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sexta-feira, maio 04, 2007

Organização


Imagem daqui.




O post da Úrsula me deu a idéia desse meu.

Não é a pimeira vez que ouço alguém falar que o brasileiro é alienado e passivo, aliás, ouço isso desde menino, mesmo com luta armada defendendo, mais que o fim da ditadura militar, a ditadura do proletariado, guerrilha do Araguaia, marcha de um milhão, TFP e o escambau colorido.

Mesmo quando eu e alguns amigos, no escuro da madrugada, saíamos pichando muros pedindo diretas já, esculhambando o governador e os governos, pedindo o fim do bipartidarismo ou apenas sacaneando com "quem ama não mata, trepa!".

Ouvi isso quando milhares de velhinhas de Taubaté encararam os donos de supermercados para evitarem a remarcação de preços, que aconteciam duas, três vezes ao dia.

Eu mesmo repeti essa ladainha quando subi em palanque para cobrar dos vereadores medidas mais efetivas e menos fisiológicas na defesa dos interesses da coletividade, o que me custou um quase processo que foi engavetado porque alguém convenceu os edis que eu não mentira e provavelmente não perderia a causa.

De tanto ouvir e repetir isso, quase me convenço que é verdade. Hoje penso de outra maneira. Se eu conversar com o vendedor de abóboras na feira, às seis da manhã, ele, mesmo sem aprofundamento teórico, vai me contar exatamente o que estou vendo nos jornais. Meu carteiro tem opinião formada e argumentos para defender a diminuição da maioridade penal. A minha diarista pode me fazer um discurso inflamado sobre a vergonha que é a troca de partidos de um parlamentar eleito. Meu aluno de 14 anos sabe exatamente o que pode ser feito para evitar a monocultura do eucalipto em nossa região.

O brasileiro não é alienado, nem desinformado, ele é disperso e incrédulo. Foi ensinado aos seus pais, e para eles por extensão, que quem toma as decisões do país são os fuzis - para seus pais, os fuzis dos militares; para ele, os fuzis dos marginais -, os ricos, os patrões, os poderosos... E todos esses, os militares, os políticos, os banqueiros, os bancários, os jogadores de futebol, os bicheiros, os comerciantes, os comerciários, os professores, advogados, os juízes, policiais, fonoaudiólogos, cardiologistas, garis... Tods têm uma associação, clube, câmara, sindicato ou seja que que agremiação for, para defender seus interesses. O cidadão, o sujeito que porta apenas uma carteira de identidade, não tem.

Quem deveria defender seus interesses, não o faz. Primeiro o corporativismo da classe, depois a coletividade. Isso quando não coloca seus próprios intereeses pessoais adiante dos outros dois.

Os parlamentares e governantes são eleitos para nos representarem, mas não o fazem. Representam lobbies, a exemplo dos parlamentares catarinenses presos essa semana que vendiam leis para permitirem empreendimentos privados em áreas de preservação ambienal. Isso faz com que o brasileiro comum sinta-se sem respaldo, sem ter a quem recorrer senão ao bispo, que também pões os interesses da igreja antes dos da comunidade sob risco de punição - Frei Leonardo Boff e D. Pedro Casaldáliga que o digam - ou ao amigo inconformado como ele na mesa do boteco.

Senta-se na cadeira do barbeiro e mostra tudo o que sabe, o que gostaria que fosse feito, quem são os culpados. O próprio barbeiro também sabe tudo isso e tem lá seus argumentos concordando ou não com o cliente inconformado. Mas discutem, trocam informações, mostram que acompanham o que se passa a seu redor.

O brasileiro não é alienado e nem passivo, é apenas desorganizado. O efeito é o mesmo, concordo, mas as coisas não o são.


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