta e os que o amam não terão medo da morte ao defendê-la.

Entre todas as pátrias, a amada é o Brasil. Nossa Pátria adorada.

Essa Pátria é a mãe atenciosa e carinhosa de todos que nela nascem.

Essa "tradução" livre do nosso hino mostra como eram idelaistas e românticos nossos ancestrais e como as gerações futuras - incluindo as nossas - traíram esses ideais.





Volto a lembrar: o Poetrando está atualizado.

segunda-feira, setembro 26, 2005

Se o dinheiro fala, o meu sempre diz adeus.



Ladrões a Granel


O Brasil continua sendo quase um país de primeiro mundo, quase...

Num item, porém, superamos os países do hemisfério norte disparadamente: a corrupção.

Na Inglaterra, por exemplo, um goleiro de futebol foi punido por ter recebido dinheiro para perder alguns jogos. Além da prisão e toda aquela tralha legal, por um bom tempo não poderá freqüentar estádios. Um delitozinho bobo.

Aqui, país das falcatruas, gambiarras, fraudes, gatos de luz e água, safadezas, fraudes e impunidades e, além disso tudo, de tolinhos que se matam, divorciam-se e gastam seus minguados caraminguás para verem 22 analfabetos correndo atrás de uma pelota de couso, um árbitro em conluio com alguns "empresários", comandava milhões em apostas on-line num site que a legislação brasileira proibe.

O tal árbitro já fora flagrado apresentando um diploma falso para poder freqüentar um curso promovido pela Federação Paulista de Futebol. Os jornais noticiaram, tentaram criar um escandalozinho, mas ficou por isso mesmo. Ninguém tomou qualquer atitude para puní-lo. O sujeito fez o tal curso e chegou aos quadros de árbitros da FIFA, entidade máxima do futebol e aspiração dos apitadores de todo o mundo.

Quem rouba um grão, rouba um milhão, já diz o povo. O cara armou o lance do diploma e ficou liberado para ganhar algo em torno de R$ 5 mil por noventa minutos de trabalho, fora passagens aéreas, hospedagem e alimentação. Por que não poderia fazer nesse mesmo tempo o triplo da renda e livre de qualquer taxa ou imposto?

Armou um esqueminha com os tais empresários, decidiam os resultados dos jogos antes deles acontecerem e embolsavam a grana dos otários.

Quinze mil reais por noventa minutos de trabalho! Putaqueopariu! Quem ganha isso aí, levante a mão! Tenho que fazer minhas contas pra saber se ganho isso por ano.

Eu sou crédulo, mas não sou simplório. Não gasto meu suado dinheirinho em apostas, em shows que não valham a pena, muito menos para ver desocupados se divertindo numa arena. E ninguém me convencerá que esse é o único esquema desse tipo em andamento nos esportes do país e nem que todos os envolvidos estão presos e serão punidos. Concorda, Eurico Miranda?





Demorei, mas atualizei o Poetrando. Querem ver?

domingo, setembro 25, 2005

Não paramos de nos divertir por ficarmos velhos. Envelhecemos porque paramos de nos divertir.




RISADINHA MINEIRA

Vô contá como é triste, vê a veíce chegá,
vê os cabêlo caíno, vê as vista incurtá.
Vê as perna trumbicano, com priguiça de andá.
Vê "aquilo" esmoreceno, sem força prá levantá.

As carne vão sumino, vai parecêno as vêia.
As vista diminuíno e cresceno a sombrancêia.
As coisa vão encurtano, vão aumentano as orêia.
Os ôvo dipindurano e diminuíno a pêia.

A veíce é uma doença que dá em todo cristão:
dói os braço, dói as perna, dói os dedo, dói a mão.
Dói o figo e a barriga, dói o rim, dói o pumão.
Dói o fim do espinhaço, dói a corda do cunhão.

Quando a gente fica véio, tudo no mundo acontece:
vai passano pelas rua e as menina se oferece.
A gente óia tudo, benza Deus e agradece,
correno ligeiro prá casa, procurano o INSS.

No tempo que eu era moço, o sol prá mim briava
Eu tinha mil namorada, tudo de bão me sobrava.
As menina mais bonita, da cidade eu bolinava.
Eu fazia todo dia, chega o bichim desbotava.

Mas tudo isso passô, faz tempo ficô prá tráis
as coisa que eu fazia, hoje num sô capaiz.
O tempo me robô tudo, de uma maneira sagaiz.
Prá falá mesmo a verdade, nem trepá eu trepo mais.

Quando chega os setenta, tudo no mundo embaraça.
Pega a muié, vai pra cama, aparpa, beija e abraça,
porém só faz duas coisa:
sorta peido e acha graça


Roubei da Daíza que roubou da Gracilene.

sexta-feira, setembro 23, 2005

Se quem ama adivinhasse o mal que o ciúme faz, não daria falso um passo, nem pra frente e nem pra trás.
Provérbio Brasileiro



Sou Invejoso


Como vai sua inveja?

Todo mundo diz que odeia - palavra da moda - a inveja e os invejosos, mas todos invejamos alguém. Pode ser uma inveja predatória ou apenas uma invejazinha, mas invejamos. Não adianta fazer beicinho, invejamos mesmo e já invejamos e ainda não atingimos o nirvana para não invejarmos futuramente.

Pode parecer hipocrisia, mas não tenho nada contra a inveja, não mesmo. Senão, vejamos. Quando alguém nos inveja é porque temos algo de bom, afinal de contas não é normal se invejar coisas ruins. Ser alvo de inveja me envaidece. "Vaidade é pecado!", diria alguém. Inveja também é, mas não acredito em pecados.

