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quarta-feira, outubro 10, 2007

Cuba




Algumas pessoas que conheci por essa vida merecem meu mais profundo respeito, a defesa sem titubear, e a Zeca é uma delas. Com essa mulher aprendi muito e serei grato para sempre. Formada em Serviço Social pela Universidade Federal do Pará, tornou-se marxista desde que soube o que é o marxismo. Não vive de favores, como os amiguinhos companheiros que aderiram à causa sem conhecê-la, ela estuda e trabalha profundamente. Sinto, porém, que ela tornou-se uma sectária mesmo condenando o sectarismo nos verdes anos de nossos primeiros contatos.

Ela me enviou o texto abaixo, que há dias venho ruminando uma maneira de responder criticamente. Ela não é autora, mas o simples fato de mo enviá-lo, demonstra que concorda com ele, enquanto eu tenho várias posições mais parcimoniosas ou de rejeição. O que está em negrito, é minha resposta imediata ao texto original. Se tiverem interesse e paciência, sigam-me e estejam à vontade para meterem o bedelho seja de que lado for:

CUBA ESTÁ DANDO CERTO!!


É engraçado ouvir ou ler os comentários de alguns brasileiros que passam alguns dias em Cuba, a turismo ou a trabalho, e manifestam opiniões definitivas sobre o país. Horrorizam-se com as moradias precárias e deterioradas e com as crianças que lhes pedem balas e chicletes nas ruas. Há mendigos, alardeiam. Criticam as filas, impressionam-se com os ônibus lotados e espantam-se porque todos os cubanos não têm acesso a todos os serviços e bens de consumo (contrário à doutrina marxista, diga-se de passagem, que pregava a igualdade de direitos e oportunidades). Vêem na existência de prostitutas e malandros nas ruas como prova definitiva de que Cuba vai mal, muito mal (isso não pode ser indicativo de que vai bem). Há pessoas que cometem atos ilícitos, roubando produtos nas fábricas e cometendo delitos, vejam só (em qualquer lugar do mundo, a miséria leva à ilicitude). E ainda lembram que milhares de cubanos procuram deixar o país, rumo aos Estados Unidos e a outros países do Primeiro Mundo. Esses brasileiros - entre os quais alguns jornalistas -- voltam ao nosso país com a idéia de que Cuba está à beira do colapso, tal a crise econômica que enfrenta e a falta de perspectivas para superá-la. E transmitem isso aos que os ouvem e, no caso dos jornalistas, aos que os lêem ou assistem (o colapso já se abateu sobre Cuba, mas isso discutiremos mais adiante ao refutar os argumentos que virão). Parece que esses brasileiros não vivem no Brasil. Pois falam como se aqui não existissem favelas e pessoas morando sob pontes e marquises. Como se aqui não houvesse crianças pedindo nas ruas, nem mendigos. Como se não houvesse filas. Vendo-os criticar Cuba, a impressão que se tem é de que no Brasil o transporte coletivo funciona muito bem. E que, em nosso país, qualquer cidadão pode comprar o que quiser e freqüentar qualquer restaurante, sem se preocupar com os preços. Além disso, não há prostitutas nem malandros em nossas ruas, ninguém rouba e nenhum brasileiro deixa o país para tentar a vida nos Estados Unidos, no Japão e na Europa. O Brasil, a julgar pelos comentários desses brasileiros que criticam Cuba por coisas como essas, está em ótima situação econômica, em pleno desenvolvimento. Sem pobreza, sem miséria, sem fome e sem desemprego. E em excelente situação no que diz respeito à criminalidade e à moralidade pública (a miséria e as celeumas sociais brasileiras existem, mas isso não quer dizer que as de Cuba diminuem. O fato é que se plantou no Brasil a idéia de que Cuba é o paraíso e quem sai daqui esperando encontrar só belezas, fartura, bem estar geral, se decepciona. O mesmo ocorre com os brasileiros que visitam diversos pontos turísticos dentro do próprio Brasil e descobrem que esses lugares não são a Ilha da Fantasia que pregam os folhetos publicitários. A desgraça brasileira não ameniza a desgraça cubana. Usar desses argumentos é cobrir a cabeça e descobrir os pés).

