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quinta-feira, fevereiro 28, 2008

É Assim?

Riscos da gravidez na adolescencia

- Mãe, tô grávida.

- Tá.

- Mãe, você ouviu o que eu falei? Eu tô grá-vi-da.

- Ouvi e entendi. Agora vai tirar a farda e vem almoçar que teu pai já tá chegando.

- Então, é isso? “Tá”?

- Ué, o que tem de mais? Tá grávida, ta grávida, ponto.

- Mãe, eu tô falando de um bebê!

- Normalmente é isso o que uma gravidez significa: um bebê.

- Mas mãe, eu só tenho quinze anos!

- E eu não sei? Me lembro bem da noite em que você nasceu. Teu pai apavorado pra me levar pra maternidade, a bolsa estourando dentro do carro...

- E você já parou pra pensar que esse bebê não vai ter um pai por perto na hora de eu ser levada para a maternidade?

- A gente dá um jeito.

- Até parece que estamos falando de uma estante que você ganhou no bingo da quermesse. Não tem lugar em casa pra colocar, mas a gente dá um jeito.

- Se você quiser, a gente tira a estante e coloca o berço no lugar.

- Ah, entendi, a senhora está chocada, ainda não caiu a ficha.

- Não, filha, entendi muito bem. Você está grávida, é um risco que se corre quando se faz sexo.

- Você sabia que eu estava transando com o Biliardo?

- Como que eu ia saber? Você não me falou nada.

- E como que eu iria falar alguma coisa se você nunca me deu qualquer orientação sobre sexo? Aliás, nem sobre menstruação. Eu apavorada porque estava sangrando e a senhora nem aí. Se não fosse a professora pra me explicar...

- Ora, querida, a vida é sua, o corpo é seu, por que eu me meteria nas suas intimidades?

- Você já pensou que se tivesse se metido em minhas intimidades essa gravidez poderia ter sido evitada?

- Sempre ensinei você a não se meter na vida dos outros, por que eu iria me meter na sua?

- Você é minha mãe!

- E faço minha parte direitinho. Pago tua escola, tuas roupas, tua comida, tuas festinhas de aniversário, teus passeios ao shopping...

- E ser mãe é isso? Apenas uma mantenedora?

- Pra mim, é. Te carreguei nove meses aqui dentro, depois que você saiu e não sabia se virar, te banhei, te alimentei na boca... Mas agora você já é dona do seus nariz, filhinha, não tenho que me meter.

- E é assim que vou ter que me relacionar com meu filho? Amamentar, trocar as fraldas e largar no mundo?

- Aaahhh, filhinha, eu não te larguei no mundo. Você tem um teto, tem carinho e tudo do bom e do melhor que deseja.

- Mas não tenho orientação, mãe!

- Bobagem, a vida ensina mais que qualquer professor.

- A espécie humana evolui há milênios e eu, uma garota do século vinte e um, tenho que aprender levando porrada como aprendiam as mulheres há cinqüenta mil anos? Acabei de perceber que não estou progredindo como membro da espécie, mas regredindo.

- Não faça drama, filhinha, é só um bebê.

- Não quero esse bebê! Quero fazer um aborto!

- Nem pensar!

- Você não disse que é minha vida, meu corpo? Pois então, eu quero abortar.

- Meu amorzinho, entenda, aborto é ilegal. Você estaria infringindo a lei. Antes de pensar em aborto, você deveria ter pensado em preservativo, pílula anticoncepcional ou pílula do dia seguinte.

- Pensar como? Que orientação eu tive a respeito dessas coisas? Quem deveria me ensinar sobre isso não o fez. Queria que eu aprendesse como? Por osmose?

- Por que não me perguntou?

- Perguntar como, mãe, se eu nem sabia da existência dessas coisas? Ou melhor, saber eu sabia que existiam, mas sei lá como se usa, pra quê, de que maneira...

- Pois que pesquisasse. Nós pagamos a melhor escola da cidade pra quê se teus professores não te ensinam o que deve saber?

- Você está transferindo a responsabilidade natural que você tem, a de orientadora, para a escola. Lá eles me ensinam muito, sim, senhora, mas em outros campos, não no de minhas relações pessoais.

- Pois deveriam...

- Não deveriam, não. Certas coisas eu deveria aprender pelos meus pais, mas eles não se preocuparam em ensinar.

- Você sai por aí trepando com qualquer um e a responsabilidade é nossa, minha e do seu pai... Bonito, isso.

- Pelo visto, vou continuar sem orientação e sem apoio... Mais um motivo para eu abortar.

- Pense no seu pai, na carreira dele. Um homem com a importância dele, um dos baluartes da moral da sociedade, não pode ser constrangido se a notícia que a filha dele fez um aborto chegar aos jornais. Já pensou no escândalo?

- Você está preocupada com a carreira do papai e nem aí para esse bebê. Que ridículo!

- Essa criança vai precisar de roupas, alimentação, médicos, remédios, escolas e um monte de coisas mais, não vai?

- Vai, lógico.

- Para ter tudo isso é preciso dinheiro, certo?

- É.

- Você não trabalha , eu também não e, provavelmente, o moleque que te enxertou também não. Tô certa?

- É, tá.

- Pois é, filhinha, só podemos contar com a carreira do seu pai. Natural que nos preocupemos com ela.

- Oquei, então pense comigo: já pensou no escândalo que vai ser a digníssima filha do excelentíssimo senhor juiz de direito, de apenas quinze anos, grávida de um filho de motorista de táxi?

- Vixe, é mesmo. A gente vai ter que mandar você estudar fora.

- Como que vou estudar fora com um bebê pra cuidar?

- Eu e seu pai ficamos com a criança. Dizemos que a adotamos. Isso vai soar muito bem para a sociedade. Já pensou? “Doutor Libório e sua solidária esposa adotam criança órfã de mãe solteira”. Nossa! Íamos ganhar ainda mais respeito e notoriedade.

- Ao invés de adotar, por que não falam a verdade? Por que não dizem que estão criando seu neto, que vocês são os avós da criança?

- Avós? Ai, meu deus! Eu, avó? Tão jovem, tão bonita, tão elegante, avó? Jesus Cristo! Eu não quero ser avó! Vamos fazer o seguinte, não conta nada pro seu pai sobre a gravidez. Traz a lista telefônica, vamos tentar encontrar um médico que faça aborto.

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Encontro com o Mestre

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Atendendo a uma meia dúzia de três pedidos, vou contar um pouquinho sobre meu encontro com o mestre.

Ariano Suassuna, advogado, filósofo, professor universitário, romancista, poeta, teatrólogo e atual secretário de cultura de Pernambuco, esteve por aqui para uma palestra para professores da rede Municipal de Ensino, que encontram-se numa semana de planejamento pedagógico.

Um dos amigos mais antigos que tenho na cidade é filho de uma prima de Ariano e eu não sabia disso. Chaguinhas, o sobrinho, havia comprado um exemplar do meu livro e, com a vinda do primo, lembrou-se de mim. Me ligou e perguntou se eu gostaria de ter um encontro com o mestre. Ou seja, perguntou se o macaco queria banana.

Marcamos para as dezenove horas de ontem, uma hora antes de começar a palestra, no hotel onde ele se encontrava hospedado com a esposa e seu secretário particular.

Respondedo à pergunta da Esyath, não fiquei apreensivo, temeroso, intimidado ou qualquer coisa assim, fiquei ansioso e honrado. Ao chegar ao hotel o vi sentado numa poltrona, no foyeur, ladeado pela esposa e o secretário, um rapaz sisudo, contrastando com o bom humor de Ariano. Como me policio para não ser um chato e imaginando que uma verdadeira celebridade como Ariano deve ser procurado por chatos todo o tempo, evitei me aproximar. Saí à procura do Chaguinhas. Sou pontual, mas a média dos brasileiros, incluindo meu amigo, não o é. Mas ele não me fez esperar muito. Cinco minutos depois ele chegou.

Sem delongas, me levou à presença do primo a quem me apresentou como "o escritor de que lhe falei". Ariano ensaiou levantar-se para me cumprimentar, mas eu pedi que permanecesse sentado. Apertei-lhe a mão, cumprimentei os demais e aceitei seu convite para sentar-me na poltrona ao lado.

Sentei-me e o presenteei com meu livro com a seguinte dedicatória (por favor não riam): "Ao mestre Ariano, com as reverências desse modesto admirador. Espero que o senhor se divirta lendo, tanto quanto me diverti escrevendo. Com a sua bênção, Marcos Pontes. Eunápolis, 26 de fevereiro de 2008". Ele recebeu o presente, agradeceu, leu a dedicatória e, com sua voz rouca, acentuada pelo maravilhoso sotaque pernambucano, disse: "Deus o abençoe".

Perguntou-me do que tratava o livro. Respondi que eram contos sem uma temática central, boa parte deles centrada no Norte e Nordeste, alguns urbanos, outros rurais e outros com algum teor filosófico, mas sem influência direta de alguma escola. Não sou nenhum grande leitor de filosofia, por isso não poderia ter a ousadia de me posicionar em qualquer corrente filosófica, embora me considere meio euclidiano.

Mas eu não queria falar, preferia ouvir e o deixei à vontade para falar o que quisesse. Por dez minutos o ouvi falar da satisfação que tinha ao encontrar escritores nos mais distantes lugares do país. Havia acabado de chegar da Amazônia e tivera contato com diversas manifestações culturais, não só literárias, coisas que faziam aumentar seu amor pelas culturas populares do país; que estava terminando, por esses dias, um novo romance (idiotamente não perguntei qual o título ou a temática, mas logo, logo poderemos saber). Perguntou se eu era um mentiroso. Pego de surpresa, saí com uma daquelas respostazinhas bobas do tipo "às vezes sou". Pombas! Eu sei que ele adora mentirosos, mas, como ele mesmo diz, não os mentirosos maldosos, mas "aqueles que mentem por amor à arte". Querendo ser um escritor ficcional, é lógico que sou um mentiroso. Por conta da minha resposta boba, acho que recebi um pito. "A mentira do autor é pecaminosa, gostosa é a mentira dos personagens. Dizem que tenho uma grande critividade, bobagem. Eu apenas sei observar, os meus personagens são mentirosos de verdade que encontro por aí e me divertem, apenas passo para o papel as mentiras que ouço".