Por outro lado, quando invejo alguém é uma maneira de eu procurar me aprimorar ao ponto de ser como é essa pessoa ou de ganhar mais grana para poder comprar um bem igual ao que ela possui.

A inveja é saudável! Nocivo é o sentimento predatório, o excesso de inveja que leva à destruição de algo ou de alguém, mas aí já não é simplesmente inveja. Por trás dela pode haver rancor, frustração, o tal ódio... Não há porque culpar-se simplesmente a inveja.

Era pra ser uma introdução pequena e acabei divagando. O propósito desse texto era falar da inveja que tenho de algumas pessoas por esse país afora e que não creio um dia poder me equiparar a elas. Não tenho o talento, a disponibilidade de tempo, a sorte e os contatos delas, mas as invejo e as consumo.

Clóvis Rossi, Roberto pompeu de Toledo, Diogo Mainardi, Millôr Fernandes, a Catanhede, Arnaldo Jabor, Luiz Fernando Veríssimo, João Ubaldo Ribeiro... Esse povo vive para e de pensar e escrever. Tem coisa melhor? Tem, tem coisa melhor: viver pra pensar e escrever, ganhar um bomsalário por isso e, ainda por cima, ser bom no que faz.

Era só o que eu queria pra mim. Disponibilidade de tempo para dormir à hora que quisesse sem hora pra acordar, receber uma grana "federal" (notem as aspas, por favor) no final de cada mês e passar as horas em que estivesse acordado lendo, pensando e escrevendo. Que maravilha!

Fala aí, é ou não é invejável a a posição desse povo?

quinta-feira, setembro 22, 2005

Os quatro grandes profetas são três: Jacó e Jeremias.



Será que me enganei?


Sempre achei que gostava de política, desde minha primeira adolescência - a segunda ainda não sei quando termina. Meu pai era militar nada simpatizante da "Redentora" de 64, mas era militar e lia a revista Visão, de cunho mais governista que o próprio governo. Lia também os jornais que as dificuldades financeiras permitiam comprar. A imprensa sofria censura prévia, portanto só noticiavam o que interessava aos generais.

Ainda guri, sob a influência não sei de quem, aprendi a "filtrar" as notícias, tentava ler o subtexto. Até aprendi que texto, pretexto, contexto e subtexto juntos é que davam a informação mais verossímil.

Fã que era (e sou) do velho Chico, meu pai, fazia questão de ler o que ele lia, ouvir os noticiários do rádio que ele ouvia - assim conheci O Guarani, na abertura da Voz do Brasil - e passei a me interessar por política.

Durante todos esses anos era convicto de que gostava de política, nem que fosse pra criticar seus agentes ativos.

Agora, anos de noticiários depois e constantes, me bateu uma dúvida tremenda, quase uma crise existencial: gosto mesmo de política ou gosto mesmo é da informação?

Meu primeiro livro foi, aos sete anos, de histórias infantis, numa edição em espanhol, La Ratita Hermosa. Várias vezes o relia até que as palavras estrangeiras fizessem sentido e eu pudesse compreender cada historinha. Talvez daí venha meus gosto por línguas, embora mal, mal fale, leia e escreva uma. Ô, seus pervertidos! Línguas no sentido de idiomas! Pensando bem, nada contra as línguas que vocês pensaram. Pensaram, sim. Não me enganam...

Voltando à leitura.

Seu Chico lia bolsilivros. Vários por dia em seus dias de folga e me mandava trocá-los com os amigos. "Vai lá no Luizão e entrega esses livros pra ele e me traz os que ele te der", dizia o velho. Ao ver o prazer com que ele devorava aquelas novelinhas de faroeste, espionagem, ficção científica... logo, logo eu o estava imitando, o que me rendeu uma reprimenda de dona Luci: "Isso não é leitura pra criança!". Não adiantou. Continuei lendo os livrinhos do Chico e, de quebra, os da dona Luci.

Lia todos os livros escolares, não só os meus como os dos manos.

Mais tarde vieram as revistas semanais e a suprema descoberta, os jornais.

A política estava em todos os cantos, assim como nos dias atuais. Do gari ao médico, da manicure à freira todo mundo entrende de política quase tanto quanto de futebol e de novelas, ou seja, nada. Mas gosta e discute ou gosta de discutir.

No desencanto geral por que passa o país, estou começando a achar que gosto mais é de manter-me informado e não da politicanalice.
Os quatro grandes profetas são três: Jacó e Jeremias.



Será que me enganei?


Sempre achei que gostava de política, desde minha primeira adolescência - a segunda ainda não sei quando termina. Meu pai era militar nada simpatizante da "Redentora" de 64, mas era militar e lia a revista Visão, de cunho mais governista que o próprio governo. Lia também os jornais que as dificuldades financeiras permitiam comprar. A imprensa sofria censura prévia, portanto só noticiavam o que interessava aos generais.

Ainda guri, sob a influência não sei de quem, aprendi a "filtrar" as notícias, tentava ler o subtexto. Até aprendi que texto, pretexto, contexto e subtexto juntos é que davam a informação mais verossímil.

Fã que era (e sou) do velho Chico, meu pai, fazia questão de ler o que ele lia, ouvir os noticiários do rádio que ele ouvia - assim conheci O Guarani, na abertura da Voz do Brasil - e passei a me interessar por política.

Durante todos esses anos era convicto de que gostava de política, nem que fosse pra criticar seus agentes ativos.

Agora, anos de noticiários depois e constantes, me bateu uma dúvida tremenda, quase uma crise existencial: gosto mesmo de política ou gosto mesmo é da informação?