Muitas críticas podem ser feitas a Cuba, e mais especificamente ao sistema político, econômico e social que lá vigora - e que, naturalmente, não é perfeito. Há problemas na sociedade cubana, e muitos (muitíssimos!). Mas esse tipo de críticas superficiais, de quem se esquece de olhar no espelho, cai no ridículo. São críticas que partem ou de um preconceito ideológico, ou de um desconhecimento profundo da real situação de Cuba ou do simplismo que caracteriza as observações de turistas apressados e jornalistas despreparados. Se deixassem o preconceito ideológico de lado e procurassem conhecer mais a realidade de Cuba, esses brasileiros saberiam que: - Cuba é um país pequeno, um arquipélago de 110.922 quilômetros quadrados e 11,2 milhões de habitantes, e poucos recursos naturais. Um país colonizado pelos espanhóis, que o exploraram até 1898. Tem todas as características históricas e culturais dos países latino-americanos. É um país pobre, do Terceiro Mundo (não precisa visitar Cuba para saber disso. Qualquer enciclopédia razoável é capaz de dar esses dados). - Cuba sofre hostilidades praticadas pelos poderosos Estados Unidos da América, ou com sua cumplicidade, há 43 anos: não apenas um bloqueio econômico drástico, como também ações armadas (essas ações armadas não ocorrem há décadas. A invasão frustrada da Baía dos Porcos foi uma tremenda lição aos ianques), atos de terrorismo (idem, a não ser que estejamos todos mal informados. Se isso ainda ocorre, seria interessante o autor mostrar fontes de informação), atentados a dirigentes (idem), transmissões radiofônicas e televisivas incitando à revolta (a guerra de propaganda existe de lado a lado, não é novidade, além de ser um estratagema usado por anos a fio em todos os lugares onde há conflitos no mundo), incentivos materiais e políticos à derrubada do governo e muitas outras (mais uma informação que precisa de fontes). - Com o fim da União Soviética e do bloco socialista europeu, de 1989 a 1991, Cuba passou a enfrentar uma crise econômica de enormes proporções (uma constatação que sua economia era de mentirinha, bancada por pesados subsídios soviéticos). Perdeu, praticamente de um dia para outro, 85% de seu comércio externo (não havia comércio externo. O que havia, de fato, era uma política de escambo. Cuba mandava açúcar para a União Soviética, por exemplo, e em troca recebia produtos, combustível, armamentos, que se fossem trocados a preços justos, a bancarrota cubana teria acontecido muito antes. E os soviéticos não alimentavam Cuba porque os cubanos são bonitos e têm olhos azuis, mas pela sua posição estratégica. Em troca do “açúcar”, a URSS instalou mísseis atômicos apontados para Miami e Nova Iorque). Seu Produto Interno Bruto caiu 34,8%, de 1990 a 1993 (novamente a falta de fonte confiável. Que houve uma tremenda queda, não resta dúvida, mas os números exatos são desconhecidos. Parte da guerra de informações). O déficit fiscal, em 1993, era de 33,5% do PIB (idem). A relação peso-dólar chegou a 140 por 1 (no final do “milagre brasileiro” a relação dólar-cruzeiro chegou a 1:13.000, o Brasil também estava quebrado). - Mesmo sendo um pequeno país de Terceiro Mundo, enfrentando uma pesada crise econômica e sofrendo bloqueio econômico e hostilidades por parte da maior potência da Terra, Cuba apresenta indicadores sociais que a colocam ao lado das nações do Primeiro Mundo em termos de educação (isso é notório, embora o pavão esteja enfeitado. O índice da analfabetismo é mínimo, de fato, mas o acesso ao terceiro grau não é universal, como gostam de fazer parecer os