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segunda-feira, fevereiro 18, 2008

escravo4

 

O cidadão quer participar, quer ouvir e ser ouvido, quer sentir-se parte atuante dos caminhos e descaminhos do país. Me refiro ao verdadeiro cidadão e não ao portador de um título eleitoral leiloado a cada dois anos por promessas ou cartão-benefício (para ser bonzinho). Falo do cidadão que se informa, tem senso crítico, independentemente do matiz político com que se colore.

O cidadão-verdadeiro, não os que são cantados em crônicas, artigos e reportagens dos piegas, lê jornal, assina revistas, zapeia pelos sites de notícias, informa-se pelos canais de política e economia, procura saber do que ocorre nos corredores dos palácios, mesmo sabendo que as informações passadas ao público são apenas uma pontinha do que se conversa nos gabinetes. Ele quer participar, ajudar a construir uma pátria e não apenas um país. Vota por dever cívico e não por obrigação legal. Estuda a biografia dos votáveis, opina, discute, às vezes ganha, às vezes perde, mas quando perde fica torcendo para que o vencedor acerte a mão e faça bem sua parte, que dê ouvidos aos cidadãos-verdadeiros.

E frustra-se, no final das contas. Mais uma vez arrepende-se por não ter participado mais, acha que não fez o suficiente, fica furioso porque usou os argumentos certos, mas seus interlocutores são beócios que não o entendem ou são mal intencionados que esperam que a balbúrdia continue a mesma, nem que seja apenas para eles pegarem um sobejo que caiu de sobre as toalhas de linho egípcio. Promete que não mais participará, tornar-se-á um alienado telespectador de telenovelas e reality shows. Dá uma banana para os que elegeram quem foi eleito.

Mas o cidadão-verdadeiro não consegue ficar alheio. Passada a raiva, volta aos noticiários, palpita, manda cartas se for do tempo das cartas, ou manda e-mails se for mais moderninho. Não recebe resposta de suas missivas, mas continua persistindo. Uma hora terão de ouvi-lo!

Percebe, não sem muita dor, que não querem saber dele senão para pagar as contas. O cidadão-verdadeiro normalmente está imprensado no meio da pirâmide. Paga as benesses dos que estão acima e as esmolas dos que estão abaixo e fica com as sobras. Anseia subir na pirâmide, mas vê a base mais perto. Percebe que era classe B ou C e está aproximando-se da D. Nota que a classe E diminui, está subindo os degraus. Ele a encontrará brevemente, o choque se encontrará com sua descida e a subida daqueles que ajuda com seu dinheiro vendo a Classe A ganhar os méritos. É insultado de elite por quem detém o poder e é a verdadeira elite. É esnobado como rico por aqueles que se acham no dever de se apoderar do que é seu porque assim a verdadeira elite diz que pode ser. Suas tarifas públicas aumentaram para que diminuíssem as tarifas dos D e E e os A e B posam de Robin Hoods. Às suas custas!

Percebe que não é mais parte do todo, é apenas o mantenedor. Olha para os lados e vê outros iguais a si satisfeitos com os rumos que o país sem pátria está tomando. Passa a questionar seus valores. Se os A estão felizes com os lucros amealhados; os B estão satisfeitos com o dólar baixo e a carne que não falta à mesa; os C, seus pares, batendo palmas; os D dando risadas com seus crediários a perder de vista; e os E deixando de sê-lo para sentirem-se emergentes entre os D, ele deve estar errado, muito errado.

Não faz parte da corporação mandante e nem da companhia limitada portadora das benesses, é um excluído. Deve estar pensando ou agindo errado, só pode. Todos batem palmas para o establishment enquanto ele vaia. As probabilidades matemáticas apontam que ele é o destoante, portanto, o errado. E ainda é taxado de golpista.

Até quando o cidadão verdadeiro resistirá?

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