Estava na hora de começar a palestra. O prefeito chegou, interrompendo nossa conversa, cumprimentou Ariano, sua esposa e o secretário. Como somos amigos de longa data, desde o tempo em que ele era pobre, o prefeito não me tratou com o desdém comum às autoridades diante do cidadão comum e na presença de alguém importante. "Pelo visto o senhor já conheceu nosso mais novo escritor" (ele mesmo não leu meu livro). Falou para Ariano ao mesmo tempo em que apertava minha mão. Nos falamos rapidamente. Percebi que estava na hora de me retirar, já não era mais ambiente para mim.

Agradeci ao mestre pela atenção, disse-lhe da honra que era para a cidade tê-lo por aqui e me despedi. Nos encontraríamos na palestra.

Chaguinha pediu minha câmera, que eu, envergonhadamente, não havia colocado para trabalhar, evitando a postura de tiete, e tirou duas fotografias nossas. A foto acima tirei no final da palestra. Aliás, não foi uma palestra, mas uma aula divertidísima sobre a importância da valorização da cultura nacional. Mas isso é outro papo.

terça-feira, fevereiro 26, 2008

ronaldojc

  • O tempo está curto e minhapassagem será breve. Hoje estou me sentindo como uma adolescente que vai encontrar o primeiro namorado. Daqui a pouco terei um encontro com o grande mestre Ariano Suassuna. Mais ansioso que virgem em lua-de-mel.

 

  • Lula disse que "a condição de credor é um segundo grito de independência". Ok, vamos lá que seja, mas se ele deu uma lida na história (talvez esteja pedindo demais) vai descobrir que depois do primeiro grito veio a dívida externa. Tenho aqui em casa umas cédulas antigas, daquelas do tempo de Getúlio Vargas. No roda-pé, impresso em letras pequenininhas, está impressa a origem de sua impressão "Gráfica não-si-lá-das-quantas - London, England" (me deu preguiça de procurar). Ou seja, até nosso papel moeda era impresso na Europa. Uma cédula de um cruzeiro já chegava aqui valendo apenas setenta e cinco centavos. O pior é que, se não tomarmos cuidado, o caminho será quase o mesmo. O superavit externo anunciado na semana passada que se encontrava em U$ 4 bilhões, já baicou para U$ 180 milhões. Pobre é uma desgraça, basta sobrar uma graninha que já sai por aí se endividando...

 

  • A reforma tributária, que apenas começou a ser discutida, já está parecendo título de comédia de Shakespeare: "Muito Barulho por Nada".

 

  • E por falar em reforma tributária, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio, já tirou o corpinho fora para o caso da coisa dar errada: "a palavra final sobre a reforma tributária é dos técnicos que elaboraram a proposta". Pela primeira vez, desde que sujei a fralda pela primeira vez, ouço um ministro sair de lado e responsabilizar o escalão técnico por medidas tomadas pelo governo. Então, cá pra nós, se são os técnicos que decidem, por que cargas d'água os governos brasileiros teimam em colocar políticos em pastas técnicas? Lógico que qualquer um sabe a resposta, mas não custa nada cutucar.

 

  • E o presidente diz que está cansado da imagem violenta do Rio de Janeiro. E por que não toma atitudes que resolvam além dos paliativos para jornalista ver? Se bem que nem jornalista tem visto qualquer medida. As fronteiras continuam mais furadas que queijo suíço, nos portos, aeroportos e rodovias entra e sai qualquer tipo de droga ou arma e ninguém vê (há quanto tempo não se houve falar de apreensões desse tipo no Rio? Quando ocorrem é nos morros, ponto final das mercadorias antes de chegar ao consumidor depois de ter passado por caminhos e becos mil). Que medidas efetivas e dignas de nota a Força Nacional de Segurança tomou na cidade ou no estado? Daqui a pouco os governos federal e estadual vão colocar a culpa da violência no cidadão pacato e trabalhador. Cidadão reclamar é direito e dever, mas goerno reclamar daquilo que deveria er feito e não faz, pra mim é populismo do tipo mais grosso e nojento.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

willy

  • Comentariozinho rápido sobre o post de ontem. Os comentários do Heber, embora lacônicos, devem ser levados em conta muito mais do meu próprio post. O cara sabe do que está falando, acreditem.

 

  • Fico admirado com os blogueiros que conseguem atualizar quatro, cinco ou mais blogs, como O Rayol e a Letícia. Dia desses perguntei a ela se seu dia tinha 25 horas. Mal dou conta desses e, esporadicamente do Pseudo-Poemas (Saramar! Anne! David! Cadê vocês?). Mas agora surgiu o convite para comentar notícias num site local. Como invejo aquelesque vivem de ler, pensar e escrever, não consegui dizer não. Nem que seja de madrugada, cumprirei o compromisso. Esse promete ser um ano bem prolífico. Pelo menos assim espero.

 

  • Disse FHC: "A briga entre o PT e o PSDB não é ideológica, é pelo poder". Aécio completou: "É natural uma eventual ligação entre PT e PSDB em 2010". Agora que os tucano resolveram escancarar, a gente pode entender melhor porque eles fingem ser oposição, quando, na verdade, o Brasil só tem um partido e meio como oposição: DEM e PSOL, respectivamente. Agora, me respondam, por que existe pluripartidarismo no país?

 

  • Volta e meia, quando as coisas apertam lá para os lados do Prata ou no Paraguai, nossos hermanos voltam a propor uma discussão sobre a posse da hidrelétrica de Itaipu. Agora o governo federal se propõem a constuir em conjunto com a Argentina mais três usinas e em parceria com a Bolívia, mais duas. Espero que não, mas o passado nos diz que isso ainda vai dar chabu. Talvez seja um ensaio para fazer proposta semelhante à Venezuela.

sábado, fevereiro 23, 2008

Será verdade?

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O episódio que mais me encanta na recente história brasileira é a Guerrilha do Araguaia. Quando ocorreu o primeiro confronto entre o Exército e os guerrilheiros, eu era um garoto, morava em Maceió. Um primo, bem mais velho que eu, cabeludo e barbudo, que morava no Ceará, havia se mudado para Marabá, no Pará, bem perto de onde aconteciam os embates armados, em busca de emprego. Um tio nosso, irmão de nossas mães, era prefeito daquela cidade e o Joaquim, meu primo, esperava encontrar alguma colocação por lá.

Por conta de sua aparência (cabeludo e barbudo, o que era moda entre os jovens) e por não ser da região, Joaquim foi preso pelos militares e interrogado. Me lembro de ter ouvido essa história por alto, minha mãe conversava com alguém que não me lembro quem. Não me interessava por política, mas tinha algum encanto pela caserna, coisa natural num filho de militar. A notícia de que estava havendo um embate armado dentro do Brasil foi uma daquelas coisas emocionantes que habitam as fantasias infantis.

Meu pai lia muito jornal e já estava viciando-se em telejornais. Nessa época tivemos nossa primeira televisão. Ele sentava-se numa cadeira de espaguete, eu deitava no chão quadriculado de pedras pretas e brancas, e assistíamos juntos. Confesso que pouca coisa conseguia entender, mas algumas me chamavam a atenção. Pouco se falava no que acontecia em São Félix do Xingu, Redenção, Marabá, Bico do Papagaio, a não ser quando algum guerrilheiro era morto.

Pouco tempo depois meu pai foi transferido para Porto Velho e depois para Belém. Em Belém, durante a Reunião Anual da SBPC, conheci o Zé Valdir e mais três agricultores que estavam em Redenção na época dos conflitos. Já falei dele mais de uma vez por aqui. Durante essa mesma semana de Reunião Anual, que acontecia no Campus da Universidade Federal do Pará, comprei o primeiro livro sobre a guerrilha publicado no Brasil. Infelizmente não lembro o título ou o nome do autor. Já eram anos 80, a Abertura já mostrava seus sinais, eu era um adolescente. Por três dias convivi com o Zé Valdir e o incitava a contar episódios do conflito, como os guerilheiros chegaram na região, de que viviam, como conversavam com as pessoas, se andavam armados...

Não vem ao caso tudo o que me lembro, mas duas coisas interessam para esse caso: 1. Ele me contou que helicópteros faziam vôos rasantes sobre a cidade com corpos de guerrilheiros pendurados em cordas muito compridas. Os militares diziam ao povo local que era aquilo que acontecia com os traidores da pátria, que aquele ou aquela era um bandido, assassino, que queria entregar o Brasil para os comunistas e coisas que tais. Numa dessas vezes Zé Valdir conseguiu identificar o Osvaldão, um negro enorme de quem se tornara amigo. Lá estava Osvaldão morto, pendurado pelos pés, dando voltas sobre Redenção; 2. José Genoíno era odiado em Redenção e em toda a região dos conflitos, até mesmo por aqueles que não aceitavam os guerrilheiros, por esses ainda mais. Que Genoíno era um traidor, que delatara os companheiros, era o responsável pela morte dos 69 companheiros. Nem os militares, que não o torturaram, o respeitavam, tinham nojo dele.

Eis que agora leio essa reportagem da Isto É. Incrível como as informações do Coronel Curió, um sujeito por quem sempre tive os piores sentimentos, casam-se certinho com as do agricultor Zé Valdir.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

AUTO_ivan

  • Em São Paulo, Marta X Alckimin; no Rio, Wagner Montes X Marcelo Crivela; em Salvador, João Henrique X ACMzinho; e mais Gratchen, Tamy, Rita Cadilac... Só tem bundão na nova política nacional?

 

  • A partir de hoje, decreto: só visitarei blogs de quem tem nome. Nunca aceitei anonimato, salvo no caso daquelas pessoas que correm riscos de retaliações, como a Nariz Gelado, e aqueles que já conheço de outra forma ou por outros meios. Se não tem rao preso, mostre a cara. Bater no escuro é coisa de covardes. Não, ninguém andou me ofendendo anonimamente aqui, isso é apenas resultados de minhas elocuções noturnas e solitárias.