românticos), saúde (gratuita e preventiva, fato, mas tecnologicamente já ficou para trás) e previdência social (não conheço, nada posso falar). Esses indicadores são, hoje, melhores do que os de 1990 (lembremos que o Muro de Berlim caiu em outubro de 1989, portanto, o fundo do poço cubano ocorreu logo depois. Não existia mais URSS para presentear o país caribenho). A taxa de mortalidade infantil, por exemplo, baixou de 11,1/1000 em 1989 para 6,2/1000 em 2001 - índice menor do que o dos Estados Unidos (que está longe de ser uma país perfeito e igualitário – coisa que prega o governo cubano e seus amiguinhos – e conta com uma população 28 vezes maior que Cuba) . A partir de setembro, nenhuma sala de aula em Cuba terá mais de 20 alunos (assim como em Israel). - Sem recorrer ao Fundo Monetário Internacional e sem abdicar da soberania nacional, Cuba está em processo de recuperação econômica: o PIB vem crescendo desde 1994, alcançando 6,2% em 1999, 5,7% em 2000 e 3% em 2001 (a segunda taxa da América Latina, muito acima da média de seus países); o déficit fiscal foi reduzido para 3% do PIB; o desemprego urbano é de 4,5% (o segundo menor da América Latina). A relação peso-dólar é de 26 por 1. A economia cubana já recuperou 85% do que perdeu de 1989 a 1993 (isso tudo, a bem da verdade, à base de muito sacrifício imposto à população: filas para adquirir gêneros básicos, empobrecimento da dieta alimentar, que nunca fora grande coisa, total ausência de produtos considerados supérfluos, controle ferrenho do Estado na aquisição de qualquer tipo de produto pelo cidadão comum...). - Cuba foi atingida no ano passado pelo pior furacão dos últimos 50 anos, o Michelle. Plantações foram destruídas, mais de 45 mil casas foram derrubadas ou danificadas, torres de transmissão de energia e de telecomunicações ficaram inoperantes, enfim, um prejuízo calculado em US$1,5 bilhão. Mesmo assim, ninguém ficou desamparado. E apenas cinco pessoas morreram, graças às medidas de prevenção tomadas (devem ter sido dias terríveis para a população que não vive em fortalezas, como Fidel e os comandantes do Partido. Furacões naquela região são uma constantes, natural que todos os países, até mesmo o Haiti, tenha programas de prevenção de catástrofes. O ideal seria não haver morte nenhuma, uma vez que a cada ano, a ilha é atingida por vários furacões de maior ou menor intensidade, mas seria querer muito, além do quê, contra essa força da natureza, não se luta, previne-se).

Não é justo, porém, exigir que todos os brasileiros que forem a Cuba passar uma ou duas semanas saibam tudo isso. Mas, se deixassem de lado os preconceitos ideológicos e o simplismo, e conseguissem refletir por mais de cinco minutos, esses observadores acidentais da vida cubana veriam que: - Há muitas moradias precárias e deterioradas em Cuba, especialmente em Havana, a capital com dois milhões de habitantes. Havia até 1990 (e o programa teve que parar por conta do fim dos subsídios soviéticos) um enorme esforço de construção e recuperação de casas e apartamentos, reduzido em decorrência da crise econômica (exatamente). Mas todos os cubanos têm uma casa, um endereço (mesmo que nesse endereço vivam três gerações de uma mesma família. O “cortiço” familiar faz parte da cultura cubana pós-59). Um aluguel sai por US$ 1 (o que não é tão pouco, fique bem claro, para os padrões econômicos cubanos. U$ 1 pode ser considerado uma miséria para os padrões brasileiros, em se tratando de aluguel, mas, só a título de comparação, o salário de um professor, classe “bem” remunerada, vai de 300 a 400 pesos, ou seja