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terça-feira, novembro 22, 2005

Dizem que Deus fez o homem à sua imagem e semelhança.
Dizem que os sentimentos mais nobres o homem guarda na alma.
Dizem que Deus não tem alma.
Devo deduzir que Deus não tem sentimentos nobres?



Deus por um dia

Certo dia Deus deu um faniquito, sabe-se lá por quê, deve estar ficando velho. Procurou um anjo-médico e esse lhe passou um atestado licenciando do trabalho por um dia. O diagnóstico: virose, o que significa que o médico-anjo não sabia extamente de que mal O Senhor sofria.

Depois de bilhões de anos de batente, sem faltar um dia, Deus não sabia como é esse negócio de licença médica, mas sabia que alguém teria que substituí-lo. O mundo não poderia ficar desgovernado esse tempo. Pobre e ingênuo Deus... O mundo está desgovernado há muito tempo. Quem poderia oupar o cargo nas próximas 24 horas? Não havia ninguém à Sua altura.

"Já que o povo da Terra gosta tanto de loteria, vou sortear", pensou Deus. Vendou os olhos, apontou Seu dedo para a Terra e soltou um raio. Eu, que vinha tranqüila, despreocupada e irresponsavelmente caminhando pela rua, recebi aquela descarga bem no alto do cocoruto. Num átmo me senti o sujeito mais poderoso do planeta. O tal raio trouxera implícita a mensagem de que eu estaria no comando do universo pelo próximo dia inteirinho, e aquilo era uma ordem. Peraí! Se eu era Deus, como alguém ousava me dar ordens?

Relevei a revolta inicial, afinal estava realizando um daqueles desejos que qualquer serzinho oriental já imaginou ser digno de.

Por alguns instantes fiquei zonzo com tantas e tantas vozes, nas mais diversas línguas me pedindo coisas, me agradecendo, me maldizendo... Imediatamente entendi porquê a maioria dos pedidos dos mortais não são atendidos. Impossível ouvir alguém direito naquela babel em meus ouvidos.

Podia matar o trabalho naquele dia, a causa era justíssima. Dali mesmo dei meia volta e voltei pra casa. Tranqüilinho na minha cama, descansei uma hora pensando no que fazer. Que obra digna do Divino eu poderia realizar para que o Todo-Poderoso pudesse se orgulhar e marcar a história do universo para todo o sempre? Só um pequeno diazinho... Parecia pouco, mas levando-se em conta que Deus fez tudo isso em apenas sete, claro que em um eu poderia fazer coisa a beça, até mesmo desfazer tudo. É ou não é muito mais fácil derrubar uma casa do que construí-la? Taí! Desfazer tudo!

Na minha segunda hora de "deusado" esterelizei todos os animais terrestres, incluindo os homens e mulheres. Acabou-se de vez aquele papo de "crescei e frutificai". Ficou tudo tão calmo... Nada de berros, urros, miados, trinados irritantes... Desfiz os homens e mulheres logo depois, desfiz as feras, os gados e répteis. Legal! Os maiores criadores de problemas do universo não existiam mais.

Na hora seguinte me dediquei a esterelizar os animais marítimos. Essa bichara provou, no decorrer da história, que só servia para alimentar o corpo e os bolsos dos humanos, não havendo mais humanos não haveria necessidade deles.

Fui ficando cansado com a trabalheira toda realizada em tão pouco tempo, estava precisando dar uma descansadinha, mas não havia tempo. Muita luz, muito calor. Quer saber? Apaguei o Sol, a Lua e as Estrelas. Parei com esse negócio de noite e dia, mês e ano.

Só que não sou morcego. Nos primeiros passos naquela escuridão dei de cara numa árvore. Ficou um enorme galo divino na minha testa e doeu pra burro! É eu podia falar isso que os burros não existiam mais, não poderiam se ofender. Mas árvores haviam e estavam me machucando. Dediquei uma hora a desfazê-las, todas, desmatando mais que madeireiro capixaba. Limpei o planeta de tudo quanto é tipo de árvore.

Legal, o ambiente estava ficando ideal. Sem barulho, sem gente chata, sem calor, sem frio, sem choro de crianças, sem eco-xiitas, sem políticos safados, sem animais perigosos, sem árvore no meio do caminho... Ploft! Em minhas divagações, enfiei o pé numa poça de lama. Sabia que havia esquecido alguma coisa, a água!

Mais uma hora de serviço. Passei esse tempinho passando rodo e pano em toda a superfície, retirando toda a água. Descriei a água.

Fiquei em pé, sozinho sobre uma bola de areia enorme, sem qualquer utilidade. Então pra quê ficar com aquele monstrengo atrapalhando o trânsito. Quer saber? Desfiz a Terra.

Sem ninguém em que mandar, nada a gerenciar, não havia qualquer coisa para Deus fazer. Bem que eu poderia me desfazer também, mas dizem que esse negócio de suicídio leva a gente pro inferno. Sei lá se aquele ambiente é aquele horror todo que dizem... Melhor não arriscar.

Procurei um cantinho confortável no Éter, me recostei e resolvi descansar mais um pouquinho. Me restavam dezessete horas de "deusado" e não havia nada o que fazer. Não havia gente em quem mandar ou amedrontar, nenhum elemento a gerenciar, terremoto, maremoto ou qualquer outro flagelo pra criar... O ócio era o que me restava. Dezessete horas de ócio nada criativo.

Caí no sono e só acordei sete dias e dezessete horas depois e estava tudo do jeitinho que estava antes do raio divino me atingir. Acho que o Senhor não gostou nadinha da minha "desobra".




Isso aí de cima faz parte do concurso interno da comunidade Blogueiros Malditos, do Orkut.

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