 

  • Sabe quando você lê alguma coisa e fica pensando "eu gostaria de ter escrito isso...". Pois foi assim que me senti em relação ao texto da Marlene no qual ela manda recado para o padre Lancelotti.

 

  • Passando rapidamente pela TV Câmara, me dou de cara com um deputado petista falando dos "mais excluídos". Cacete! Os caras estão criando uma casta ainda mais ferrada que a dos excluídos?

 

  • Janeiro, mês de férias, a vizinhança toda viajando, o consumo de água do condomínio caiu 50%. Curiosamente, o valor da conta veio 25% mais alto e sem nenhuma taxa extra discriminada. Acho que vou procurar um veterinário para aprender como os gatos se banham.

 

  • Há dois anos, época de campanha para governador, Paulo Souto esteve por aqui e assinou a ordem de serviço para a construção de um presídio. Um ano depois, burocracias atualizadas, projeto pronto, terreno escolhido, começaram as obras. Essa semana um acólito da Secretaria de Segurança Pública apareceu por aqui numa visita surpresa e vazou a iformação que a construção será embargada. O motivo: o terreno não é firme o suficiente para suportar o peso da construção. Será que os autores dos projetos foram aqueles mesmos engenheiros que vivem construindo prédios que desmoronam em Recife? Quem (ninguém, óbvio) vai ressarcir os gastos feitos pelo estado?

 

  • Todo pimpão, com razão, dói-me reconhecer, por ter saldado a bi-secular dívida externa, Lula proferiu mais uma pérola: agora que somos credores, está na hora de nos endividarmos para trabalhar na construção da infra-estrutura do país. Não seria mais inteligente, ao invés de fazer dívidas, empregar melhor o dinheiro que temos?

 

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

AUTO_ivan

toninho

  • Hoje o Charge On Line está tão bom que não resisti e coloquei duas charges aqui.

 

  • O Zeca até pediu um terceiro post sobre a nova Cuba, mas vou contrariá-lo um pouquinho e resumir ao máximo segurando a tentação de mais um texto enorme. Fiquem com essa notícia do Estadão. Só lembrando que esses jovens estão na universidade, o que facilita seu contato via internet com o resto do mundo. A maioria da população não tem acesso à grande rede e os que têm, tem acesso controlado.

 

  • A França quer que o Brasil participe mais ativamente nas negociações com as Farc para a liberação dos reféns. Cá pra nós, El Loco permitirá que alguém divida os louros com ele, caso as negociações forem bem sucedidas? Se o Brasil se meter e, por um motivo qualquer, as negociações derem pra trás, El Loco não responsabilizará o governo brasileiro e tentará sair como herói nos deixando com o pepino pra descarcar? Será que o Brasil terá a oferecer para os terroristas o que El Loco está oferecendo (segundo más línguas, ou línguas bem informadas, trânsito livre para a cocaína passar pelos portos venezuelanos sem que a polícia ou as forças armadas se metam)?

 

  • O ministro das relações exteriores, Celso amorim, afirmou hoje que estão bem avançadas as negociações entre Brasil e Argentina para que as negociações comerciais entre los dos hermanos passem a ser feitas em reais e em pesos, não mais em dólares, como é atualmente. Gisele Bündchen só recebe cachê em euros; a União Européia já conversa em substituir o dólar pelo euro em suas transações... Se a substituição acontecer nesses dois blocos, poderá haver uma mudança em outras áreas do planeta e aí, senhoras e senhores, a moeda estadunidense tenderá a despencar geral e o mundo vai passar a conhecer a verdadeira economia dos EUA, sem especulação, com a maior dívida externa do planeta, uma poupança mantida pelas aparências... Será um caos. Antes que alguém diga que estou torcendo contra os ianques, supondo que eles são pobress com a arrogância de ricos, nada disso. Eles são o país mais rico do mundo, sem dúvida, mas a crise imobiliária já mostrou que há uma economia artificial encroada no monstro.

 

  • O Banco Central publicou um relatório que afirma que o Brasil tornou-se credor internacional. Ótima notícia! As reservas brasileiras aumentaram de U$ 165,2 bilhões para R$ 180,3 bilhões em um ano. Sem querer colocar areia na empadinha de Meireles e companhia, isso se deve a um preparo de todo o mundo depois dos efeitos saquê, tequila e merengue, que abalaram o globo na década de 90. A crise imobiliária estadunidense causou alguns danos, mas nada de pânico, sinal de que está todo o mundo, não só o Brasil, mais precavido nas negoiações internacionais. Os países de economia mais forte diminuíram seus créditos e todos prevêem menos investimentos em 2009. Na macro economia internacional estamos bem, o problema é na economia interna. O país só cresce por conta de alguns abnegados, teimosos e bem preparados que teimam em construir, investir na produção, quebrar os quadris e a cabeça para tocarem suas empresas. O governo não tem feito nada mais senão acochar com taxas e impostos absurdos. Os sonegadores e a economia informal são os responsáveis pelo crescimento. Cá pra nós, se todos os empresários pagassem todos os impostos que deveriam, se declarassem todas suas compras e investimentos, a arrecadação seria astronômica, mas, por outro lado, a quebradeira seria também enorme. Informais, mais de 50% dos empreendimentos nacionais, é que dão emprego, renda e dignidade a boa parte da população. São as Feiras de Caruaru que diminuem a miséria e ajudam o capital a circular e não as grandes montadoras de automóveis e bancos. Discorda? Então pesquise na sua cidade. Quantos são os empreendimentos, desde o boteco da esquina, passando pelo barbeiro, o mercadinho do bairro, até as empresas de ônibus não formalizados? Quantos empregados esses empreendimentos têm no total? Depois compare com as empresas legalizadas. Você tomará um susto se não estiver preparado para surpresas.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Nova Cuba? II

140_Fidel-Castro 

Não gostei tanto do meu post de ontem quanto gostei dos comentários, tanto que me vi obrigado a continuar com o papo.

Em momento nenhum tive a intenção de discorrer sobre a história moderna de Cuba ou sobre a biografia completa de El Comandante. Como a maioria dos brasileiros filhos da ditadura de 64, também tive minhas simpatias por Cuba, Fidel e, principalmente, pela população cubana. Vive minha infância e adolescência muito perto das conquistas e seqüelas dos militares. Meu pai era do Exército, assim como meu irmão mais velho e o terceiro irmão, embora esse tenha se tornado militar já próximo dos final. Tudo o que ocorria no país, de bom ou de ruim, refletia dentro de nossa casa e na vizinhança, por conseguinte nas nossas relações pessoais. Me lembro de uma época, ainda rapagote, que os amigos filhos de direitistas (ainda havia direita e esquerda bem definidas) me discriminavam por conta de minhas idéias “comunistas” enquanto os amigos filhos de esquerdistas me repudiavam por eu ser filho de milico.

Na época da prisão, julgamento e ameaça de expulsão dos padres franceses Camio e Gouriou, meu pai estava quase que diariamente no Jornal Nacional e a coisa começou a feder para nosso lado. Um filho de um vizinho (morávamos em vila militar) foi agredido na escola, outros recebiam ameaças telefônicas ou por cartas, alguns eram encarados nas ruas. Com o clima pesado, findo o julgamento, meu pai teve que transferir-se de Belém temendo a segurança da família.

Continuo com minhas idéias socialistas, mas não creio nos modelos socialistas que se espalharam pelo mundo e que mostraram ser fracassados na nascente. Embora não seja cristão, minha prática diária é muito mais cristã do que a de boa parte de cristãos freqüentadores das mais variadas igrejas.

Talvez aqui eu deixe margem para mais um monte de discordâncias e mal entendidos, mas defendo o socialismo de essência e não no de grupos políticos que visam o poder para impor sua doutrina. Por não gostar de imposições, além de outros fatores, não segui a carreira militar do meu pai, meu avô e de meus irmãos. Defendo o socialismo de Jesus Cristo que pregava a igualdade entre os homens, mesmo discordando do machismo de Cristo.

Mas isso é história para uma enciclopédia e não para um simples post mal traçado. Seria também assunto para mil livros, como o foi nesses 49 anos, a história de Cuba e a biografia de Fidel.

De maneira nenhuma vou discordar de quem opinou sobre o texto de ontem, mesmo porquê não vi discordância, pelo contrário. Foram todos muito polidos e o que vi foram acréscimos ao que fora escrito.

Minha intenção foi divagar sobre uma nova Cuba, coisa que não acredito que ocorra a curto e, talvez, nem a médio prazo. Expus minha análise baseada no meu parco conhecimento histórico. Como falei logo nas primeiras linhas, a princípio a revolução cubana foi boa para a população. Fidel e seus assessores deram a Cuba, num curto prazo, o que Batista não daria em duas vidas, mas perdeu a mão, não foi maleável, não conseguiu adaptar-se aos novos tempos, manteve-se fechado para o mundo, juntamente com a Albânia e a Coréia do Norte, com a diferença que a Albânia continuará um ET no meio da Europa e a Coréia é amiguinha da China e não da União Soviética.

O Ricardo disse: “Faltou um pequeno detalhe, o apoio a Batista era americano, ok. Mas sim sustentado pela Máfia que encontrou em Cuba um paraíso fiscal para lavar dinheiro. Consta que Batista costumava fazer a ronda pelos hotéis cassinos recolhendo sua parte enquanto o povo cubano passava fome. Um cenário ímpar para surgir um membro da elite e tomar o poder.”

Tem razão, não comentei esse detalhe, mas dei uma pincelada ao dizer “Fulgêncio Batista havia feito de Cuba um bordel estadunidense. Aquilo que o conservadorismo ianque não permitia em seu território, com exceção de Las Vegas, transferiu para lá. Jogo, prostituição, máfia de bebidas e contrabandos mis. A ilha tornou-se um inferninho de grandes proporções.”

