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quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Nova Cuba? II

140_Fidel-Castro 

Não gostei tanto do meu post de ontem quanto gostei dos comentários, tanto que me vi obrigado a continuar com o papo.

Em momento nenhum tive a intenção de discorrer sobre a história moderna de Cuba ou sobre a biografia completa de El Comandante. Como a maioria dos brasileiros filhos da ditadura de 64, também tive minhas simpatias por Cuba, Fidel e, principalmente, pela população cubana. Vive minha infância e adolescência muito perto das conquistas e seqüelas dos militares. Meu pai era do Exército, assim como meu irmão mais velho e o terceiro irmão, embora esse tenha se tornado militar já próximo dos final. Tudo o que ocorria no país, de bom ou de ruim, refletia dentro de nossa casa e na vizinhança, por conseguinte nas nossas relações pessoais. Me lembro de uma época, ainda rapagote, que os amigos filhos de direitistas (ainda havia direita e esquerda bem definidas) me discriminavam por conta de minhas idéias “comunistas” enquanto os amigos filhos de esquerdistas me repudiavam por eu ser filho de milico.

Na época da prisão, julgamento e ameaça de expulsão dos padres franceses Camio e Gouriou, meu pai estava quase que diariamente no Jornal Nacional e a coisa começou a feder para nosso lado. Um filho de um vizinho (morávamos em vila militar) foi agredido na escola, outros recebiam ameaças telefônicas ou por cartas, alguns eram encarados nas ruas. Com o clima pesado, findo o julgamento, meu pai teve que transferir-se de Belém temendo a segurança da família.

Continuo com minhas idéias socialistas, mas não creio nos modelos socialistas que se espalharam pelo mundo e que mostraram ser fracassados na nascente. Embora não seja cristão, minha prática diária é muito mais cristã do que a de boa parte de cristãos freqüentadores das mais variadas igrejas.

Talvez aqui eu deixe margem para mais um monte de discordâncias e mal entendidos, mas defendo o socialismo de essência e não no de grupos políticos que visam o poder para impor sua doutrina. Por não gostar de imposições, além de outros fatores, não segui a carreira militar do meu pai, meu avô e de meus irmãos. Defendo o socialismo de Jesus Cristo que pregava a igualdade entre os homens, mesmo discordando do machismo de Cristo.

Mas isso é história para uma enciclopédia e não para um simples post mal traçado. Seria também assunto para mil livros, como o foi nesses 49 anos, a história de Cuba e a biografia de Fidel.

De maneira nenhuma vou discordar de quem opinou sobre o texto de ontem, mesmo porquê não vi discordância, pelo contrário. Foram todos muito polidos e o que vi foram acréscimos ao que fora escrito.

Minha intenção foi divagar sobre uma nova Cuba, coisa que não acredito que ocorra a curto e, talvez, nem a médio prazo. Expus minha análise baseada no meu parco conhecimento histórico. Como falei logo nas primeiras linhas, a princípio a revolução cubana foi boa para a população. Fidel e seus assessores deram a Cuba, num curto prazo, o que Batista não daria em duas vidas, mas perdeu a mão, não foi maleável, não conseguiu adaptar-se aos novos tempos, manteve-se fechado para o mundo, juntamente com a Albânia e a Coréia do Norte, com a diferença que a Albânia continuará um ET no meio da Europa e a Coréia é amiguinha da China e não da União Soviética.

O Ricardo disse: “Faltou um pequeno detalhe, o apoio a Batista era americano, ok. Mas sim sustentado pela Máfia que encontrou em Cuba um paraíso fiscal para lavar dinheiro. Consta que Batista costumava fazer a ronda pelos hotéis cassinos recolhendo sua parte enquanto o povo cubano passava fome. Um cenário ímpar para surgir um membro da elite e tomar o poder.”

Tem razão, não comentei esse detalhe, mas dei uma pincelada ao dizer “Fulgêncio Batista havia feito de Cuba um bordel estadunidense. Aquilo que o conservadorismo ianque não permitia em seu território, com exceção de Las Vegas, transferiu para lá. Jogo, prostituição, máfia de bebidas e contrabandos mis. A ilha tornou-se um inferninho de grandes proporções.”

