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quinta-feira, novembro 24, 2005

O que é um claviculário?



Um Funil Estreito

Com a reforma educacional de 1972, promovida pelo então ministro Jarbas Passarinho, o sistema de vestibular como processo de seleção de estudantes para o terceiro grau foi definitivamente instaurado no Brasil. As justificativas eram simples e plenamente aceitas na época. O número de universidades públicas era pequeno; os cursos oferecidos nessas poucas universidades também eram poucos; o vestibular serviria para premiar por mérito, só permitindo a entrada na universidade pública dos melhores alunos. Isso teoricamente, uma vez que era comum o uso de "pistolões" para se conseguir uma vaga. Só mais tarde essa prática tornou-se crime federal.

Nesses 33 anos aumentou a quantidade de universidades federais e estaduais, surgiram até algumas universidades municipais. Com o aumento dessas escolas veio a maior diversificação de cursos de graduação, pós-graduação e especializações. Obviamente, aumentou consideravelmente o número de vagas a serem preenchidas.

Por um bom tempo entrar na universidade era coisa para a elite econômica, uma vez que, logo após a instauração do vestibular, surgiram os cursinhos preparatórios, caros para a maioria dos estudantes. Fortunas, até mesmo impérios educacionais, surgiram a partir desses cursinhos. Paralelamente houve um empobrecimento da qualidade de ensino nos primeiro e segundo graus nas escolas públicas, salvo raríssimas excessões. Os melhores professores iam para as escolas particulares, onde recebiam salários muitas vezes maiores que nas estaduais, federais e municipais, e para os cursinhos. O acesso ao ensino fundamental foi crescendo paulatina e vagarosamente, a começar pelos grandes centros, o que tornava a concorrência cada vez mais acirrada.

Alguns cursos, por conta do status social tinham procura assustadoramente grande, como medicina, odontologia e engenharia, essa por conta das grandes obras que o governo dos generais promovia durante o "milagre brasileiro", e economia, incentivado pelo crescimento recorde que o país promoveu nesse período, tendo Delfim Neto sendo definido como o "super ministro" pela imprensa.

Com o aumento da população e, lógico, maior número de alunos concludentes do ensino médio, o boom dos cursinhos e escolas particulares país afora e o não aumento proporcional de vagas oferecidas nas universidades públicas, permitiram que o ambiente ficasse propício para a explosão em grande escala das universidades particulares. Daí surgiram verdadeiras fábricas de diplomas.

Evidentemente existem faculdades privadas de ótima qualidade, com excelente quadro de professores, diversos doutores, laboratórios e bibliotecas bem equipados, mas existem, em maior quantidade, aquelas que formam seus alunos "nas coxas". O sujeito pega seu canudo, mas não é páreo na hora de concorrer a um cargo por concurso e nem é o primeiro a ser selecionado para um emprego mais bem remunerado.

Tornou-se a salvação para os estudantes com algum poder aquisitivo que não conseguiam uma cadeira nas estaduais e federais, por falta de preparo ou de sorte.

Ao invés de exigir a melhora do ensino médio nas esolas mantidas pelos governos, de aumentar a quantidade de vagas nas universidades públicas, abrir mais escolas de terceiro grau, o governo FHC propôs o sistema de cotas para negros, índios, pobres e oriundos do sistema público de ensino. Fez a proposta e saiu de fininho, deixando a batata quente nas mãos do governo Lula.

Os cursos da moda ainda existem, mas moda passa, acaba na próxima estação, o que faz com que a desistência do alunado aprovado seja muito acima do aceitável. O sistema de cotas nas poucas escolas que as adotaram como norma, também gera uma desistência que poderia ser prevista pelo Ministério da Educação. O jovem passa para odontologia, por exemplo, por ser oriundo de escola pública, mas, dificilmente, terminará o curso por dois motivos principais: 1. Não tinha o conhecimento elementar de química e biologia, matéria base do curso. Após os primeiros fracassos, desistem; 2. Mesmo em universidades públicas é um curso caro, muito caro. São essenciais livros e equipamentos, muitos deles importados, que chegam a custar o que a família inteira do estudante gasta de transporte por mês.

Muito se critica o sistema de admissão por vestibulares, mas não se apresentou nenhuma alternativa mais democrática e justa que ele. O sistema de cotas poderá causar sérios danos dentro de 10, 15 anos depois de serem adotados em todas as universidades públicas. A discriminação contra os cotistas já existe no ambiente acadêmico. Cursos onde o número de formados é apenas um pequeno percentual dos que entraram, principalmente os de engenharia, matemática e física, terão um número ainda menor de profissionais jogados no mercado, o que causará uma carência enorme desses profissionais.

É uma tortura para os competidores? É. É desgastante financeira e emocionalmente para suas famílias? É. Mas não há saída, pelo menos a médio prazo. O que lhes resta? Cabeça fria e dedicação aos estudos. O resto fica por conta da sorte.

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