Meu primeiro livro foi, aos sete anos, de histórias infantis, numa edição em espanhol, La Ratita Hermosa. Várias vezes o relia até que as palavras estrangeiras fizessem sentido e eu pudesse compreender cada historinha. Talvez daí venha meus gosto por línguas, embora mal, mal fale, leia e escreva uma. Ô, seus pervertidos! Línguas no sentido de idiomas! Pensando bem, nada contra as línguas que vocês pensaram. Pensaram, sim. Não me enganam...

Voltando à leitura.

Seu Chico lia bolsilivros. Vários por dia em seus dias de folga e me mandava trocá-los com os amigos. "Vai lá no Luizão e entrega esses livros pra ele e me traz os que ele te der", dizia o velho. Ao ver o prazer com que ele devorava aquelas novelinhas de faroeste, espionagem, ficção científica... logo, logo eu o estava imitando, o que me rendeu uma reprimenda de dona Luci: "Isso não é leitura pra criança!". Não adiantou. Continuei lendo os livrinhos do Chico e, de quebra, os da dona Luci.

Lia todos os livros escolares, não só os meus como os dos manos.

Mais tarde vieram as revistas semanais e a suprema descoberta, os jornais.

A política estava em todos os cantos, assim como nos dias atuais. Do gari ao médico, da manicure à freira todo mundo entrende de política quase tanto quanto de futebol e de novelas, ou seja, nada. Mas gosta e discute ou gosta de discutir.

No desencanto geral por que passa o país, estou começando a achar que gosto mais é de manter-me informado e não da politicanalice.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Shakespeare era francês e seu nome era Jacques Pierre.
Lohn Lenon era paraibano e chamava-se João Lemos.



Avril e a Universidade


"Por que as pessoas entram na faculdade? Parra arrumar um emprego. Eu já tenho um trabalho", disse Avril Lavigne, cantora teen canadense, segundo a revista Época.

A princípio, nada contra as declarações da moça. Com seu segundo grau provavelmente feito nas coxas, ou entre elas, ela ganha muito mais dinheiro do que muito pós-doutorado mundo afora. Como ídolo de adolescentes, porém, esse tipo de afirmação cria um ideal que a sorte, o destino, as runas, Deus, ou o que quer que seja, privará seus fãs de alcançar.

Há três anos tive um aluno que rebateu um discurso meu sobre a necessidade do estudo citando seus ídolos quase analfabetos que tinham uma fortuna acumulada. Romário, Ronaldinho, Rivaldo... - nem preciso dizer que o moleque é fanático por futebol - eram seus exemplos de gente que não estudou e que é milionária. Pra completar, partiu para o que achava ser ofensa pessoal: "você estudou e jamais vai ganhar a metade do que eles ganham". Ele nem precisava dizer isso. Nem em uma vida inteira vou ganhar o que um deles ganha por mês, mas também não tenho seu talento nem preguiça mental.

De nada adiantou eu argumentar que os caras ganham o que ganham porque são excessões. Além de serem craques, conseguiram estar no lugar certo, na hora certa e, mais importante, com as pessoas certas.

Mas a vida é um bumerangue...

Semana passada encontrei com o ex-aluno na rua. Encabulado, meio sem jeito, me deu um abraço e, admitindo o erro passado, me agradeceu pelo trabalho que tive em tentar convencê-lo a estudar. Iria prestar um concurso e caiu na real de que tudo o que lhe dissera tinha o único propósito de colocá-lo na trilha certa e que, infelizmente, só agora percebia isso, quando precisava recorrer aos livros para definir seu futuro.

Essa é minha obrigação profissional, por isso não cabem agradecimentos. Também lamento que ele tenha perdido tanto tempo.

O que realmente dói é saber que a cada dia mais e mais jovens mal orientados se rendem aos ideais, ou falta de, alheios e desperdiçam seus potenciais em coisas fúteis.

Hoje de manhã uma aluna me citou a frase acima da Avril Lavigne para justificar seu desinteresse pelos livros. Só espero amanhã vê-la num palco milionário e não engraxando as botas de um milionário.

terça-feira, setembro 20, 2005

Dinheiro não compra felicidade. Aluga, usa e depois devolve gasta.



Pieguice, reconheço


Não sou nada chegado a mensagenzinhas água-com-açúcar do tipo que têm sempre uma moral no fim, textinhos de auto-ajuda. Entendo e respeito quem gosta, antes que alguém me jogue pedras.

Hoje, porém, vi uma cena que não me permitiu deixar de comparar cabras e bodes com humanos.

Estava eu, tranqüilinho, fiscalizando a natureza, sem nada com o que me preocupar - esse é meu maior problema, excesso de soluções para nenhum problema - observando um rebanho de cabras pastando num terreno aqui vizinho. Eram uns trinta exemplares entre machos e fêmeas adultos e alguns filhotes. Eles espalham-se pelo capinzal enquanto comem, mas não afastam-se, estão sempre em grupo.

Pretos, marrons claros, marrons escuros, brancos, acinzentados, pastam e convivem como se a única preocupação fosse se amanhã o capim ainda estará verde.

Não sei se era a calma do dia, o templo nublado que me remete à infância, se algum resquício de melancolia na alma, se li Sabrina demais na adolescência e os reflexos estão aparecendo agora, se estou apaixonado por uma filósofa graduada ou por Paulo Coelho, filósofo de rodinha de baseado... Sei lá! Só sei que fiquei a me perguntar por que os humanos não agem como os bodes e cabras que convivem em harmonia, respeitando-se o sexo, cores e idades. Nada de estresse maior do que alimentar-se e cuidar da prole.