A Neula disse: “Concordo parcialmente com o que escreveu, pois, A população de Cuba nunca teve uma vida afortunada, pelo contrário, antes, o que existia era essa divisão incorreta em que 2% tem a maior parte do dinheiro e o resto da população vive na miséria.”

E mais: “depois que Ele assumiu o poder, a divisão ficou mais justa, se os pobres não enriqueceram, os ricos também não.”

Ainda: “No Brasil são 200 milhões de técnicos de futebol, em Cuba são 11 milhões de cientistas sociais, políticos e economistas.”

Mais um pouco: “A porcentagem da população com saneamento básico alcança 98% mais do que seus vizinhos, e muito mais que no Brasil que é de 61%. Em Cuba todos tem direito a atendimento e assistência hospitalar, dentistas, educação, moradia e alimentação. Isso é obrigatório lá. Ninguém come filé enquanto o outro come farinha com água.”

Cara Neula, não achei nem um pouco agressivo seu comentário, pelo contrário, você colocou suas posições de maneira clara e educada, agradeço por isso. Porém, também tenho alguns reparos a fazer.

No tocante ao primeiro parágrafo, tirando os dados estatísticos, falei justamente isso. A população era miserável e tornou-se apenas pobre num primeiro momento. Os cubanos das castas inferiores ganharam muito ao se verem livres do tacão de Batista. Os mais poderosos foram para a Europa, como próprio Batista, que morreu na Espanha, ou para os Estados Unidos, levando consigo as fortunas amealhadas com a exploração da população e seus negócios ilícitos.

A divisão ficou mais justa ou menos injusta. Não sobraram milionários em Cuba, mas criou-se uma classe favorecida pelas benesses do poder formada pelos chefes da burocracia e os comandantes militares. Não há igualdade social, portanto. O mesmo aconteceu na Polônia, Rússia e seus satélites, Albânia, Coréia e em todos os países ditos comunistas. Isso é fato comprovado em incontáveis livros, enciclopédias, documentários.

Não rebato a melhoria considerável na educação, praticamente extinguindo o analfabetismo e, para nossa vergonha, utilizando-se do Método Paulo Freire, que o Brasil se recusou a utilizar, mesmo contando com o apoio de alguns educadores na ditadura, pelo simples fato de Paulo Freire ser socialista. No Brasil parte-se da premissa que se o cara não tem a mesma ideologia nossa, nada nele presta. A saúde também vai bem, embora ela não é excelente para todos. O que muito ajuda na ilha é a medicina preventiva, aí, sim, um banho em nós.

Não vou entrar e nem acho deveras importante, essa mania de se compararem estatísticas e modelos sem se levar em conta as realidades locais. A população de Cuba é quase a mesma da região metropolitana de São Paulo e sua área territorial é menor que a do Piauí, portanto, a administração pública tem que ser outra, sem falar nas questões históricas e culturais que não tenho sequer como elencar aqui uma vez que as diferenças são diametrais. O Brasil sempre pecou em querer copiar modelos estrangeiros sem a devida adaptação às nossas características, o que tem causado crises e mais crises.

Falou o Zé Povo: “Quanto à Cuba e os cubanos, é preciso conhecer as verdades, porque as mentiras todos sabem...”

Zé, com todo o respeito que lhe tenho, à sua inteligência e a honestidade com que você defende suas idéias, o seu sectarismo nesse comentário pouco acrescentou. Garanto a você que gostaria de conhecer mais “as verdades” a que se refere. Para quem é muito bom em argumentos, dessa vez você ficou devendo.

Obrigado a quem conseguiu chegar até aqui. Não gosto de escrever textos longos, uma vez que a maioria dos leitores de blogs não tem paciência para leituras longas. Por outro lado, tenho certeza que quem chegou até o final são aqueles que têm argumentos, conhecimento e, via de regra, já me conquistaram por isso em seus blogs. Mas, se por acaso, quiserem continuar a discussão, ótimo, estamos aqui para isso.

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