U$ 11, 75 a U$ 15,38, o que significa que um professor paga, em média, quase 8% do seu salário em aluguel. Comparando-se, novamente, aos padrões brasileiros, está abaixo da nossa média, mas não esqueçamos que sobraram apenas U$ 10 a U$ 14 para o resto do mês) ou US$ 2, 85% das moradias são próprias. Ninguém mora nas ruas. - Muitas crianças pedem balinhas e chicletes aos estrangeiros, pois lá não há a diversidade de confeitos que se encontra em outros países (a herança espanhola deixou grandes culinárias nas Américas, inclusive em Cuba, grande produtora de açúcar. A falta de doces para crianças é sinônimo de quê? Miséria). Mas todas essas crianças têm casa, estão na escola, vestem-se decentemente (?) e não passam fome (mas têm uma alimentação mais pobre que a média da maioria das crianças da América Latina). Os que pedem esmolas em Havana podem ser contados em duas mãos - são pessoas pobres (não conheço os dados), mas também têm suas casas (nem que seja com uma multidão dentro) e, diferentemente de muitos brasileiros, não passam fome (idem com a dieta das crianças). O governo cubano reconhece que 14% da população vive em situação precária (ou seja, 3,6 milhões de pessoas numa ilha de 26 milhões. Não é pouca gente, não) - o que está muito longe de viver na miséria - e dá a essas pessoas uma atenção especial (qual?). E os índices de criminalidade em Cuba são baixíssimos (pobre roubar pobre não seria crime, seria humor negro. A propósito, prostituição não é crime em Cuba), sendo o furto o crime mais comum (pelo Código Civil brasileiro, isso seria conhecido como “furto famélico”). - As filas são decorrência da carência de vários produtos e da relativa (relativa! Guardem bem isso. Eis uma das negações ao marxismo pregado) igualdade entre as pessoas, pois todos, sem exceção, têm direito ( mas têm acesso? Não, existe a relatividade de igualdade) aos mesmos produtos que integram a "libreta" - a cesta básica de alimentos e produtos que custa US$ 0,80 (para se manter três gerações de uma mesma família, dentro de uma mesma casa, quantas “libretas” são necessárias?)- e as atividades culturais, recreativas e desportivas são muito baratas (isso é fato, e muitas são gratuitas). Quem for ao Parque Coppelia, em Havana, verá filas enormes, desde cedo, para tomar sorvete (um dos supérfluos que citei anteriormente). Há filas porque todos os cubanos têm condições de tomar os sorvetes da Coppelia (não, meu caro. Tem fila porque é uma das poucas sorveterias da cidade. Isso está parecendo uma daquelas justificativas malucas do Mantega). - Os ônibus são poucos, muitos deles - como os chamados "camelos" – são ruins e geralmente estão lotados (e é comum apenas um ônibus, daqueles da década de 50, fazer a ligação entre duas cidades. Sai da cidade A para a cidade B de manhã e volta à tarde. Quando esse ônibus quebra, quem precisa se transportar fica à mercê das próprias pernas ou à caronas que são pagas com bananas, galinhas ou algo assim que se tenha à mão). O transporte urbano é um dos maiores problemas do cotidiano cubano e a carona é uma instituição nacional (um dos motivos é o que citei anteriormente). Mas há sensíveis melhoras em relação aos anos anteriores, inclusive com a montagem de ônibus, em Havana, por uma empresa cubano-brasileira, a Tranbuss. - Uma das estratégias para enfrentar a crise econômica foi institucionalizar a dupla moeda em Cuba, uma medida considerada transitória. Por isso, há um mercado em dólares uma maneira que o estado arrumou, com muita criatividade, é verdade, para que os turistas fizessem um câmbio informal, desse