A Neula disse: “Concordo parcialmente com o que escreveu, pois, A população de Cuba nunca teve uma vida afortunada, pelo contrário, antes, o que existia era essa divisão incorreta em que 2% tem a maior parte do dinheiro e o resto da população vive na miséria.”

E mais: “depois que Ele assumiu o poder, a divisão ficou mais justa, se os pobres não enriqueceram, os ricos também não.”

Ainda: “No Brasil são 200 milhões de técnicos de futebol, em Cuba são 11 milhões de cientistas sociais, políticos e economistas.”

Mais um pouco: “A porcentagem da população com saneamento básico alcança 98% mais do que seus vizinhos, e muito mais que no Brasil que é de 61%. Em Cuba todos tem direito a atendimento e assistência hospitalar, dentistas, educação, moradia e alimentação. Isso é obrigatório lá. Ninguém come filé enquanto o outro come farinha com água.”

Cara Neula, não achei nem um pouco agressivo seu comentário, pelo contrário, você colocou suas posições de maneira clara e educada, agradeço por isso. Porém, também tenho alguns reparos a fazer.

No tocante ao primeiro parágrafo, tirando os dados estatísticos, falei justamente isso. A população era miserável e tornou-se apenas pobre num primeiro momento. Os cubanos das castas inferiores ganharam muito ao se verem livres do tacão de Batista. Os mais poderosos foram para a Europa, como próprio Batista, que morreu na Espanha, ou para os Estados Unidos, levando consigo as fortunas amealhadas com a exploração da população e seus negócios ilícitos.

A divisão ficou mais justa ou menos injusta. Não sobraram milionários em Cuba, mas criou-se uma classe favorecida pelas benesses do poder formada pelos chefes da burocracia e os comandantes militares. Não há igualdade social, portanto. O mesmo aconteceu na Polônia, Rússia e seus satélites, Albânia, Coréia e em todos os países ditos comunistas. Isso é fato comprovado em incontáveis livros, enciclopédias, documentários.

Não rebato a melhoria considerável na educação, praticamente extinguindo o analfabetismo e, para nossa vergonha, utilizando-se do Método Paulo Freire, que o Brasil se recusou a utilizar, mesmo contando com o apoio de alguns educadores na ditadura, pelo simples fato de Paulo Freire ser socialista. No Brasil parte-se da premissa que se o cara não tem a mesma ideologia nossa, nada nele presta. A saúde também vai bem, embora ela não é excelente para todos. O que muito ajuda na ilha é a medicina preventiva, aí, sim, um banho em nós.

Não vou entrar e nem acho deveras importante, essa mania de se compararem estatísticas e modelos sem se levar em conta as realidades locais. A população de Cuba é quase a mesma da região metropolitana de São Paulo e sua área territorial é menor que a do Piauí, portanto, a administração pública tem que ser outra, sem falar nas questões históricas e culturais que não tenho sequer como elencar aqui uma vez que as diferenças são diametrais. O Brasil sempre pecou em querer copiar modelos estrangeiros sem a devida adaptação às nossas características, o que tem causado crises e mais crises.

Falou o Zé Povo: “Quanto à Cuba e os cubanos, é preciso conhecer as verdades, porque as mentiras todos sabem...”

Zé, com todo o respeito que lhe tenho, à sua inteligência e a honestidade com que você defende suas idéias, o seu sectarismo nesse comentário pouco acrescentou. Garanto a você que gostaria de conhecer mais “as verdades” a que se refere. Para quem é muito bom em argumentos, dessa vez você ficou devendo.

Obrigado a quem conseguiu chegar até aqui. Não gosto de escrever textos longos, uma vez que a maioria dos leitores de blogs não tem paciência para leituras longas. Por outro lado, tenho certeza que quem chegou até o final são aqueles que têm argumentos, conhecimento e, via de regra, já me conquistaram por isso em seus blogs. Mas, se por acaso, quiserem continuar a discussão, ótimo, estamos aqui para isso.

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Nova Cuba?

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La Revolución, num primeiro momento, melhorou a qualidade de vida dos ilhéus, não resta dúvida. Fulgêncio Batista havia feito de Cuba um bordel estadunidense. Aquilo que o conservadorismo ianque não permitia em seu território, com exceção de Las Vegas, transferiu para lá. Jogo, prostituição, máfia de bebidas e contrabandos mis. A ilha tornou-se um inferninho de grandes proporções. À sua população sobravam as migalhas.

Os desmandos de Batista, que ascendera ao poder por meio de um golpe de estado bancado pelos estadunidenses, fixado por uma ditadura, afastou de Castro a aspiração de tornar-se um representante eleito democraticamente. O futuro líder já alimentava o poder da luta armada para chegar ao poder. Como ensaio, esteve lutando contra o governo da República Dominicana. Juntem-se as coisas e obtém-se um coquetel explosivo: um governo ditatorial, a influência estrangeira, a cassação de seus direitos políticos, a família e os amigos empobrecidos, a cultura latino-americana de golpes militares, a miséria se expandindo pelo território do país, a guerra fria, uma adolescência enriquecida com leituras marxistas, uma personalidade vaidosa e uma insaciável fome de poder. Não foi á toa que teve o apoio popular quando tomou das armas para depor Batista, expulsar os exploradores do continente e assumir o comando.

Para manter a aparência de bonzinho e bem intencionado, não assumiu a presidência de Cuba, colocou-se como chefe de governo até assumir a chefia de estado, concomitantemente com a função anterior em 1976.

Sua sede de poder, alimentada pela toda poderosa União Soviética, que ficava feliz em ter um território tão perto dos Estados Unidos para plantar seus mísseis de ogiva atômica, evitou que modernizasse as relações entre o estado e a população. Mesmo com a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, temendo ser arrasadoramente derrotado se democratizasse o país, preferiu manter tudo nos moldes antigos.

Não modernizando o país, seja no campo industrial, no político, no previdenciário ou em qualquer outro, passou os últimos dezenove anos maldizendo os presidentes estadunidenses e seu embargo econômico, ampliado para a maioria dos aliados. Por outro lado, nada fez de concreto para mudar a miséria que voltara aos níveis do tempo de Batista. A prostituição, por exemplo, que na época do ditador anterior, era um comércio para receber bens os milionários que iam atrás das praias sempre tépidas, da boa comida e da comida de boas, tornou-se uma instituição nacional, olhada com vistas grossas pelo poder central por ser uma eficaz forma de sobrevivência para as famílias miseráveis daquelas jovens.

Mesmo as ditaduras sul-americanas extinguindo-se, pelo menos nos moldes antigos (hoje essas se fazem fantasiadas de democráticas), Fidel manteve a sua pelo gabarito anterior, condenando dissidentes à morte, fechando as fronteiras para a saída dos insatisfeitos, condenando à prisão qualquer um que ousasse criticar sua pessoa ou seu governo. Não existem números exatos de quantos foram mortos e quantos ainda encontram-se encarcerados.

Com a sua renúncia, vemos cientistas sociais e políticos, chefes de governos, jornalistas, candidatos à presidência dos estados Unidos e mais uma horda de otimistas apostando numa modernização cubana. Mais cético e pessimista, não vejo mudança a médio prazo.

No poder está Raul, irmão caçula do déspota. Fidel afastou-se do poder de direito, mas não de fato. Há toda uma organização de privilegiados que não ousaria soltar o osso. A igualdade de posses e oportunidades pregada e defendida da boca pra fora por El Comandante e seus cupinchas, nunca ocorreu de fato. Na verdade, há uma casta de privilegiados, se não com mansões, para não chamar demais a atenção dos miseráveis que os cercam, mas de fato com uma despensa fornida e condições de vida muito superiores Às dos conterrâneos. Basta ver a lista dos milionários da revista Forbes, em que aparece Fidel com muitos milhões espalhados em contas pelo mundo.

Isso já acontecia na matriz, a União Soviética. Os burocratas do Comitê Central do Politburo tinham dachas majestosas, carrões, viagens de férias com as famílias pela Europa, escolas para os filhos na Suíça, Inglaterra e França...

Fidel manteve as raízes fincadas no palácio presidencial, Raul não vai querer enfrentar tribunais internacionais, os comandantes militares e os chefes burocratas não vão querer perder a mamata. Nada mudará em Cuba nos próximos poucos anos. Isso só ocorrerá se Bush, com a popularidade na lama, tentar aproveitar-se desse momento de paralisia por estupefação da população cubana para tentar uma invasão, seja de militares, seja financiando os cubanos rebeldes que vivem em Miami e redondezas. Não é de se duvidar que o Lula dos ianques tenha um devaneio desses, uma vez que os democratas estão bem cotados para ganharem as próximas eleições presidenciais.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

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O cidadão quer participar, quer ouvir e ser ouvido, quer sentir-se parte atuante dos caminhos e descaminhos do país. Me refiro ao verdadeiro cidadão e não ao portador de um título eleitoral leiloado a cada dois anos por promessas ou cartão-benefício (para ser bonzinho). Falo do cidadão que se informa, tem senso crítico, independentemente do matiz político com que se colore.

O cidadão-verdadeiro, não os que são cantados em crônicas, artigos e reportagens dos piegas, lê jornal, assina revistas, zapeia pelos sites de notícias, informa-se pelos canais de política e economia, procura saber do que ocorre nos corredores dos palácios, mesmo sabendo que as informações passadas ao público são apenas uma pontinha do que se conversa nos gabinetes. Ele quer participar, ajudar a construir uma pátria e não apenas um país. Vota por dever cívico e não por obrigação legal. Estuda a biografia dos votáveis, opina, discute, às vezes ganha, às vezes perde, mas quando perde fica torcendo para que o vencedor acerte a mão e faça bem sua parte, que dê ouvidos aos cidadãos-verdadeiros.

E frustra-se, no final das contas. Mais uma vez arrepende-se por não ter participado mais, acha que não fez o suficiente, fica furioso porque usou os argumentos certos, mas seus interlocutores são beócios que não o entendem ou são mal intencionados que esperam que a balbúrdia continue a mesma, nem que seja apenas para eles pegarem um sobejo que caiu de sobre as toalhas de linho egípcio. Promete que não mais participará, tornar-se-á um alienado telespectador de telenovelas e reality shows. Dá uma banana para os que elegeram quem foi eleito.

