Quando quiseram fazer o tombamento de Jericoaquara os nativos se rebelaram. Com o tombamento, tudo deveria continuar como estava. Moradias eram taperas, não havia e nem haveria energia elétrica, rede de esgotos, pavimentação das ruas, construções em alvenaria, enfim, esses confortos da vida moderna.
Com razão, os moradores apelaram. Por que haveriam eles de viver no século 19 enquanto todo o mundo caminhava a passos largos para o século 21? Isso ocorreu nos anos '80. O tombamento foi feito, mas com concessões. Hoje o que se vê é uma desorganização generalizada, uma verdadeira bagunça urbana. A vila de pescadores cresceu desordenadamente, como cresciam os povoados do século 19, ruas viraram vielas por serem estranguladas pelas construções que as invadem. Pousadas e restaurantes são erguidos de qualquer jeito, a especulação imobiliária supervalorizou as terras, impedindo que os nativos consigam terrenos sequer para suas residências, por não terem como enfrentar o capital europeu que explora aquelas praias. A Europa comprou um pedaço do litoral cearense.
Não existe fiscalização do Ibama, como de resto não existe no restante do Brasil. O Estado brasileiro se intromete em tudo e não tem capacidade de gerir aquilo de que se apossa.
Vejo algo parecido acontecer na Amazônia hoje. Organismos internacionais reportam que a soja plantada em Santarém e vendida para a Cargil, que é a maior fornecedora do McDonald's, explora mão de obra escrava, não respeita o meio ambiente com o uso de agrotóxicos pesados e derubando a floresta para o plantio de grãos. Logo surgem as ONGs de todo o mundo pedindo a proibição da agricultura naqueles rincões.
Num dos lugares mais pobres do país, quando surgem ocupações para os nativos conseguirem emprego e renda, os radicais pedem a expulsão da indústria sem propor alternativas para empregar aquele povo, ajudando-o a sair da miséria. Para quem não conhece a Amazônia, o amazônida deve viver de peixe e frutas silvestres, que se mantenham excluídos do progresso, é mais romântico, bucólico e atraente para os turistas estrangeiros que adorariam visitar povos rústicos vivendo em toda sua rusticidade.
Enquanto isso, no mesmo Pará, os madereiros que destruíram a Mata Atlântica na Bahia e no Espírito Santo, praticam seus desmandos, comprando guias falsas de funcionários do Ibama para explorarem a florestas, escravizam mão de obra, grilam terras e só são notícia uma vez por ano quando aparecem no Jornal Nacional.
No Acre, outro canto esquecido do Brasil, pobre e mais empobrecido com a derrocada dos seringais, depois que a África passou a produzir borracha em maior quantidade e mais barato, há anos a construção de uma hidrelétrica no Rio Madeira estanca nos diversos recursos impetrados por ambientalistas. Numa terra cheia de rios, não se pode gerar hidroenergia. Alegam que a usina impediria a reprodução de um bagre, mesmo depois de ser projetado um canal paralelo que permitiria que o peixe subisse o rio em época de reprodução e que o lago formado destruiria terras até a Bolívia, mesmo os estudos técnicos da companhia mostrarem o contrário. Existem alternativas, o que falta é boa vontade.
Paralelamente a essa discussão, a Petrobrás encontra uma reserva de petróleo, rica em gás, no mesmo rio, mas está sendo impedida de fazer a prospecção por conta de dezenas de ações judiciais impetradas pelas mesmas ONGs. Ou seja, no lugar há energia de sobra, mas não se pode explorar nem a hridro e nem a mineral.
O petóleo ainda é a maior riqueza mundial, essencial para que o mundo gire e sua exploração causa bem menos danos ambientais do que a construção de uma hidrelétrica ou a derrubada da mata para se fazer pastos ou plantar grãos ou cana. A população é apenas um detalhe. Que pesque seus peixes e coma suas pupunhas e viva no bucolismo de dois séculos passados.
Não vejo nenhum movimento ecologista tentando a proibição da extração de petróleo na Bacia de Campos. Talvez por ser um sítio mais exposto para o restante do Brasil, talvez por estar na costa fluminense, segundo estado mais rico, talvez por a Marinha gerir os negócios e não largar o osso desde os tempos de Getúlio.
No meio da discussão, ainda aparecem uns imbecis defendendo a tese de Evo Morales que o Brasil deveria devolver o Acre aos bolivianos. Engraçado, metem o malho no governo federal por se sujeitar às exigências bolivianos no tocante ao gás natural, mas defendem a tese de que devemos entregar parte do noso gás para o mesmo país; engraçado esses brasileiros criticarem o governo pela pobreza nacional, pelo crescimento pífio do nosso PIB, mas defendem a tese de que nossas riquezas devam continuar em baixo da terra, independentemente da pobreza do povo que vive nas mesmas terras dessas riquezas. Dizem estar defendendo o país de prováveis desastres ambientais, ou seja, alegam, como justificativa, algo que não acontece no Brasil há mais de uma década, com o grande vazamento de óleo ocorrido no litoral do Rio de Janeiro.
A meu ver, o petróleo deveria, sim, ser explorado no Acre. O que não se pode deixar de haver, é firme, séria e competente fiscalização das ações da Petrobrás. O resto é papo de xiita.
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