Não lembro de minha primeira viagem, era bebê ainda. Antes da minha primeira viagem de verdade, lembro de uma viagenzinha, atravessando o Rio Madeira-Mamoré, saindo de Guajará-Mirim numa voadeira e indo para Guayaramerim-Beny, na Bolívia, onde minha mãe faria consulta em um médico e me levou para passear.
Aos dez, minha primeira viagem de avião, num Caravelle da Cruzeiro do Sul, com conexões de alguns dias em Belém e em Fortaleza, rumo a Maceió, onde moraríamos por três anos.
Numas férias escolares um amigo de meu pai, que passou alguns dias em nossa casa, me convidou para passar uns dias com ele em João Pessoa, cidade que adorei.
Nessa época eu me admirava que coleguinhas da minha idade jamais tivessem saído de sua terra. Na minha curta vida já havia conhecido cidades em cinco estados e uma no exterior. Lógico que eu não tinha noção de quanto se gasta para viajar, não tinha a noção exata da pobreza nacional e muito menos noção do tamanho do mundo. Olhar um mapa mundi no atlas da escola nos dá a impressão que é tudo tão pertinho, a Terra é apenas uma bolinha planificada no papel. Além do mais, eu estava em Alagoas, onde o povo viaja pouco. Veja entre seus amigos e me corrija se estiver errado: raros são seus amigos alagoanos. Cearenses, gaúchos e mineiros você encontra em qualquer lugar do país, talvez sejam os que mais viagem, mas alagoanos são raros.
Por conta da profissão do meu pai, mudamos muito de cidades e estados. Mesmo tendo que me desfazer das amizades e dos lugares com que sempre me afeiçoei com facilidade, cada mudança era uma alegria, eram mais conhecimentos, mais cultura e mais abertura para meu universo.
Essas viagens de infância e adolescência criaram em mim um prazer enorme em conhecer sabores, costumes e sotaques. Adoro os linguajares locais, as comidas típicas e étnicas. Tenho lá meus preconceitos, óbvio, mas nenhum relativo a culturas locais e me irrito com quem os tem.
É comum encontrar alguém de visita a um lugar novo reclamar de tudo, do clima, da aparência física das pessoas, do modo de falar, das comidas... Como entender que você saia de seu lugar, atravesse fronteiras e tente encontrar, longe de casa, as mesmas coisas que tinha antes? Não gosta de coisas, pessoas e culturas novas? Fique em casa, oras bolas.
Já adulto, e sem medo de novidades, vim parar na Bahia, onde ninguém da família havia estado antes. Nem mesmo meu pai, que vivia sendo transferido. Fiz aqui o meu lugar. Daqui já rodei outros e outros lugares, dentro do estado ou em outros onde ainda não havia ido. Me faltam os três estados do Sul, mas como sou imorrível, ainda terei muito tempo para conhecer.
A melhor viagem? Sempre a última. E no meu caso foi ao Rio Grande do Norte, de Natal a Mossoró conheci praias, salinas, serras e sertão. Paisagens lindas, sotaque lindo, comidas deliciosas.
A segunda melhor viagem? A próxima. Para onde? Não sei. Só sei que só será a segunda melhor até eu ir, daí ela passará a ser a melhor.
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Esse post é minha colaboração ao post coletivo proposto pela Micha.
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