Mas o cidadão-verdadeiro não consegue ficar alheio. Passada a raiva, volta aos noticiários, palpita, manda cartas se for do tempo das cartas, ou manda e-mails se for mais moderninho. Não recebe resposta de suas missivas, mas continua persistindo. Uma hora terão de ouvi-lo!

Percebe, não sem muita dor, que não querem saber dele senão para pagar as contas. O cidadão-verdadeiro normalmente está imprensado no meio da pirâmide. Paga as benesses dos que estão acima e as esmolas dos que estão abaixo e fica com as sobras. Anseia subir na pirâmide, mas vê a base mais perto. Percebe que era classe B ou C e está aproximando-se da D. Nota que a classe E diminui, está subindo os degraus. Ele a encontrará brevemente, o choque se encontrará com sua descida e a subida daqueles que ajuda com seu dinheiro vendo a Classe A ganhar os méritos. É insultado de elite por quem detém o poder e é a verdadeira elite. É esnobado como rico por aqueles que se acham no dever de se apoderar do que é seu porque assim a verdadeira elite diz que pode ser. Suas tarifas públicas aumentaram para que diminuíssem as tarifas dos D e E e os A e B posam de Robin Hoods. Às suas custas!

Percebe que não é mais parte do todo, é apenas o mantenedor. Olha para os lados e vê outros iguais a si satisfeitos com os rumos que o país sem pátria está tomando. Passa a questionar seus valores. Se os A estão felizes com os lucros amealhados; os B estão satisfeitos com o dólar baixo e a carne que não falta à mesa; os C, seus pares, batendo palmas; os D dando risadas com seus crediários a perder de vista; e os E deixando de sê-lo para sentirem-se emergentes entre os D, ele deve estar errado, muito errado.

Não faz parte da corporação mandante e nem da companhia limitada portadora das benesses, é um excluído. Deve estar pensando ou agindo errado, só pode. Todos batem palmas para o establishment enquanto ele vaia. As probabilidades matemáticas apontam que ele é o destoante, portanto, o errado. E ainda é taxado de golpista.

Até quando o cidadão verdadeiro resistirá?

domingo, fevereiro 17, 2008

bessinha

  • A Uol chama a atenção para uma coisa que a maioria de nós ainda não se deu conta. O escândalo dos cartõs corporativos e a CPIzza estão desviando a atenção da CPIzza das ONG, que tenta encontrar oparadeiro de R$ 32 bilhões que o governo federal repassa sem fiscalizar, sem saber o paradeiro e sem conhecer os resultados do investimento. É muito mais dinheiro do que os "eventuais desvios" feitos via cartões corporativos.

 

  • A Polícia Civil de Alagoas está em greve há sete meses, a Polícia Militar do Rio não se entende com a chefia do poder executivo. A bandidagem está adorando isso, sem falar que se isso se espalhar para outros estados, não só os bandidos de colarinho branco ficarão à vontade, como sempre ficaram, como seus colegas de colarinho sujo poderão agir com mais liberdade e menos punição.

 

  • A MP da Tele Lula deverá ser votada nessa segunda-feira. Aí estará criado mais um ralo para o dinheiro público e o palanque eletrônico ideal para lula e sua curriola.

 

  • Por falar em Lula, não poderia deixar a viagem dele à Antártica sem uma piadinha: 1. Dona Marisa poderá economizar no botox, agora será consevada no gelo. Isso se o marido não tomar todo o gelo no uísque. A desculpa é que foi para aquecer-se do frio; 2. A viagem do casal real vai nos trazer alguma economia, lá não tem ninguém que venda pelo cartão corporativo.

 

  • Há alguns meses foi enviada uma tropa da Guarda Nacional para Brasília e essa tropa tinha como missão combater a violência crescente no entorno da capital. Sai o primeiro relatório das ações dando conta que a violência não diminuiu. Ou seja, as autoridades de segurança pública brasileiras ainda estão pensanso como pensavam os policiais do primeiro mundo há trinta anos: a força é a solução. Atualmente, as melhores polícias do mundo investem mais em inteligência do que em armamentos. Continuamos patinando na incompetência.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Mostra Plural

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Hoje fui tomado por um terrível sentimento de impotência e desilusão. O culpado por isso foi o noticiário. Seja qual o jornal que eu ler, só notícias ruins, até parece a eterna guerra entre judeus e palestinos onde todos sabem qual o problema, todos (ou quase, não estou falando da indpustria bélica) querem paz, todos sabem os caminhos a seguir para consegui-la, mas os embates continuam.

Assim é a vida do brasileiro: políticos roubando ou fazendo vistas grossas, incompetência em todas as áreas, leis frouxas, penas benéficas, fiscalização inexistente e nenhuma esperança que esses males sejam resolvidas.

Vou investir meu tempo, portanto, em coisas mais agradáveis.

A Lunna e a Letícia convidaram vários blogueiros e escritores a desenvolverem textos sobre o tema Cenas Urbanas, juntaram todos os textos, um meu entre todos, e publiaram no blog Coletânea Artesanal. É nessa leitura prazerosa que estarei mergulhado por algum tempo e convido-os a compartilharem conosco essa maravilha.

Vejo-os por lá.

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Abaixo a Pedofilia

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Desde o primeiro momento que li a chamada da Luma para esse post coletivo, me predispus a participar dele. Não contava, porém, com a dificuldade que seria desenvolver o tema. Poderia explorar a questão histórica, dos efebos que os nobres gregos tinham a seu dispor como brinquedinhos sexuais; poderia varar o caminhos das leis ocidentais ou dos casamentos arranjados entre meninas e rapazes promissores, prática comum nos Brasis de outrora; poderia falar da questão religiosa e da culpa judaico-cristã ou da permissividade de alguns cultos mais antigos em relação à questão; poderia divagar sobre comercialização via internet de fotos e vídeos que tarados, principalmente da Europa, fazem, o que fez com que o mundo tomasse conhecimento da pedofilia que sempre existiu, mas ficava nas conversas de especialistas ou nas famílias envergonhadas das vítimas; poderia escrachar o turismo sexual que se encontra principalmente nos países terceiromundistas, o Brasil entre os campeões e que esse turismo é, indiretamente, incentivado pelo governo através das propagandas de mulheres peladas nos países europeus, e da falta de uma política séria em educação e combate à pobreza... Enfim, muitos poderiam ser os enfoques, mas não sabia por onde começar e que caminho seguir. Perdido, até o título do post foi feito na base da lei do menor esforço, um clichê.

Saí, então, passeando pela internet, pesquisando atrás de uma luz. Eis que me deparo com o anúncio “Fotos de Pedofilia Grátis?”. Como não uso a internet para deleites libidinosos, levei um susto. O negócio é assim escancarado? Os malucos sequer se dão ao trabalho de tentar esconder? Não criaram um código para se intercomunicarem sem chamar a atenção como fazem as meninas com bulimia e anorexia que usam o “bia” e “ana”? Fui lá ver o que era aquilo.

Para minha surpresa, a intenção do dono do blog era justamente o contrário do que aparentava. Há algum tempo ele havia postado sobre a pedofilia e desde então centenas de pessoas passaram a cessá-lo por meio dos sites de busca e a palavra chave era justamente “pedofilia”. Indignado, ele insinuava que todos os que iam atrás dessa palavra mereciam ser denunciados. Os comentários de seu post dividiam-se: uns concordavam que deveria haver uma denúncia, outros diziam que foram parar ali por conta de uma pesquisa para a escola ou de temas possíveis para a redação do vestibular. Eu próprio caí no blog do rapaz em busca de material para esse post.

Imediatamente me veio à mente o caso da Escola Base, de São Paulo. Por conta de policiais que gostariam de posar de heróis e de uma imprensa sensacionalista, as vidas de Maria Aparecida Shimada e de seu marido Icushiro Shimada, donos da escola, viraram um inferno. Apareciam nos telejornais, jornais impressos e revistas como monstros molestadores de crianças. Tiveram que fechar a escola, foram torturados, ameaçados de morte e, no final das contas, num processo apressado, inocentados. O único condenado por danos morais foi o governo de São Paulo, que teve que pagar cem salários mínimos para cada um deles e a mesma quantia para um de seus funcionários também linchado moralmente. Nenhum jornalista sequer pediu desculpas, nenhum policial foi punido e os acusados injustamente hoje vivem de tirar xerox numa lojinha.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. A pedofilia é um caso seriíssimo, drasticamente punido pelos bandidos quando se defrontam com os culpados, ou simplesmente acusados, numa cadeia ou num presídio, punição essa defendida por boa parte dos cidadãos comuns. A pena dada pelos presos é a pena que boa parte da sociedade defende que seja aplicada pelo estado: a morte.

A pedofilia não é apenas um desvio de comportamento, é uma doença. Em países, principalmente os localizados acima da linha do Equador, desenvolveram e desenvolvem incontáveis trabalhos sobre o tema. A psiquiatria forense o estuda mais e mais, ajudando a modificar leis e tratamentos para os doentes, além de penas que vão desde até prisão perpétua, ou à pena de morte. Em alguns países, quando o condenado volta à liberdade, fica em vigilância constante e terminantemente proibido de aproximar-se de locais normalmente freqüentados por crianças como play-grounds, escolas, parques de pic-nic... Isso porque, cientificamente comprovado, o desejo por praticar sexo com crianças nunca desaparece. O doente pode se ressocializar, mas se não estiver em constante auto-vigilância, pode voltar à prática nefasta a qualquer momento.

Uma das características mais cruéis da pedofilia é que os algozes da criança violentada, haja coito ou não, na maioria das vezes são pessoas próximas. Pais, padrastos, irmãos, babás, primos, justamente aqueles que deveriam dar segurança, carinho, educação e suporte, traem a confiança da criança e praticam seus atos imperdoáveis. Podem até ser compreensíveis à luz da ciência, mas não podem ser perdoados pela sociedade, o que é compreensível também.