Será que o filósofo tinha razão e o homem é mesmo o segundo erro de Deus?

segunda-feira, setembro 19, 2005

Quando a população mundial resumia-se a cinco pessoas, 20% eram assassinos.



O Chip da Energia


Quando falta energia elétrica por uma noite os transtornos são imensos e a irritação que nos acomete é daquelas de desejar a morte do presidente e de todos os funcionários da companhia de energia. Isso, porém, é café pequeno. Vamos imaginar se faltasse energia no país inteiro durante uma semana.

Quanto maior o centro urbano, tanto maiores os problemas. Numa cidade como São Paulo, por exemplo, onde milhões de pessoas locomovem-se diariamente de metrô e trolebus, funcionários aos milhares não conseguiriam chegar às suas empresas o que levaria à quase totalidade delas a não funcionarem. Além da falta de funcionários, a grande maioria das empresas funciona a partir de equipamentos elétricos. O complexo bancário não funcionaria, impedindo boa parte da circulação de dinheiro. Sem dinheiro o comércio pararia; alimentos, às montanhas, se perderiam nos freezers e frigoríficos da indústria, supermercados, hotéis, restaurantes e em nossas casas. Asilos, orfanatos e hospitais, por conta da falta de alimentos, apresentariam mortandade em massa de seus internos.

No trânsito morreriam milhares a mais dos milhares que já morrem. Sem sinalização luminosa nas cidades e com os já conhecidos despreparo e impaciência de nossos motoristas, a essa altura mais estressados que o habitual, acidentes aconteceriam por segundos. Com a falta de condição de abastecer ônibus e automóveis, essas mortes diminuiriam com o decorrer dos dias. Seriam substituídas pelas mortes decorrentes de saques e assaltos por parte dos desesperados e dos criminosos oportunistas. Todo o sistema de informação pararia e, em pouquíssimo tempo, até os telefones calariam.

Neurotizados, cidadãos comuns também passariam aos saques, tornar-se-iam assaltantes e assassinos. Levados pelo desespero passariam a procurar comida e água para si e para os seus a qualquer custo.

Setores como as polícias e as Forças Armadas, que têm estoque de alimentos para períodos relativamente longos, em pouco tempo não seriam suficientes para colocar ordem nas ruas.

Em pouquíssimos dias voltaríamos à Idade Média.

Sete cidades do Extremo Sul Baiano ficaram quatro dias, durante a Semana Santa de '95, sem energia elétrica. Por sorte era feriadão, o que causou menores estragos, mas os prejuízos financeiros em Porto Seguro, por exemplo, cheia de turistas, até hoje ocupam a Justiça, último recurso para que os donos de hotéis, pousadas e restaurantes sejam indenizados.

Isso tudo até parece roteiro de filme, mas está muito próximo de uma futura realidade.

Toda a distribuição da energia gerada em Itaipu, acreditem, depende de um único chip de computador. Assustadora situação, não?

sábado, setembro 17, 2005

Se a partir de hoje não mais nascessem ladrões, em trinta anos não haveriam mais políticos.



Aris-man e Margarida


Dia desses falei aqui do Mozart e do Paciência. Hoje me vieram à cabeça o Aris-man e a Margarida, outros dois seres da fauna eunapolitana que vivem quase completamente alheios ao mundo dos ditos normais. Vivem é modo de dizer uma vez que a pobre Margarida morreu atropelada há alguns meses.

O Aris-man tem por volta de quarenta e cinco anos, um metro e oitenta, aproximadamente, magro e falastrão. Filho de uma família classe média remediada, na juventude se jogou de cabeça nas drogas. Se dava barato, ele estava dentro. Maconha, barbitúricos, álcool, cocaina, LSD, haxixe... Só não deve ter provado do extasyporque não é de sua época.

Despirocou, parou com as drogas, voltou para Eunápolis depois de uma temporada viajando em São Paulo.

O que o diferencia dos demais "loucos" é o palavreado e a memória. Difícil dar um exemplo de uma frase dele, mas mistura gírias dos anos setenta com coisas totalmente desconexas que para ele formam uma frase com todos os sentidos.

O Aurora, empresário do ramo de movelaria e campeão de algumas etapas do Campeonato Brasileiro de Moto Cross, gostava de correr de manhã cedinho, juntava atrás de si todos os loucos da cidade: Aris-man, Cabecinha, Zé, Cosminho... Se bem que o Aurora também não é lá muito certo. Hoje o Aris-man é office-boy da movelaria de Aurora. Dá pra acreditar? Pois é, o cara faz depósitos, recolhe cheques devolvidos dos clientes, faz compras... Louco, mas responsável.

Quanto à memória, eu sou testemunha e prova. Há dez anos o Piçoca, um dos sujeitos mais errados que já conheci e que hoje representa o Cristo na Semana Santa em Santa Cruz Cabrália e único ser capaz de levar horas de conversação com o Aris-man, me apresentou o rapaz e me fez pagar um lanche para ambos. Desde então nunca mais trocamos palavras. Semana passada estava eu comendo uma coxinha numa lanchonete quando o Aris-man me abordou: "Marquinhos, paga uma coxinha pra mim?". Dez anos depois o cara lembrou meu nome. Só por isso ganhou o lanche.

Já a Margarida apareceu não se sabe de onde. Há quem diga que de Itabuna. Velhota, muito mal cuidada, faltando quase todos os dentes, vestia-se espalhafatosamente, cheia de cores nas roupas, sempre de vestido, e um monte de panos multicoloridos jogados por cima. Em alguma butique de sua cidade vocês já devem ter visto um exemplar desses fantasiado de madame. Pra cima e pra baixo lá ia a Margarida - nome dado por algum botequeiro, ninguém sabe o verdadeiro - com sua indefectível mochila marrom cheia de trapos.