modo, as taxas que ficariam nas casas de câmbio do local de origem do turista, ficariam em Cuba) e outro em pesos, a moeda nacional, o que cria desigualdades sociais que não existiam antes (portanto, a medida oficial – não exatamente oficial, mas de vistas grossas – ajudou a capitalizar o país, mas dando outro golpe no marxissismo). Quem tem acesso ao dólar (estima-se que, em variadas medidas, 64% da população), ou quem tem mais dólares, tem acesso a produtos e serviços que não estão ao alcance dos que têm apenas pesos (capitalismo à cubana). Uma desigualdade, porém, milhares de vezes menor do que a que existe no Brasil ou em qualquer país da América Latina (porque está ocorrendo com 43 anos de atraso). - Há prostitutas (e prostitutos) em todos os lugares de mundo, e em Cuba também. Lá, como no Brasil, vender o corpo não é crime. A diferença é que a prostituição em Cuba não é questão de sobrevivência (mentira!), mas de opção de vida em busca de um melhor padrão de consumo proporcionado pelo dólar (outra explicação à la Mantega. No Brasil existentes prostitutas de luxo, filhas de classe média, universitárias, que estão fazendo um pé de meia e prometem deixar a profissão depois de formadas e montarem seus negócios, pelo menos elas dizem isso, mas, tirando a Bruna Surfistinha, não conheço nenhum outro caso. Na maioria das vezes, e a maioras das prostitutas vem de famílias pobres ou desarranjadas, vendem o corpo mesmo é por necessidade, assim como em Cuba, e mais uma vez o estado faz vistas grossas, uma vez que o turismo sexual deixa muita grana na ilha).. Aumentou, na década de 90, em decorrência do enorme crescimento do fluxo de turistas e de estrangeiros (viu?). - Há malandros também, pessoas que abordam os estrangeiros para vender produtos roubados ou falsificados (principalmente charutos) (necessidade!), ou oferecer seus serviços informais de "guia turístico" (necessidade!), cafetão ou algo semelhante (miséria!). Há funcionários e trabalhadores que cometem ilícitos (corrupção, como era farta na União Soviética), menores ou maiores, para ganhar um "extra", em dólares - de preferência - ou em pesos. É uma conseqüência da crise econômica, do crescimento do turismo e da dupla moeda (à la Mantega, a culpa é do turismo, não do governo). Mas em Cuba não há corrupção sistemática no governo (a Forbes disse que a fortuna de Fidel no exterior ultrapassa U$ 3 bilhões), e isso é reconhecido por todos que lidam com as autoridades do país (todos quem, buana?). - Do mesmo jeito que há cubanos querendo ir para os Estados Unidos e outros países desenvolvidos, em busca de melhores oportunidades, há brasileiros, mexicanos, hondurenhos, argentinos, equatorianos, haitianos...(assim como existem europeuse estadunidenses saindo para países do Terceiro mundo em busca de melhores oportunidades. É algo totalmente natural. Mas, além da miséria, tem a opressão política, negar isso é burrice). A imigração é uma aspiração compreensível. Muitos cubanos que não conseguem obter o visto de entrada no consulado norte-americano em Havana tentam entrar ilegalmente nos Estados Unidos, da mesma maneira como outros latino-americanos - a diferença é que são apenas 180 quilômetros de distância por mar e a lei norte-americana incentiva as saídas ilegais, ao receber os cubanos que tocam o solo dos Estados Unidos, enquanto manda devolver aos países de origem os demais estrangeiros (os EUA seriam duramente criticados pelas demais nações do Primeiro Mundo se negassem asilo político para os cubanos fujões. Deportando-os, estaria condenando muitos a el paredón).

