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segunda-feira, novembro 14, 2005

Respeito é bom? Não sei, nunca comi.



Adolescência e Inconseqüência

Adolescentes rimam com inconseqüência, estão sempre à disposição de uma zoação, de uma alegria qualquer, seja lá no que der depois. Curioso como agem como se "o mundo fosse acabar à meia noite" enquanto os idosos estão sempre sonhando com o amanhã.

Quando se juntam mais de dois dispostos a uma diversão qualquer, imprevisível o resultado, mas haverá sempre uma vítima em potencial.

Zé, Amadeu e Ariston, inseparáveis amigos, aprontavam mil e uma, mas, garotos bem educados, não se metiam em confusão, não provocavam vítimas, não causavam danos à coisa pública ou alheia.. Divertiam-se entre si, mesmo que a vizinhança se incomodasse, eram suas próprias vítimas. Colegas de classe na escola, nos finais de semana reuniam-se para estudar, daí as notas excelentes para a incompreensão dos colegas e dos professores. Como aquele tri que vivia aprontando, gazeava aula, era constatemente expulso das aulas, poderia ter aquelas notas? Como poderiam ser os melhores da turma?

Suas atitudes e notas causavam inveja, desprezo, admiração e paixões, eram os líderes naturais. Quando algo sério atrapalhava a relação entre professores e alunos ou entre esses e a admnistração, sempre tomavam a frente do movimento, negociavam em nome dos colegas, mesmo sem terem sido eleitos para isso. Bons em argumentos, quase nunca perdiam uma questão e suas argumentações eram acatadas por todos os discentes.

Os professores, mesmo os que se enciumavam por verem o trio mais importante do que eles na admiração dos alunos, os respeitava. Sabiam que se o desafiasse fora dos problemas e questões propostos, teriam problemas em dar suas aulas. Um professor, porém, os tinha como xodós e a recíproca era verdadeira, Alfredo, Fred para o trio, mestre em literatura.

Gordinho, baixinho, com gestos efeminados, sempre vestindo calças de tergal e camisas de algodão muito coloridas e espalhafatosas, nada disso chamava mais a atenção para figura yão única do que sua peruca. Beirando os sessenta anos, Fred não dava-se ao trabalho de atualizar seu ornamento capilar sintético para que esse combinasse com os fios brancos naturais que apareciam na faixa inferior do couro cabeludo. Por ser um senhor respeitável, ninguém ousava fazer piada sobre isso com o mestre, mas pelas costas era motivo de gozações.

Ariston, aquele que tinha que ser contido por sempre desejar uma aventura mais perigosa,, não podia evitar pensamentos cruéis sobre aquela peruca.

No último dia de aula do último ano deles na escola, resultados da aprovação nas mãos, mais uma etapa concluída, professores e alunos no pátio em confraternização, lágrimas, sorrisos, abraços e despedidas. Ariston, coração acelerado e pernas trêmulas, aproxima-se por trás do mestre Alfredo, arranca-lhe a peruca e atira para o alto como um capelo.

Ali acabou-se a festa com o grito estridente, feminino, desesperado de Fred, o olhar de pena de todos para o professor, de ódio e reprovação para Ariston que, depois de anos como ídolo, fizera, enfim, uma vítima com suas brincadeiras.

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