Ela tinha o deplorável hábito de levantar a saia e mijar na calçada em frente ao bar mais cheio. Gritava e mostrava "aquilo" para os outros. Só em pensar dá ânsia de vômito. Um ginecologista poderia fazer-lhe um exame completo a dez metros de distância.

Volta e meia encontrávamos a Margarida numa cidade vizinha, Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália, Itabela, Itagimirim... E ela ia a pé. Essas caminhadas a levaram à morte.

Aris-man e Margarida se encontraram, se apaixonaram e passaram a namorar. De dia e de noite os encontrávamos passeando de mãos dadas ou trocando carinhos pelos bancos da praça.

Numa certa sexta-feira, por volta das oito da noite, Aris-man e Margarida faziam sexo, completamente nus, na fonte da praça, sua piscina particular, bem no centro do comércio. Logo juntou multidão. Aplausos, assovios, chiliques dos mais puritanos, fotos, muitas fotos, repórter de rádio... E os dois lá, nem aí pra platéia.

No dia seguinte o prefeito tomou uma atitude. Reformou a praça e acabou com a fonte.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Ainda não foi dessa vez que se livraram de mim. Morri em trezentos paus num novo HD, tô tendo que reconfigurar tudo, perdi alguns arquivos e, pior, a lista dos meus favoritos, mas ainda estou vivo. Amanhã eu posto decentemente porque agora estão me esperando para a sagrada farra de sexta-feira. Continuem por aqui.

quarta-feira, setembro 14, 2005

Feriados católicos e cívicos são poucos. Queremos também os judeus, islâmicos, taoístas, evangélicos, indígenas...



Oh, Dúvida Cruel...


Por que se fabricam carros que podem atingir 300 km/h para serem comercializados no Brasil se a velocidade máxima permitida nas rodovias é 100 km/h? Carros com essa potência deveriam ficar restritos às ambulâncias, bombeiros e polícias. Depois gastam-se fortunas em campanhas sobre segurança no trânsito e direção responsável. Ah! Terminei de descobrir por que se fabricam carros que podem atingir 300 km/h para serem comercializados no Brasil.

Por que os pacientes atendidos pelo SUS recebem um tratamento, os atendidos por planos de saúde privados têm outro e os que pagam à vista têm o melhor? Esperar o quê de alguém que faz o juramento de Hipócrates? Olha só o nome do sujeito...

Por que os homens não telefonam no dia seguinte à uma noite de caçada bem sucedida? De manhã ele percebe que ela não é morena, os cabelos são pintados; seus olhos não são azuis, é lente de contato; seus seios não têm o mesmo volume e forma que aparentavam ontem, o sutião que tem arame de sustentação e/ou enchimento; a bunda dela não tem a volúpia que mostrava ter, era o algodão preenchendo a calcinha. Para não ter o trabalho de recorrer ao Procon preferem sumir.

Existe vida inteligente em outro planeta? O que isso me interessa se sequer descobri se existe vida inteligente nesse?

Por que os homens pensam mais que as mulheres e elas falam mais que eles? Porque eles têm duas cabeças e elas seis lábios. Tá, já sei, essa foi infame. Me desculpem, mas não pude resistir.

Pra onde vão os bichos de goiaba quando não é tempo de goiaba? Sei lá! Pras maçãs?

Por que os impostos têm nome de ipostos? Porque são impostos, oras!

O que são milagres? O que nós, ignorantes científicos, não conseguimos explicar.

Por que todos os santos são católicos? Corporativismo religioso.

Por que a gente faz tanta pergunta imbecil? Não sei, mas mais imbecil é quem nada pergunta por achar que já sabe todas as respostas. Vou livrar a cara dos tímidos.

terça-feira, setembro 13, 2005

Hamster é um rato com pedigree.



Encontro Marcado


No livro O Que É Isso, Companheiro?, Fernando Gabeira narra um encontro dele com um amigo brasileiro pelas ruas de uma cidade qualquer da Suíça, onde encontrava-se asilado durante a ditadura.

Vinham ele e uma amigo suíço caminhando quando encontraram outro brasileiro, amigo de Gabeira. Abraços, cumprimentos, as devidas apresentações... Lá pras tantas o amigo brasileiro convida os dois para uma feijoada que daria no domingo em sua casa. Gabeira confirmou a presença e o papo continuou. Papo vai, papo vem, meia hora depois o cara reforça o convite e mais uma vez Gabeira diz que vai e o papo continua. Na hora de despedirem-se tapinhas nas costas, recomendações às devidas famílias e mais uma vez o convite para a feijoada domingueira, prontamente confirmada a presença do escitor.

Quando se despediram o suíço perguntou que mania brasileira era aquela de fazer o mesmo convite diversas vezes numa mesma conversa se o convidado já o aceitara na primeira vez, ao que Gabeira respondeu "essa é a maneira dele dizer que não vai estar me esperando e de eu dizer que não irei".

Acho que fui suíço na última encarnação. Crioulo, mas suíço. Se convido alguém ou se sou convidado para alguma coisa e se o convite é aceito, pra mim significa que um compromisso foi firmado. Meu lado imbecil, porém, ainda se irrita cada vez que levo um bolo.

Crédulo como eu sou nas pessoas, sempre acho que o próximo compromisso será cumprido e é aí que me dou mal.

E nem falei da pontualidade...

segunda-feira, setembro 12, 2005

"A pior forma de covardia é testar o poder na fraqueza do outro."