A vigilância tem que ser constante. O preço a se pagar pelo descuido pode ser muito alto.

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  • Voltando a um assunto que vocês já imaginavam encerrado: meu livro. A maioria eu vendi pessoalmente ou por e-mail, alguns deixei na secretaria da escola onde trabalho e outros deixei numa livraria. Hoje recebi de volta sete que se encontravam na livraria. Os que estavam comigo e os que estavam na escola esgotaram-se. A livraria justificou a devolução porque muita gente que procurava queria com a dedicatória, daí preferia me procurar ou à escola. Dos vinte, portanto, só conseguiram vender quatorze. Àqueles que têm m enviado e-maisl em busca do seu, comunico que tem essa rapa de tacho. Se houver interesse, é só me mandar um e-mail: pontes.mr@gmail.com

 

  • Até o pai do Ayrton Senna envolvido em trabalho escravo? bem que a sabedoria popular nos diz há séculos: quem mais tem, mais quer.

 

  • Pode-se falar o que quiser de Roberto Jeferson, a maioria será verdade, mas a decisão dele não aceitar a delação premiada para entregar os demais bandidos do mensalão é algo digno de aplauso. O cara tem coragem. provavelmente há uma segunda intenção nessa decisão dele, mas a primeira impressão é muito boa.

 

  • Piadinha do governo federal: a reforma tributária não deverá sair em 2008. E alguém acreditava que sairia? E a reforma política, alguém espera que saia algum dia? Ô, dó!

 

  • O Senado deu uma no cravo e outra na ferradura. ontem fiquei feliz ao saber que fora aprovada a medida de afastar os senadores de cargos em comissões e qualquer outra função de chefia depois que o Conselho de Ética acate denúncia contra o sujeito. Não é ótimo, mas é uma decisão acertada. Hoje, porém, os caras tornaram definitiva a decisão que um senador não pode ser investigado ou processado no Senado por algum crime, contravenção ou qualquer outra atitude ilegal realizada antes de assumir o mandato. Ou seja, depois de empossado, ladrão vira anjinho. Isso já acontecia de fato, agora acontecerá com respaldo de lei. Cambada de porcos!

 

  • E afirma o Estadão: 10% dos funcionários públicos federais respondem a processo. É um número muito alto e, mesmo assim, ficamos com a sensação que a maioria dos safados ainda não foi encontrada ou encontra-se escondidinho sob a saia de alguma autoridade.

 

  • O PSDB assumiu o compromisso de não investigar os familiares de Lula na CPIzza da Tapioca. O motivo é simples, para quem tem memória: o Filho de FHC esteve envolvido em falcatruas no mercado financeiro. Cá pra nós, o que vai se gastar com essa CPIzza deverá ser muito mais do que Lula e sua gang gastaram com o cartão corporativo e no final das contas ninguém será punido. Sou do tempo que crime era investigado pela polícia e não por outros bandidos.

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Conivência

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Quando um cidadão comum, que trabalha oito horas de trabalho por dia, leva as crianças à escola, passeia com a família no final de semana, encara os contratempos cotidianos como fila de banco, repartição pública, maus pagadores, fornecedores impontuais e todo esse inferno cotidiano insiste em dizer que é um sujeito bem informado, muito provavelmente vai completar a conversa com uma notícia que viu ontem no Jornal Nacional.

Foi num grupo com alguns desses cidadãos que me encontrei dia desses. Era aniversário de um deles. Muita comida, muita bebida e a conversa rolando solta. Aos poucos o ambiente foi-se esvaziando, as mulheres levando os filhos para dormirem, aqueles que tinham compromisso na manhã seguinte se retiravam a contragosto, os velhos cansados com saudade de suas camas... Terminamos nós cinco ao redor da mesa resolvendo todos os problemas do mundo, como os bêbados costumam fazer.

Política, futebol, costumes, tudo fazia parte da conversa. Um assunto puxando outro. Chegamos, por fim, ao Tropa de Elite, sensação de qualquer bate-papo naqueles dias.

Um dos cidadãos bem informados, que havia assistido a uma cópia pirata do filme, assim como dois dos outros, tocou no ponto da trama que os jornais e revistas rebatiam, uns repetindo os outros: o consumidor de drogas mantinha os criminosos que, potencialmente, poderiam atentar contra a segurança dele próprio, de sua família e de toda a sociedade inocente.

Como não havia assistido ao filme, e ainda não assisti porque os cinemas da minha cidade viraram igrejas evangélicas e me recuso a consumir produto pirata, me reservava à posição de ouvinte. Ao tocarem, porém, nesse ponto em que crimes mais violentos eram financiados pelo consumidor classe média, me lembrei de discussões que levava com os colegas de escola lá em mil-novecentos-e-futebol-de-meia. Naquele tempo já havíamos chegado à mesma conclusão. Imagino que o diretor do filme esteja mais ou menos na mesma faixa etária que eu, não estranho que, com seus amigos, também tenham chegado a essa conclusão. Tão óbvia, por sinal, apenas repudiada por quem é cego para o problema ou tem interesses inconfessos.

O próprio governo federal, numa série de vídeos que faziam parte de uma campanha contra as drogas ilícitas, em um deles mostrava um rapaz tirando dinheiro da bolsa da mãe, ia até uma boca de fumo, repassava o dinheiro ao traficante que usava esse dinheiro para comprar uma arma e com essa arma, num assalto, atirava na mãe do viciado que a via morrer. Esse vídeo veiculou uns dois anos antes do filme de José Padilha.

Curiosamente, coisa rara entre bêbados, eu entre eles, não houve discussão. Falávamos e falávamos, cada um no seu volume mais alto, apenas para colocar suas impressões mais precisas. Estávamos todos de acordo com a tese.

No meio da conversa, um de nós retirou-se da mesa, voltando minutos depois com um cigarro de maconha. Choquei!

Caramba, aqueles caras sabiam que estavam dando dinheiro para bandidos que amanhã poderiam assaltar suas esposas, seqüestrar seus filhos, assaltar suas empresas e ainda assim continuavam consumindo a maldita marijuana!

Aceso o cigarro, eu e outro nos retiramos, com a desculpa que estava tarde e teríamos que acordar cedo. Os outros três ficaram com sua droga, sua droga de vida e com a minha total perda de respeito.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Rapidinhas

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  • Chegará amanhã no Senado o Projeto de Lei que reza sobre a diminuição da maioridade pena. Está longe do que a população deseja, mas já é alguma coisa. Vai ficar um pouco mais difícil os bandidos transferirem a responsabilidade de seus crimes para os "dimenor" das gangs. Se tais mudanças forem aprovadas, vamos ver se o pessoal dos direitos humanos não se mete alegando que elas vão contra o que prega o Estatuto da Criança e do Adolescente. Vixe! Acho que dei idéia...

  • Minha modesta contribuição para o Código de Ética do PT, que deve ser lançado em março: "É anti-ético e sujeito à expulsão do partido roubar de companheiros e de amiguinhos aliados. Se quiserem roubar, façam-no contra os otários não filiados e que caem na besteira de pagar seus impostos em dia".

  • O relator da Medida Provisória da TV Brasil, popularmente conhecida como Tele Lula, disponibilizou, em seu texto, uma verba "própria" de R$ 300 milhões. De própria não tem nada, uma vez que essa TV não gerará renda, apenas sugará de canudinho uma dinheirama que seria muito mais útil se aplicada na saúde ou na educação, por exemplo. O argumento usado pelo gênio é que tal verba daria mais autonomia para a Tele Lula. Autonomia como, buana, se o dinheiro será repassado pelo governo federal? Esse povo acha que todo mundo é otário. Pra falar a verdade, estou começando a achar também. Incluindo a mim mesmo no rol.

  • Fica todo mundo espantado e penalizado com as mortes nas serras fluminenses depois da chuvarada da última semana. O que não vejo ninguém falar é que D. Pedro II já havia probido construções nas encostas devido aos riscos de desmoronamentos e de danos ao ambiente. Com o fim do Império, os republicanos resolveram desfazer tudo o que os imperadores haviam feito, inclusive as coisas boas. Agora choramos as chuvas derramadas.

domingo, fevereiro 10, 2008

mostra

Em outubro e novembro do ano passado, por conta do lançamento do meu livro, sites locais de notícias e blogs de amigos fizeram comentários a meus escritos, alguns aventuraram-se na tentativa de definir minha personalidade, que nem eu mesmo consigo traduzir em palavras, até porque não me dou ao trabalho da análise, a vida independe da vontade.

Na sexta-feira, dia 8, a Letícia me fez um afago que me surpreendeu. Li a meu respeito como se o texto falasse de outra pessoa. Não me acostumo com elogios, nunca sei como reagir a eles. Uma amiga uma vez me deu uma lição: não reaja, apenas ouça, ou leia, e agradeça. Quem elogia o faz por querer e não na esperança da retribuição. Então ta. Li e agradeço, à Letícia pela sua generosidade que se mostrou de duas maneiras: pelo elogio gratuito, sem qualquer motivo que o gerasse senão a admiração e por dar de seu tempo um pedaço a alguém que sequer conhece senão pelos textos lidos.

Obrigado, Letícia.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

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Marizelda era filha única de um oficial da Marinha, o que lhe dava o direito a uma pensão vitalícia após a morte do pai, caso ela não se casasse. E isso aconteceu.

Portadora de uma timidez excessiva, a menina Marizelda só saía de casa para a escola. Não ia a parque, piquenique, igreja, praia, baile ou qualquer outro programinha típico das garotas de então.

Era o auge do rádio no Brasil. A garota pediu ao pai e ele lhe deu de presente de aniversário um rádio, um verdadeiro móvel de madeira e válvulas, os conhecidos rabos-quentes. O aparelho estava sempre ligado, tornou-se o amigo que Marizelda não tinha.

Seu amigo de fios e pilhas lhe cantava nas vozes de Noel Rosa, Marlene, Noite Ilustrada, dava-lhe notícias do Brasil e do mundo e, seu maior deleite, a fazia sonhar com as novelas.

