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sábado, junho 30, 2007

Sirley e Rita


Foto de Simone Marinho, O Globo, RJ


Sirley Dias de Carvalho, 32 anos, profissão: doméstica, usa o transporte coletivo, na espera em ponto de ônibus na madrugada, no Rio de Janeiro. Viu-se, de repente,em plena floresta de pedra, atacada por animais selvagens que lhe fraturaram o rosto, quebraram o braço, parecendo famintos de carne fresca e humana. Se não conseguiram comer-lhe as víceras, de fato, deixaram-lhe as marcas vicerais da dor e da desumanidade.

Rita Lee, 60 anos, compositora e cantora, usa a inteligência para defender as mulheres e outros grupos discriminados socialmente, transporta-nos para a via da sensibilidade consciente. A roqueira-síntese de Sampa, ou de qualquer cidade grande, não estava errada. "Mulher é bicho esquisito, todo mês sangra". E mais: "Sexo frágil, não foge à luta".

Sirley não fugiu, foi espancada, desrespeitada, massacrada, eram seis, era um bando, todos jovens, talvez drogados, talvez nem sejam humanos. Sirley teve sorte. Mais do que o índio Galdino, mais do que outros seres, mulheres, prostitutas, homossexuais, também agredidos.

Eles agem, geralmente, em gangues com algumas características perceptíveis, como, por exemplo, vidas de nível mais elevado que a maioria faminta da população braileira. Ou, melhor índice de escolaridade também. Sirley pôs seu rosto marcado, roxo e inchado, bem na tela da televisão, não se envergonhou de contar sobre os socos, pontapés, xingamentos, sobre as atrocidades que sofreu, porque ela acredita que tais jovens devam pagar pelo que lhe fizeram.

Chegou a dizer que os perdoa; a magoasa Sirley é nobre, fina flor, é requintada em gestos de grandeza. Talvez Sirley seja carinhosademais com a família, os amigos, os patrões, os vizinhos. Talvez ela nem sonhasse que lindos rapazes de boas casas, com "pinta" de atores de novela televisiva, aparentemente exercendo o direito de aproveitar sua juventude sadia com festas, alegria e muita música, um dia, no auge da insanidade, lhe fizessem sentir-se como um trapo.

Rita Lee, em recente depoimento, delarou que "só as mulheres podem desarmar a sociedade, são as mulheres que irão dar um adeus às armas, quando forem ouvidas e valorizadas".

Sirley e Rita, dois grandes corações femininos, inundados de amor e esperança, embora partidos, inúmeras vezes, pela constatação pútrida de que a barbárie é aqui e agora. Elas sonham que os senhores policais, investigadores, desembargadores, autoridades constituídas de todos os poderes, providenciem o adestramento e a domestificação dos indivíduos de qualquer sexo ou idade que tenham se contaminado com o pregão "odiai-vos uns aos outros" e perdido o elo que os ligaria à civilização.

Elas devem imaginar que os pais e mães que honram sua missão passem aos filhos e filhas o segredo do elo perdido e reencontrem, sob a tutela das próprias almas feridas e fracassadas, um caminho de volta ao verdadeiro sentido e pôr no mundo um ser humano, na acepção da palavra.

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Raramente posto ago que não seja meu, mas esse texto de Aparecida Torneros, publicado no jornal A Tarde, de Salvador, merece, seria algo que eu escreveria, mas sem a mesma sensibilidade e profundidade.

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Obrigado, Chris, por sua indicação do S&E para uma das 7 Maravilhas da Blogosfera. Genrosidade sua.

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