Gente e Animais


Não sou eco-xiita, participante da S.O.S. Mata Atlântica, Projeto Tamar, não contribuo para o WWF ou para o Greenpeace. Não significa que não dou importância para os trabalhos realizados por esses grupos. Muito pelo contrário. Não só admiro como tenho o maior respeito por esses idealistas e abnegados.

Gosto de mato, de fazenda, de praias e rios limpos... Gosto mesmo. Gosto de ver animais soltos, canto de passarinho, andar por trilhas no meio do mato...

Acho até que o mundo seria perfeito se não houvesse o ser humano para estragar tudo aos pouquinhos. Mas não é por esse mínimo espírito naturalista que vou escrever o que vem aí embaixo, não.

Quem foi o sabidão que inventou de chamar com o nome de bichos as pessoas a quem repudia ou até as que agrada?

Coruja é a mãe zelosa. Disso é fácil de entender o espírito. Filhote de coruja é muito feio, mas a mãe o protege como a um tesouro. Filhote de bicho-gente também não é nada bonito, confessem.

Burro é aquele sujeito que não consegue aprender ou raciocinar logicamente. Seria mais nobre se se chamasse de burro aquele que trabalha com afinco, sem reclamar, apenas em troca de comida e água.

Elefante e baleia, usados para pessoas gordas. Não poderia ser usado para quem é forte, paciente e injustiçado?

Pardal é o cara inteligente, criativo. Essa comparação surgiu com o personagem dos quadrinhos de Walt Disney, onde o Professor Pardal era um gênio que inventava qualquer coisa. Eu, porém, usaria pardal para denominar aqueles chatos que vêm de fora para perturbar quem está quieto. Antes que alguém proteste explico logo que isso não é demonstração de xenofobia, mas de preconceito contra a chatice, mesmo dos conterrâneos. Ah!, chato também é animal. Um animal, convenhamos, muito chato!

Anta é burro de butique. Aliás, tem-se tornado tão comum que pouca gente diz "eu sou muito burro", quando faz uma besteira. Hoje prefere-se auto-denegrir-se dizendo "eu sou uma anta", o que dá ao termo um poder superlativo. Como todos os paquidermes, a anta é pacífica e muito simpática. Já não sinto a mesma simpatia por imbecis.

Jaburu, mulher feia. Eu não acho o jaburu tão feio. É desengonçado, mas não feio. Não sabe o que é jaburu? É a mesma ave pernalta que ficou conhecida como tuiuiu, um dos símbolos do Pantanal.

Melhor parar por aqui que já tem gente me achando uma besta.

domingo, setembro 11, 2005

Apresentando

Um layout novo em folha.
Estou aqui, sem palavras e ele ainda me diz que eu sou boa com elas que, fogem de mim.
Levei uma hora pra digitar esse testículo e estou sendo prolixa demais.
Sei que ninguém vai entender o dito acima, mas nem foi mesmo pra ser entendida que estou digitando.
Prometido há muito tempo. Espero que tenha ficado ao gosto do dono do blog.
Eu juro que outro dia eu volto com muita calma e deixo por "acá" palavras inefáveis e invejáveis!

[Cara de paisagem!]

Beijocas

Lelinha, a doninha da canetinha.
Muito bonita a casa nova, a madrinha aqui aprovou!

Karina

sábado, setembro 10, 2005

- Tô com reiva desse ômi!
- O que ele lhe fez?
- Me ofendeu.
- Como?
- Me deu um diçonáro de presente.




Mozart, Paciência e Traição


Gostei desse título.

Pero, não se enganem, incautos leitores. O texto nada tem a ver com o músico austríaco, muito menos com a decantada virtude da paciência.

Mozart, pronuncia-se mozár, é um daqueles serzinhos invisíveis em qualquer cidade, mas de tanto o vermos indo e vindo não se sabe de ou para onde, acaba por atiçar nossa curiosidade.

Esse senhor, sempre bêbado a ponto de nos dar a impressão de que anda trôpego mesmo quando sóbrio (se é que algum dia nos últimos anos andou nessa condição), veste-se com a elegância simples de um funcionário público de quinto escalão. Sapato de couro, camisa de algodão e indefectível calça de tergal. Não anda sujo ou maltrapilho, o que me levou a deduzir que havia alguém em casa tomando conta dele. Mais tarde vim a saber que é a mãe.

Mozart é um daqueles mecânicos natos. Diz nossa lenda urbana que o infeliz senhor, que aparenta ter entre 45 e 50 anos, consertava desde relógio de pulso a motor de carreta sem nunca ter tomado qualquer curso.

Outra figura lendária no centro de Eunápolis é o Paciência. Ninguém sabe ao certo seu nome.

O rapaz é querido e alimentado pelos lojistas. Nas últimas eleições apareceram até cartazes lançando sua candidatura a prefeito. Trata todos com a educação que sua timidez permite. Veste-se com roupas velhas doadas e as enfeita como faria o Falcão, caso fosse mendigo, pendurando qualquer tralha no pescoço ou no peito da camisa, à guisa de broche.

Ao contrário de Mozart, Paciência tem um ponto fixo. Passa o dia sentado na calçada em frente a uma loja de CD's (não gosto dessa grafia. O correto seria CC.DD., mas encontra-se em desuso, por isso poucos sabem disso) tocando bateria em latas e pratos velhos.

Alguém um dia o reconheceu como ex-baterista de uma banda de Belo Horizonte no final dos anos 70 e início dos 80.

O que mais esses dois têm em comum além de suas vidas heterodoxas? Ambos despirocaram de vez depois de serem traídos por suas mulheres amadas.