Com o tempo passou a achar as tramas sempre iguais e foi-se encantando com os comerciais. Imaginava as cores, gostos e cheiros do mundo que não via, por meio dos reclames. A curiosidade foi aumentando e a voz agradável num português perfeito foi virando mania.

Pedia à mãe sabonetes Eucalol e água de cheiro Leite de Rosas. Mesmo adolescente, rendeu-se ao bê-a-bá-bê-é-bé-bê-i-Biotônico Fontoura, os paninhos para seus dias de incômodo foram substituídos pelo Modess. Ajudando a mãe na cozinha, exigiu panelas de pressão Rochedo e louça Nadir Figueiredo.

Veio a Bossa Nova e, paralelamente, a televisão. No rádio ouvia a novidade e o almirante se viu obrigado a comprar um aparelho Colorado RQ. Não era a maravilha que esperava. Ficava no ar apenas poucas horas por dia e não tinha tantos reclames, mesmo assim a fascinava por poder ver as maravilhas da vida moderna e não somente ouvir falar delas.

Fez o pai trocar o velho Aero Willis por um Gordini, passou a rejeitar o leite in natura que seu Fidélis entregava de porta em porta, agora só leite em pó Mococa, as buchas vegetais para lavar louça cederam lugar para o mil e uma utilidades Bom-Bril, que vinha numa linda caixinha de papelão vermelha. Até mesmo a Colorado RQ foi substituída por uma Telefunken. Os comerciais pautavam sua vida.

Os pais morreram e Marizelda, vivendo com a polpuda pensão herdada, usava o telefone para fazer suas compras. Ariosvaldo, filho da velha empregada, dona Jordélia, que acompanhava a família havia anos, levava suas cartas para as empresas das quais desejava informações sobre seus produtos, ia à banca comprar O Cruzeiro, ia ao banco pagar as contas e retirar os talões de cheque ou descontar algum.

A moda era a Jovem Guarda. Jerry Adriani, Roberto Carlos, Wanderléia e toda a turma invadiam sua casa em seus discos de vinil que rodavam na eletrola Radiolux quando a TV estava fora do ar.

Vieram os 70, os 80, a velha Telefunken foi substituída por uma Toshiba com garantia até a próxima Copa, as panelas Rochedo deram lugar às Tramontina, os sapatos Vulcabrás 752 e as botas 7 Léguas nunca foram usados, assim como as Botinhas da Xuxa, mas ainda ocupavam a sapateira juntos aos tênis Bamba e as chuteiras Topper.

Passou a alimentar-se de Nissim Miojo e Cup Noodles, na sobremesa aaaaaaabra booooooooca, é Royal, pudins Royal, ou lasanhas pré cozidas Sadia, preparadas no forno de microondas Brastemp, que fazia par com uma geladeira duplex, que substituíra a já idosa Gelomatic. A churrasqueira George Foreman, adquirida junto com AB Shaper, nunca fora usada, mas era tão bonita e versátil...

A cada semana trocava os xampus e as escovas de dentes por mais modernos e bonitos, assim como o dentifrício, que já fora Kolynos, Colgate, Signal, Close-Up... Procurava a ideal para retirar o amarelado dos dentes deixado pelo Hollywood, ao sucesso!, que depois se tornara uma raro prazer, Carlton.

Aos setenta descobriu que o primeiro sutiã a gente nunca esquece. Os antiquados calefons se aposentaram e, em seu lugar, agora só usava Valisère.

Quando morreu, dormindo sobre seu colchão Ortobom forrado com lençóis Teka, foi um trabalhão para os bombeiros retirarem o cadáver do meio de tanta tralha, boa parte ainda dentro das caixas. Há cinco anos técnicos do Museu da Propaganda fazem um inventário dos achados arqueológicos.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

renato

  • Não sei se é meu bom humor que está em alta, mas as notícias de hoje me causam gargalhadas.

  • Dilma falou ontem em entrevista (assisti a toda a entrevista ao vivo na Record News) que seis ministros perderiam o cartão corporativo. Segundo ela, não se justifica fazer despesas quem é responsável legal por sua liberação, ou seja, os ministros da área econômica. Hoje já sai a notícia que os ministros não perderão seus cartões, apenas receberão orientação para não usá-los. Governinho barata tonta, nunca sabe que direção vai tomar e fica andando em cículos.

  • Complementando a notícia daí de cima, já que os ministros são recomendados a não fazer despesas com o tal cartão, caberá aos seus assessores fazerem as compras. Quer dizer, o chefe não pode gastar, não seria ético, mas seus aspones podem fazer compras para o chefe. Quando alguém entender, por favor, me explique.

  • Romeu Tuma, que saiu do DEM, por quem se elegeu, xerife do senado, disse que pedirá investigações à Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público sobre as atuações de Lobão Filho, também ex-DEM. Mais uma ceninha pra inglês ver. A propósito, vossas senhorias sabem quem é o suplente do Lobãozinho? Garanto que quando souberem também terão vontade de gargalhar. O nome do sujeito é Remi Ribeiro, que também é investigado por peculato e por crime de responsabilidade.

  • "Sou um exemplo para as mulheres". Adivinhem de quem é a frase? Pensou que era de Madame Marie Curie? Pois não é, não, bobinhos. É de Mônica Veloso. Cá pra nós, se eu tivesse uma filha e essa resolvesse tomar Mônica Veloso como exemplo, eu a expulsaria de casa depois de dar-lhe uma peia. Onde já se viu?

  • Outra de peladona: aquela de quem não sei o nome, que deixou o tapa-sexo cair na Sapucaí, disse que o objeto microscópico não caiu, que o mesmo estava colado com Super Bonder. É ou não é de gargalhar? Já imaginou o trabalho que deve ter sido retirar o bagulho?

  • Essa pode até ser uma boa, embora vindo de onde vem, faz a gente ficar com os dois pés atrás. O Senado vai divulgar pela internet o gasto dos senadores. Será mesmo? Com que propósito? E justamente no momento em que se discute os gastos do Executivo? Tem gato nessa tuba. Esperemos pra ver.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

AUTO_solda

  • É impressão minha ou a grande mídia descobriu que Luiz Tatit existe? O cara é bom e merece o destaque que andou recebendo pelas televisões nos últimos dias. Que assim continue, embora não acredite muito. Baixa qualidade faz mais sucesso.

 

  • Coisas do Brasil: Ao invés de melhorar a educação básica, prefere-se dar cotas; ao invés de se investir na melhoria e popularização da TVE e da TV Cultura, prefere-se criar uma rede de TV pública. Coisas do Brasil...

 

  • Hoje resolvi experimentar uma dessas águas minerais com sabor de fruta. Escolhi a de limão. Sabe o que me lembrou? Quando éramos vários irmãos e muito pobres, fazíamos um suco de laranjas e colocávamos água para render mais e dar para todos. Ô, negociozinho ruim!

 

  • Comprei A Tarde para saber as notícias da Bahia, o que encontrei foram oito cadernos sobre carnaval, um de classificados e outro sobre o camarote 2222, de Gilberto Gil. Acho que joguei R$ 1,75 no lixo.

 

  • Pela quinta vez vou perguntar nesse blog: qual a finalidade do impedimento no futebol senão beneficiar o time que não sabe preparar sua defesa e punir aquele que ataca? Até hoje ninguém me deu uma resposta aceitável.

 

  • Gostei do nome: CPIzza da Tapioca. A pseudo-oposição, PSDB e DEM, disse que quer que sai. No fundo, encontraram mais uma maneira de fazer chantagem com o governo, ganhar algum para suas obras estaduais (ganho para ano eleitoral) e depois deixarem tudo como está, ainda mais que o PSDB tem reais chances de conseguir a próxima presidência. Imagina se perderiam a boquinha de cartões corporativos para todos os tucanos amigos, peemedebistas que não largam o osso e os prováveis aliados DEMoníacos?

 

  • Contrariando Dorival Caymmi e o Felipe Machado, do Estadão, gosto de samba, sou doente do pé (tenho dois pés esquerdos), mas não suporto carnaval. Se eu gostasse de ambiente barulhento, cheio de gente suada se esfregando em mim, balanço pra frente, pra trás e pros lados, mal cheiro e gente mal educada, pegaria ônibus na hora do rush.

 

  • Já fizeram o rescaldo momístico? Quantos morreram? E chamam isso de festa.

 

  • De novo o Estadão. Tá lá: "BRASÍLIA - O governo publicou nesta quarta-feira, 6, no Diário Oficial o decreto que altera legislação sobre a utilização do cartão de crédito corporativo. O decreto, anunciado no final de janeiro, proíbe os saques em dinheiro com o cartão, exceção apenas para órgãos essenciais da Presidência, Vice-Presidência, Saúde, Fazenda, Polícia Federal e repartições do Ministério das Relações Exteriores no exterior e despesas de caráter sigiloso."

Pergunto:

  1. Quais são os órgãos essenciais da Presidência, Vice-Presidência, Saúde, Fazenda, Polícia Federal e repartições do Ministériodas Relações Exteriores?
  2. O que são despesas de caráter sigiloso? Motel?

terça-feira, fevereiro 05, 2008

AUTO_rico

  • Espero que tenham voltados todos vivos e saudáveis da fuzarca. Não adiantam campanhas, multas, policiamento ostensivo e o escambau colorido, a cada ano o número de mortes, prisões e flagrantes de violência durante o carnaval só aumentam. E pensar que a maioria da população gosta disso. Espírito suicida coletivo? E, o que é pior, financiado pelo estado com dinheiro público. Quem verdadeiramente lucra com a festança (hotéis, companhias de transporte, fábricas de refrigerantes e cervejas, agência de turismo...) não participam do ônus, apenas divide o bônus.

 

  • Quem fez um carnaval silencioso, aprontando das suas por baixo dos panos, foi o MST. Os terroristas rurais provocaram pelo menos duas invasões nesse período.