É claro que os problemas de Cuba não se limitam a esses citados, geralmente os mais alardeados. Há outros problemas econômicos e sociais, até mais graves, mas há também críticas ao sistema político: alega-se que não há democracia (e não há, o próprio Fidel reconhece), não há eleições livres (e não há), que a população é subjugada pelo Partido Comunista (e é, tanto que é o único partido legalizado), que não há liberdade de imprensa (só existe a imprensa oficial, as demais estão sujeitas à censura permanente), que o regime é policial (a exemplo da matriz, a URSS), os direitos humanos não são respeitados (condenação à morte ou à prisão por tribunais sumários não pode ser considerado respeito aos direitos humanos). Em Cuba, há uma resposta para cada contestação (todo e qualquer governo em qualquer lugar do mundo tem todas as repostas para qualquer contestação), embora se admita a necessidade de aperfeiçoar – mas não mudar (claro que não. Tanto que Fidel se afastou e deixou o irmão. Continuísmo sempre)- o sistema político. Essa é uma discussão inócua, se feita superficialmente ou para que um lado convença o outro (o que jamais acontecerá) (isso é fato, Fidel jamais se deixaria convencer a largar o osso). Os conceitos da democracia socialista, na visão marxista, não são os mesmos da democracia capitalista. Não pode haver democracia socialista em um país capitalista, e vice-versa. Logo, a contestação ao tipo de democracia que se pratica é a contestação à raiz do próprio sistema. Há, porém, um fato inegável: a maioria da população cubana aprova o sistema e o governo (e pobre daquele que disser que não aprova). Há indicadores confiáveis para demonstrar isso, entre os quais até uma pesquisa realizada por instituto norte-americano (respondida por cubanos que vivem em Cuba, sob o julgo do Partido. Chavez foi eleito com 90% dos votos, e daí?). Mas basta ir além das áreas turísticas e das conversas com os que cercam os estrangeiros nas proximidades dos hotéis para verificar pessoalmente isso (tem coisas que a gente não fala nem pra mãe, noleito de morte. Imagina se um cara que vive num estado policial vai confessar que não aprova o governo justamente para um estrangeiro que ele nunca viu na vida? Medo, meu amigo, puro medo. É óbvio que existem muitos cubanos que apóiam Fidel, assim como existem milhões de estrangeiros que acham que o governo cubano é maravilhosos, a diferença é que quem ta fora pode dizer isso, enquanto que o pobre cidadão cubano tem que se calar, caso discorde)). Não é que a população esteja plenamente satisfeita. Há reclamações, queixas (mas nunca contra Fidel). Situadas, porém, dentro do sistema (viu? Críticas que o sistema aceita, e aceita para inglês ver como os comuna são legais). Há uma consciência majoritária (efeito da propaganda oficial) de que os cubanos estão em melhor situação do que a maioria dos que vivem em outros países latino-americanos, inclusive no nosso. E que um retorno ao capitalismo causaria mais prejuízos do que vantagens (poderia até causar danos, é claro, mas só existiria uma maneira de saber para que não fiquemos no campo das suposições). Além do que ninguém pode achar que, em uma sociedade plenamente participativa como a cubana (fato que também se desconhece fora de Cuba (confesso que desconheço)), o povo não derrubaria o governo e o sistema se quisesse (foices contra AK-47 dificilmente se dariam bem). Ainda mais tendo ao lado os Estados Unidos, ansiosos por isso (de novo a teria da conspiração. Os EUA, nos últimos anos, não conseguiu derrubar Chavez e, para piorar, terminou fortalecendo o maluco venezuelano. Para a turma de Bush, é mais negócio esperar a morte de Fidel e pensar em como atacar o novo governo. Isso pode demorar 20 anos, e daí? Vinte anos na história não é nada. Volto a lembrar o fracasso da invasão da Baía dos Porcos. As tropas estadunidenses falharam e terminaram fortalecendo Fidel, ou seja, mais uma vez os EUA atiraram no próprio pé. Tentar dar um golpe em Cuba hoje seria de uma burrice absurda. Os mísseis atômicos não existem mais, Cuba não oferece qualquer risco ao poderio