O amor só é lindo quando é novo e/ou quando correspondido.

sexta-feira, setembro 09, 2005

Filho, a trepada que dura uma vida.



Crise de Vida


Em busca, sempre, de explicações simplistas que no final das contas não explicam nada, mas que satisfazem os pouco exigentes, é comum as pessoas se tranqüilizarem com justificativas cabalísticas, metafísicas, astrológicas ou simplesmente inexplicáveis para seus problemas.

A Micha propôs como tema para seu post comunitário "A Crise dos 20". Para ser franco, não entendi sequer o tema, quanto a haver crise numa idade específica é a coisa mais boba que posso imaginar.

Crise por crise, vamos lá:

- Crise do nascimento: tava tão bom dentro do útero quentinho, protegido e alimentado 24 horas por dia... Oh, Deus, por que me fizeste nascer?

- Crise do jardim da infância: estava tão bom em casa, o rei (ou rainha) do lar; dormir, comer, brincar e, ainda por cima, ser paparicado(a). Por que, Senhor, inventaste compromissos para mim, quando estava tão bem sem nenhum?

- Crise de filho mais velho: era só eu, estava tudo muito bem, o centro das atenções, ninguém com quem dividir meus brinquedos, meu chocolate e os carinhos, agora nasce essa verruga pra encher o saco. Oh, Pai, por que não esterelizaste meu pai depois que eu nasci?

- Crise da puberdade: que vergonha! Pêlos na púbis, pêlos nas axilas, pêlos nas pernas e braços, mudança de voz, interesse pelo sexo oposto, polução noturna, crescimento dos seios... Socorro! Estou virando um monstro.

E por aí vai. A cada etapa da vida, cria-se mais uma crise. Essa dos 20 eu nunca havia ouvido falar, de repente, em menos de três meses, parece que é uma teoria proposta e comprovada por todas as áreas da ciência.

Não existem crises cíclicas e, sim, fases naturais do desenvolvimento tanto físico quanto psíquico do indivíduo. Aquilo por que uma pessoa passa aos 22 anos, outra pode encarar aos 25, um terceiro aos 18 e mais uma nunca enfrentar.

A genialidade está na simplicidade, não no simplismo.

quinta-feira, setembro 08, 2005

Administrar dinheiro é fácil. Difícil é administrar a falta dele.




Culpa por outros


Ele me contou que em 1982 trabalhava numa empresa de telefonia em Belém. Vale lembrar que era plena ditadura militar e que todas as "teles" eram estatais.

As centrais telefônicas digitais eram novidade, pouquíssimas estavam funcionando no país. Nas analógicas então em operação era necessária uma manutenção diretamente nos juntores, as peças eletro-eletrônicas-mecânicas cheias de relés e fios, pelas quais passavam as ligações. Para cada conversa em curso um cursor era ocupado. Era comum um relé "colar" e a ligação cair. Quando isso ocorria uma luzinha ficava acesa, acusando um possível problema naquele juntor.

Um funcionário com um fone introduzia um plug no juntore ouvia parte da conversar para verificar se havia ou não alguma falha ocorrendo.

Vamos à segunda parte da história. Depois a gente junta as duas.

Naquele ano o presidente da república era o general João Batista Figueiredo. Apoiando os candidatos do PDS, partido dos ditadores e seus asseclas, ele iria a Belém no dia 14 de novembro, véspera das eleições. Na antevéspera de sua chegada o país vira pelo Jornal Nacional que um deputado estadual, de quem não consegui descobrir o nome nos arquivos d'O Liberal e que ele também não lembra, do MDB, único partido de oposição, morrera afogado em Santarém quando a lancha em que viajava naufragou em um igarapé.

No dia da chegada do general-presidente a Belém, encontraram o corpo do deputado.

Juntando as duas histórias e formando uma.

Imagine, caro leitor, o inferno que era a telefonia há 23 anos. Imagine agora o panavueiro que era quando um presidente, ainda por cima general e, ainda pior, no meio de uma ditadura, chegava a uma cidade com apenas o mínimo de estrutura no setor. Os técnicos ficavam com o fiofó na mão e passavam o dia inteiro dentro da central, prontos para resolver qulauqer anormalidade antes mesmo dela acontecer.

Lá pras tantas acendeu uma luzinha em um dos juntores. Ele correu pra lá e enfiou o plug na tomada. O que ouviu o tirou do chão.

Era uma conversa de alguém de Santarém com alguém de dentro do Palácio do governo. O homem da capital estava preocupado com as marcas no crânio do cadáver do deputado ao que o se Santarém o tranqüilizava, as marcas seriam tidas como machucados nas pedras do fundo do igarapé. O governador podia ficar seguro?, perguntava o do Palácio. Sem qualquer problema, o legista é nosso. E os caras que estavam com o governador na lancha? Já estão longe de Santarém.

Assustado ele chamou um colega para ouvir a conversa ao que o outro deu de ombros, como que dzendo esquece isso, não te mete. Mas há 23 anos ele não consegue esquecer.

Ao chegar em casa ele ligou para a Polícia Federal para comunicar um assassinato. O agente que o atendera disse que não recebiam denúncias anônimas, que ele deveria ir lá pessoalmente para formalizar a sua. Tá louco?

Escreveu uma carta anônima para o então ministro da justiça, hoje deputado federal por Minas Gerais, Ibrhim Abi Ackel. Nessa carta ele detalhava oteor da conversa que ouvira, sem dar maiores detalhes que pudessem levar a polícia até ele. Ao que tudo indica, nada adiantou.