 

  • Lula voltou a falar sobre a reforma do Código Penal. O projeto de reforma foi aprovado pela Câmara dos Deputados em 2001, ainda no governo de FHC. Enviado para o Senado, porém, teve seu texto modificado, o que obrigou sua volta à Câmara e lá estancou. Segundo especialistas, a melhor mudança no novo texto é no que se refere a prazos e recursos, ambos diminuem, o que agilizaria os julgamentos. As penas para os infratos, todavia não sofrem grandes alterações. A própria OAB, sabe-se lá porquê, não aceitará sem fazer barulho o endurecimento dessas penas. A reforma, se sair, não será exatamente uma reforma, mas apenas uma maquiagem que beneficiará mais a imagem do judiciário do que a população geral que é vítima da violência. Mas, se não é uma grande mudança, já é alguma coisa e, se Lula conseguir fazer com que o legislativo agilize a matéria, será ponto para ele, embora saibamos quanto custa para o país quando o presidente negocia com os parlamentares.

 

  • A Agência Estado Contou 150 cartões corporativos distribuídos pela Preidência da República. 150! Nesse final de semana ficamos sabendo que até os seguranças de Lurian, filha de Lula, tem cartão corporativo, e gastou 55 mil reais, em 2007, em lojas de material de construção, auto peças, ferragens, supermercado e posto de gasolina. Ou seja, estamos dando uma casa para o segurança da Lurian e o cara não teve sequer que fazer financiamento de trinta anos na Caixa. Cliquem no link no início deste parágrafo e leiam a matéria comleta do Estadão.

domingo, fevereiro 03, 2008

glauco

  • Embora previsível, a política brasileira não é nada monótona, a cada semana tem algo novo para nos divertir e indignar. Na última foi a bagunça dos cartões corporativos. A ministra já caiu, coisa que eu havia previsto que aconteceria, afinal de contas essa é a praxis. Quando um ministro comete um deslize como o dela, é exonerado e ganha de prêmio consolação uma secretaria ou cargo do segundo escalão numa prefeitura ou governo estadual. A mídia esquece o que aconteceu e tudo volta ao normal ou as atenções voltam-se para o próximo escândalo. Devolver o dinheiro gasto indevidamente, nem pensar. O ministro dos esportes, mais inteligente que a ministra, fez as contas e concluiu que se mantendo no cargo ganharia muito mais grana e benesses do que os trinta e poucos mil que gastou. Esperto, devolveu a grana e tentará se manter escondidinho até o final do mandato. O da pesca, também sabidinho, pediu que fossem investigados seus gastos antes que a proposta viesse da oposição. Este deve ser jogador de xadrez e sabe que o ataque é a melhor defesa. Vai sair-se bem. Na próxima semana estará tudo esquecido, o Estadão se encarregou de revelar o próximo escândalo.

 

  • O jornal paulista revelou que, pelo menos, dez ministros debitam despesas na conta de assessores. Essa também é uma maneira muito antiga de se esconder os desmandos, afinal de contas, raramente os aspones são fiscalizados pela imprensa (pela máquina governista nem um, nem outro). É sabido e notório que parlamentares fazem isso todo o tempo, tanto em Brasília quanto nos estados e municípios, fora aqueles que ficam com parte do salário dos assessores. No Executivo a coisa parece que não é muito diferente. Vamos ver se acontecerá alguma coisa mais, além do barulho inócuo de sempre.

 

  • Já tem no Congresso 250 matérias prontas para a votação assim que acabar o recesso. Entre os projetos está o do aborto. Essa será uma discussão mais passional e religiosa que racional. Confesso que não tenho uma posição rígida sobre o assunto e até acho que seria muito mais profícuo um plebiscito sobre isso do que foi o do desarmamento. Parece que já estou vendo os padres entrando na Justiça e fazendo greve de fome pedindo a não aprovação do PL, o que quase me faz ficar a favor.

 

  • Quando uma festa popular traz dividendos para o local e aumenta a arrecadação do lugar, é justo que os governos invistam nela. É o caso do carnaval em Recife-Olinda, Salvador e Rio. Mas, via de regra, os governos de pequenas cidades promovem festas para lavar dinheiro, emitir notas frias e beneficiar os amiguinhos do mandatário, além dele mesmo. ACM conquistou os músicos baianos comprando-os. No final da ditadura, ele governador, convocou os artistas, entre eles Caetano e Gil, a quem ele havia ajudado a mandar para o exílio em Londres e que terminaram se tornando seus amiguinhos, comprometeu-se em pagar seus cachês e desde então a coisa tem se repetido, seja quem for o governador ou o prefeito de Salvador. A politica do pão e circo levada à condição de política de estado. No fundo não é tão ruim porque são centenas de milhares de turistas que vêm e deixam uma graninha extra para a cidade e o estado. Vale a pena o investimento. Aí os artistas passam em cima de seus trios elétricos e sempre fazem reverências ao prefeito e ao governador, são os bobos da corte ajoelhando-se diante de seu mecenas. Ontem aconteceu algo engraçado por conta disso. O vocalista da banda Parangolés, em frente ao camarote do prefeito mandou um "alô para meu prefeito Imbassahy". Só que o prefeito é João Henrique e Imbassahy é um  ex-prefeito e virtual adversário de João Henrique nas próximas eleições. Deve ter sido uma cena constrangedora para ambas as partes e  hilariante para quem não tem nada a ver com a zona eleitoral soteropolitana.

 

  • Quantos será que morreram ou morrerão nesses dias? Calma na estrada e no álcool, macacada!

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Casamento Chic

casamento

 

Obrigado Rejane pelo mote

A pequena Argolo estava em polvorosa, a filha caçula da viúva Etelvina iria se casar. Não era mulher rica, mas luxenta. Luxo, aliás, sob sua ótica, significava muito perfume com cheiro acre e por demais adocicado, e muitas cores no vestir, casa sempre limpa e enfeitada, embora o poeirão da rua dificultasse a missão, cortinas espalhafatosas e a comida que fosse possível naquele fim de mundo sobre o fogão de lenha, mesmo que a metade fosse para os porcos e galinhas que criava no quintal quilométrico.

O marido, Galinálvio, morto por ataque cardíaco durante discussão com freguês caloteiro, lhe deixara o armazém e três filhas donzelas e bem apessoadas. Etelvina, ao lado da sepultura, lhe jurara encaminhar as meninas para um bom casamento e vida digna. E assim vinha fazendo. Casara Geldicélia com Ariosto, motorista do prefeito. Fizera as núpcias de Sofildes com Beliastro, bom moço de Mucuri, que tem um restaurante à beira da BR, e agora era a vez de entregar Jemira Solineide nos braços de Fúlvio, rapaz íntegro e trabalhador, operador de trator da fábrica de celulose em Itabatã.

Não foram fáceis esses dezessete anos sem Galinálvio. Cuidar do armazém, comprando e vendendo, e cuidar das meninas, a mais velha com oito anos e a caçula com quatro, educar, alimentar, vestir, curar os machucados e dodóis e ficar de olho para domar suas artes. O adjutório veio de dona Evelândia, rezadeira, parteira e comadre, que lhe ensinara que para acabar com as aprontações das crianças deveria dar-lhes uma peia de sete chibatadas com folhas de espada-de-São-Jorge numa sexta-feira de lua cheia. Dito e feito, depois da surra as meninas ficaram calmas e obedientes, nunca mais viraram bicho e nem deram dor de cabeça.

Sem a ajuda de homem, com os parentes morando longe, as duas filhas casadas e morando em outras cidades e os poucos amigos sem recursos e sem tempo, Etelvina se encarregara sozinha de todos os preparatórios do casamento.

A paróquia local estava sem padre e os párocos de Mucuri, Aimorés, Itabatã, Teixeira de Freitas e Medeiros Neto se recusavam a ir celebrar as núpcias em outra cidade. A festa não poderia ser em outro local se não em Argolo, com padre ou sem padre o casamento aconteceria pertinho de Galinálvio. E a data não poderia ser outra: domingo, onze de agosto, dia dos pais e aniversário de nascimento do marido morto. Nesse dia festivo que prestaria contas de seus bons serviços de mãe e esposa para o primeiro e único homem que tivera.

Padre não queria? Pois então haveria apenas o casamento civil e Jemira Solineide compareceria com os mesmos vestido e véu brancos que Etelvina e as duas primeiras filhas vestiram. Aí também havia um problema: convencer o juiz, do alto de sua arrotada autoridade, a trabalhar no domingo.

Conversou, esbravejou, apelou de joelhos, rogou pragas, mandou presente e pediu bênçãos até que o juiz, o prepotente Adênio, para se ver livre do cerco de Etelvina, cedeu. Faria a cerimônia.

O dia era hoje!

Etelvina morava do outro lado da rua, bem em frente ao fórum. Se o casamento fosse na igreja a noiva chegaria no centenário tílburi enfeitado de flores e puxado por cavalo branco, mas numa distância tão pequena, como fazer uma chegada triunfal? Achou a solução entre a sala e a cozinha de sua própria casa.

Às dez da manhã a pequena população de Argolo, toda pomposa em suas melhores roupas - as mulheres com brilhos e flores no decote, os homens em seus ternos e gravatas pretos usados nos domingos de missa ou culto evangélico – aglomerava-se em frente ao fórum, pouco se importando com o casamento, desejando, na verdade, a feijoada que seria servida no quintal de Etelvina, entre galinhas e porcos, e as fofocas que rolariam no dia seguinte. Um corredor de gente começava na porta da noiva e terminava na porta do fórum.

Etelvina sai na frente, nas mãos a passadeira vermelha de três metros de comprimento que estendeu no chão de piçarra. Vem a noiva, braços dados com o irmão do noivo. Devagar o par cobre aqueles três metros e pára. Etelvina retoma a passadeira e volta a estendê-la à frente da nubente e seu padrinho. Os dois percorrem mais três metros e param, e assim a operação se repete até a porta do fórum, vinte e um metros à frente.

Por muitos e muitos anos a população comentaria sobre a primeira noiva da cidade a pisar num tapete vermelho.