estadunidense, além do mais, as pressões internacionais seriam caríssimas para os ianques. O resto é vitimização de Cuba, como pregam Fidel e seus torcedores mundo afora). Um dado pouco levado em conta nas avaliações que são feitas fora de Cuba é que o sistema contou com uma ampla base de apoio social mesmo nos piores momentos da crise econômica, de 1992 a 1994, quando faltavam alimentos, veículos não circulavam e fábricas estavam fechadas porque não havia combustível, os apagões chegavam a oito ou dez horas por dia (como se organizar com polícia secretíssima, dedos-duros em todos os lados, associações, sindicatos, cooperativas controladas pelo Estado, ausência de partidos políticos, imprensa vigiada...?). Em Cuba não há miseráveis nem ricos (U$ 3 bilhões!). As pessoas se situam entre a pobreza com decência e a classe média "baixa", com alguns bolsões, mais recentemente, de classe média "média" (pouquíssimos que conseguem captar dólares). Como a opção é pela igualdade (brincadeirinha), ainda que menor (igualdade é igualdade. Menor é sinal de desigualdade) do que a que existia nos anos 80, o estilo de vida é modesto e austero (pobre! U$ 15/mês). A classe média brasileira, que vai a Cuba a passeio ou a trabalho, tem, é lógico, dificuldade em entender e aceitar isso. Compara o padrão de vida dos cubanos não ao padrão de vida da maioria dos brasileiros, mas ao seu padrão de classe média "média" e "alta". E rejeita o socialismo, independentemente de razões políticas, porque fatalmente perderia renda e nível de vida se o sistema fosse adotado no Brasil ( que memória fraca... A União Soviética quebrou. A China está partindo para o capitalismo vermelho. A Albânia não existe. A Coréia do Norte vive sob armas...).

Pode-se optar pelo capitalismo ou pelo socialismo, gostar ou não do sistema cubano. Mas não há como negar que nenhum país latino-americano (para nos restringirmos à nossa região) enfrenta uma crise econômica: 1 - com as proporções da enfrentada por Cuba (já ouviu falarem Haiti?); 2 - sob o bloqueio econômico que sofre Cuba (verdade) ; 3 - mostrando índices de recuperação econômica como os de Cuba (a economia mundial está em alta. Nessa semana saiu um relatório, não lembro exatamente de onde, dizendo que o mundo viverá uma época de riqueza jamais igualada na história); 4 - sem recorrer aos Estados Unidos e ao FMI (sorte deles. Se recorresem ao FMI perderiam até a roupa domingueira) e sem abdicar de sua soberania nacional (devo reconhecer que acho isso louvável) e do controle de sua economia (perdeu o padrinho soviético); 5 - sem provocar altos índices de desemprego e a exclusão e marginalização de parcela de sua população (tirando os empregos oficiais, a hotelaria e suas ramificações, que já não são lá grande coisa devido aos altos encargos, o resto é subemprego); 6 - sem que essa crise se transforme em crise política, com protestos de rua e instabilidade social (sob o tacão de Fidel e das AK-47); 7 - com o presidente da República mantendo e até aumentado sua popularidade (foi um herói e é bom de propaganda e tem pulso forte e armas letais). Cuba tem imensos problemas, mas seguramente não é o país em pior situação na América Latina (isso é fato. O desarmamento da população é um ponto favorável para a segurança). Economicamente, recupera-se. Socialmente, é equilibrado e estável (a duras penas. Pobreza constante também é estabilidade). Politicamente, tem um peso específico muito superior às suas reais dimensões (graças à simpatia, mas não à ajuda, internacional). E, apesar de suas fragilidades, não teme desagradar os Estados Unidos (já falamos sobre isso. Os gritos de Fidel soam como sussurros aos ouvidos de Bush. Já percebeu que muito raramente algum governante estadunidense dá-se ao trabalho de responder à gritaria castrista?) ao defender suas posições de princípio. Cuba está dando certo (não, meu caro, está estagnada na UTI), e por isso incomoda muita gente. Que então fala em casas precárias, ônibus lotados, crianças pedindo chicletes, prostitutas, emigrantes clandestinos...

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