Há 23 anos ele se tortura por saber que um homem fora morto e que seus algozes jamais foram punidos.

segunda-feira, setembro 05, 2005


O maior defeito da democracia é que somente o partido que não está no governo sabe governar.



Domingo, dia internacional do tédio



Para quem é casado e tem filhos pequenos, é dia de fazer piquenique, passear de bicicleta, fazer um churrasquinho no fundo do quintal, enfim, de reunir todos e botar o carinho em dia.

Para quem tem filhos adolescentes e vive em função deles é dia de começar cortando a grama, arrumar aquela prateleira que está despencando há dias, de lavar o carro... Fazer tudo aquilo que os filhos poderiam ajudar a fazer, mas como dormirão até a hora da macarronada domingueira recuperando-se da balada de sábado, você te que fazer sozinho.

Para os bem mais velhos que têm seus filhos morando fora, preparando-se para cuidarem de seus próprios rebentos, é dia de acordar cedo, coisa em que a vida lhes viciou em fazer. Fazer aquelas coisinhas que se faz todos os dias. A mãe faz pequenos retoques na arrumação da casa, o pai vai à padaria. Depois ficam quietinhos esperando os filhos ligarem ou aparecerem para o almoço.
Para os solteiros, tem-se um mundo de opções. Dormir até tarde, acordar cedo para assistir ao jogo do Brasil contra a Itália. Acordar mais tarde um pouquinho para assistir à fórmula um. Acordar a qualquer hora, pegar a bicicleta e dar umas bandas por aí pra ver se encontra os camaradas. Não acordar.

Se eu morrer no sábado, me enterrem na segunda porque domingo não saio de casa.

Domingo é meu dia de organizar a semana que entra. Na segunda-feira as pessoas costumam ir ao trabalho com cara de quem vai à guerra. Cara de poucos amigos, mau humor, aquelas coisinhas que afastam qualquer um que não vai trazer uma cerveja e meia hora de prosa fiada. Como sou meio formiga, vivo pra trabalhar e sei que é daí que vem meu feijão com arroz, gosto de começar a semana de bom humor. Por isso tiro o domingo pra me preparar. Nada de qualquer tipo de stress.




Os mais atentos e mais antigos devem lembra-se disso. Pois é, falta de inspiração.

domingo, setembro 04, 2005

Os links foram atualizados. Alguns foram retirados e muitos, acrescentados. Aos dispostos a descobrirem coisas novas e boas, boa viagem!

sábado, setembro 03, 2005

Quem disse que a vida é engraçada? Pode ser boa, mas não engraçada.




Independência


Não gosto de pegar carona.
Não gosto de fazer planos que dependam de alguém.
Não gosto de combinar programas.
Não gosto de me apaixonar.
Não gosto de marcar encontros.
Não gosto de marcar viagens.
Enfim, não gosto de nada que nos faça depender de alguém, de seus gostos, seus horários, sua disponibilidade, de seu humor ou falta de, de seu paladar,...

Não fui educado assim e nem nasci assim, uma adolescência dura e solitária me deu isso. Uma das cicatrizes eternas.
Mas isso é outro papo totalmente desnecessário agora. Se bem que meu gosto pela independência também é.

Tô ranzinza, não tô?

Produto de cinco dias coçando a barriga com todos os planos derramados como água em bacia de bebê por indisponibilidade de quem fazia parte dos planos. E por que essa indisponibilidade? Porque quem fazia parte dos planos também contava com outros "alguéns" e assim se formou uma corrente, até que meus planos dependiam de gente que nunca vi na feira vendendo quiabo e quem nem sabia de sua existência.

Melhor parar por aqui que ninguém tem saco pra ladainhas.

Quem for enforcar o feriado, aproveite. Eu vou caçar o que fazer.


quinta-feira, setembro 01, 2005

Liberdade é passar a mão na bunda do guarda.

(Máxima rebelde dos anos 60)



A Explicação


Devo confessar, o propósito do post de ontem foi provocar comentários. Um joguinho para conhecer melhor a "clientela". Calma, eu explico.

"O Casamento dos Pequenos Burgueses" é a letra de uma das músicas da peça A Ópera do Malandro, escrita e musicada por Chico Buarque, uma belezura, como disse a Baratinha logo no primeiro comentário. Depois veio o Morcego e outros amantes da boa música e também identificaram o texto. Ao ler esses dois comentários me senti frustrado e satisfeito. Frustrado pelo medo de que ninguém assumisse sua ignorância em relação àquela poesia, mas feliz porque meus leitores se mostravam pessoas bem informadas e de bom gosto (igual a mim, se me permitem a total falta de modéstia). Por outro lado, ficou evidente que boa parte dos mais jovens, alguns bastante cultos, pelo que vejo em seus blogs, não se ligam muito nos cássicos nacionais. Os "enlatados" ainda são mais chamativos. Né, Selph? Né, Luma? Né, Sônia? Né, Lelinha? Né, Gabriel Brito?

Como o blog é essencialmente um diário, é normal que o leitor associe o conteúdo do texto ao cotidiano do seu autor. As perguntas mais freqüentes eram se eu estava apaixonado, se ia me casar... Hein? É comigo?

Outra coisa que me chamou a atenção e que não foi nem um pouquinho lisonjeiro foi a pergunta direta do Selph: "de quem é?". Nas entrelinhas ele estava dizendo "isso não pode ser seu. Não teria capacidade pra tanto". Confesso que não teria mesmo, mas precisava ser tão direto? Doeu.

Frustrei vocês? Com certeza esperavam algo mais sensacional, mas, confessem, foi original, não foi? Eu pelo menos estou satisfeito. Conheci vocês um pouquinho mais.




O Poetrando está acessível.