La Revolución, num primeiro momento, melhorou a qualidade de vida dos ilhéus, não resta dúvida. Fulgêncio Batista havia feito de Cuba um bordel estadunidense. Aquilo que o conservadorismo ianque não permitia em seu território, com exceção de Las Vegas, transferiu para lá. Jogo, prostituição, máfia de bebidas e contrabandos mis. A ilha tornou-se um inferninho de grandes proporções. À sua população sobravam as migalhas.
Os desmandos de Batista, que ascendera ao poder por meio de um golpe de estado bancado pelos estadunidenses, fixado por uma ditadura, afastou de Castro a aspiração de tornar-se um representante eleito democraticamente. O futuro líder já alimentava o poder da luta armada para chegar ao poder. Como ensaio, esteve lutando contra o governo da República Dominicana. Juntem-se as coisas e obtém-se um coquetel explosivo: um governo ditatorial, a influência estrangeira, a cassação de seus direitos políticos, a família e os amigos empobrecidos, a cultura latino-americana de golpes militares, a miséria se expandindo pelo território do país, a guerra fria, uma adolescência enriquecida com leituras marxistas, uma personalidade vaidosa e uma insaciável fome de poder. Não foi á toa que teve o apoio popular quando tomou das armas para depor Batista, expulsar os exploradores do continente e assumir o comando.
Para manter a aparência de bonzinho e bem intencionado, não assumiu a presidência de Cuba, colocou-se como chefe de governo até assumir a chefia de estado, concomitantemente com a função anterior em 1976.
Sua sede de poder, alimentada pela toda poderosa União Soviética, que ficava feliz em ter um território tão perto dos Estados Unidos para plantar seus mísseis de ogiva atômica, evitou que modernizasse as relações entre o estado e a população. Mesmo com a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, temendo ser arrasadoramente derrotado se democratizasse o país, preferiu manter tudo nos moldes antigos.
Não modernizando o país, seja no campo industrial, no político, no previdenciário ou em qualquer outro, passou os últimos dezenove anos maldizendo os presidentes estadunidenses e seu embargo econômico, ampliado para a maioria dos aliados. Por outro lado, nada fez de concreto para mudar a miséria que voltara aos níveis do tempo de Batista. A prostituição, por exemplo, que na época do ditador anterior, era um comércio para receber bens os milionários que iam atrás das praias sempre tépidas, da boa comida e da comida de boas, tornou-se uma instituição nacional, olhada com vistas grossas pelo poder central por ser uma eficaz forma de sobrevivência para as famílias miseráveis daquelas jovens.
Mesmo as ditaduras sul-americanas extinguindo-se, pelo menos nos moldes antigos (hoje essas se fazem fantasiadas de democráticas), Fidel manteve a sua pelo gabarito anterior, condenando dissidentes à morte, fechando as fronteiras para a saída dos insatisfeitos, condenando à prisão qualquer um que ousasse criticar sua pessoa ou seu governo. Não existem números exatos de quantos foram mortos e quantos ainda encontram-se encarcerados.
Com a sua renúncia, vemos cientistas sociais e políticos, chefes de governos, jornalistas, candidatos à presidência dos estados Unidos e mais uma horda de otimistas apostando numa modernização cubana. Mais cético e pessimista, não vejo mudança a médio prazo.
No poder está Raul, irmão caçula do déspota. Fidel afastou-se do poder de direito, mas não de fato. Há toda uma organização de privilegiados que não ousaria soltar o osso. A igualdade de posses e oportunidades pregada e defendida da boca pra fora por El Comandante e seus cupinchas, nunca ocorreu de fato. Na verdade, há uma casta de privilegiados, se não com mansões, para não chamar demais a atenção dos miseráveis que os cercam, mas de fato com uma despensa fornida e condições de vida muito superiores Às dos conterrâneos. Basta ver a lista dos milionários da revista Forbes, em que aparece Fidel com muitos milhões espalhados em contas pelo mundo.
Isso já acontecia na matriz, a União Soviética. Os burocratas do Comitê Central do Politburo tinham dachas majestosas, carrões, viagens de férias com as famílias pela Europa, escolas para os filhos na Suíça, Inglaterra e França...
Fidel manteve as raízes fincadas no palácio presidencial, Raul não vai querer enfrentar tribunais internacionais, os comandantes militares e os chefes burocratas não vão querer perder a mamata. Nada mudará em Cuba nos próximos poucos anos. Isso só ocorrerá se Bush, com a popularidade na lama, tentar aproveitar-se desse momento de paralisia por estupefação da população cubana para tentar uma invasão, seja de militares, seja financiando os cubanos rebeldes que vivem em Miami e redondezas. Não é de se duvidar que o Lula dos ianques tenha um devaneio desses, uma vez que os democratas estão bem cotados para ganharem as próximas eleições presidenciais.
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